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sexta-feira, 26 de junho de 2020

«Jorge Mendes perguntou-me onde queria jogar. Dois dias depois assinei pelo Benfica»

"“É para falar sobre o quê?”, perguntou. “Futebol de A a Z”, respondemos. Não mentimos, ainda que nos tenha faltado uma ou outra letra. André Pinto, Benfica, Capdevila, David Luiz, Emerson, Fábio Coentrão, Gaitán, Hulk, Jesus, Luisão, Mendes, Nuno Gomes, Peter Canyon, Quarto do Aimar, Rio Ave, Sampdoria, Tarantini, Vítor Pereira, Zé Gomes. Em exclusivo para o Bola na Rede, eis Fábio Faria.

– Filho de peixe sabe nadar –

“Coentrão dizia que eu ia ser um craque” Natural de Vila do Conde, passaste a tua infância nas Caxinas. Se tivesses feito o 7-1 de livre direto naquele Padroense x Rio Ave, qual era a probabilidade de nunca mais por lá apareceres?
[risos] Era um jogo de tudo ou nada para o Rio Ave, porque para subirem de divisão tinham de nos ganhar por uma diferença de sete golos, uma vez que estavam em igualdade pontual com o então segundo classificado, mas com uma diferença de seis golos negativos. Recordo-me de que os seus adversários directos acabaram o respectivo jogo cinco minutos mais cedo e o Rio Ave precisava de mais um golo para ficar em primeiro; conseguiram-no, mas no último minuto houve um livre a nosso favor e era eu o encarregado de marcá-lo. Quando vou para bater a bola, o Fábio [Coentrão] – que já tinha aquele feitio que todos conhecem, aquela raça, aquela vontade de ganhar sempre – chegou ao pé de mim e ameaçou-me, mas é algo normal no futebol, onde fazemos tudo para poder ajudar o nosso clube. Por acaso a bola foi ao lado, mas se entrasse ia ser complicado para mim, ainda por cima sendo eu da terra. Curiosamente, no ano seguinte, sou dispensado pelo FC Porto e vou para o Rio Ave.

Onde voltas a encontrá-lo, desta feita como colega.
Exactamente. Se hoje já não somos colegas no futebol, somo-lo no pádel: todos os dias me liga para irmos jogar e mantemos uma amizade desde esses tempos. Já agora, conto-te o início da nossa relação.

O palco é teu.
O Fábio já me conhecia dos dois jogos contra o Padroense, em que as coisas me tinham corrido bem. Quando os directores do Rio Ave souberam que fui dispensado, ligaram-me para ir fazer captações e fiquei logo; como vinha do FC Porto, era normal. No meu primeiro ano de juvenil no clube, o campeonato correu-me tão bem que subi directamente para os juniores, onde o reencontrei – apesar de já treinar com os seniores, vinha jogar por nós – e comecei a destacar-me: era sempre o segundo melhor jogador da equipa, só atrás dele; limpava tudo lá atrás e foi nessa altura que ele começou a ficar com uma boa impressão minha. No final da época, assinei contrato profissional com o Rio Ave, comecei a treinar na equipa principal e lembro-me de, logo a seguir, ir escolher o número para a camisola: o 23 de Michael Jordan, o meu ídolo. A partir daí andava sempre com o Fábio e lembro-me de ele dizer aos colegas que eu ia ser um craque e que se fosse bem trabalhado podia ser um grande central. Sempre me deu muita moral e temos uma relação forte até hoje.

Oriundo de um núcleo piscatório, filho de peixe tem de saber nadar. Qual a influência do teu pai, Chico Faria, no caminho que escolheste?
Nenhuma. Toda a gente dizia que ele era um craque, mas que não queria nada com aquilo: que era um preguiçoso, nunca treinava e só queria jogar. O meu pai, apesar de ter feito o seu percurso quase todo na Primeira Liga e ter ganho uma Taça de Portugal, acabou a carreira de uma forma que não gostou: com salários em atraso. Como ficou magoado com o futebol, fez tudo para que eu não passasse pelo mesmo: meteu-me a jogar basquetebol aos cinco anos – e joguei até aos 12 -, mas quis o destino que a minha vida passasse pelo futebol. Ele só começou a olhar verdadeiramente para a minha carreira quando assinei contrato profissional com o Rio Ave; até então não me dava moral e dizia-me “Não jogas nada. Dedica-te mas é aos estudos”. A partir dessa altura começou a dar-me conselhos e a ser mais presente, apesar de sempre ter ido ver os jogos todos. Desde então foi sempre o meu braço direito.

O teu pai que, como tu, é um fervoroso adepto do Benfica. É verdade que choraste quando ele foi a Vigo?
É verdade. Eu era doente pelo Benfica desde pequenino e era para ter ido com ele, mas à última da hora não conseguiu arranjar bilhete para mim e foi com amigos. Recordo-me de ver o jogo em casa e o Benfica perder 7-0; chorei tanto (…) porque sabia que no dia a seguir, na escola, ia ser gozado. 

Tens 1,90m e aos olhos dele continuas a ser o “baixinho”.
Sim, é uma alcunha pela qual ele sempre me chamou e, curiosamente, um dos meus melhores amigos, o André Pinto, também me trata por esse nome, apesar de só ter mais um ou dois centímetros; a ele o meu pai chama-o “fraquinho”, porque nós fizemos a formação juntos no FC Porto e andávamos sempre um com o outro. É uma forma carinhosa de me tratarem. Outro gesto terno era uma forma muito especial de me chamar através de um assobio: quando eu jogava, e ele via que as coisas não estavam a correr bem, bastava-lhe dar aquele assobio, que eu olhava para ele, concentrava-me e as coisas começavam a correr melhor. Os meus pais foram sempre pessoas importantes: a minha mãe mais galinha, o meu pai mais distante, mas sempre presentes.

Menos amor havia nos treinos do FC Porto se alguém levasse calções vermelhos.
Isso foi quando fui às captações! O meu pai tinha uma escolinha de futebol e o equipamento eram as cores de Vila do Conde: camisola amarela e calções vermelhos. Como joguei basquetebol durante sete anos, só tinha calções dessa modalidade, então levei os vermelhos da escolinha do meu pai e uma camisola branca para não ir todo de vermelho; só que estas eram as cores do Benfica! Mas não fui numa de provocar, nem de chamar a atenção. Quando ia a entrar para o campo, um director chamou-me logo “Ó, onde é que vais com esses calções?”. “São os únicos calções que tenho”, disse-lhe. “Não, não, não! Vai ali falar com o roupeiro; se não tiver outros calções não podes treinar”. Foi aí que percebi que a mística do FC Porto é transmitida logo desde pequenino. Lembro-me que, mais tarde, o meu pai ofereceu-me no Natal umas Predator todas vermelhas, iguais às do Simão Sabrosa, e quando volto aos treinos, cheio de estilo com umas botas novas, não me deixaram treinar e tive de pintá-las de preto.

O roupeiro foi teu amigo.
Arranjou-me uns calções azuis e lá fui treinar, muito envergonhado porque nunca tinha jogado futebol e só sabia o básico. Era muito maior em relação aos outros – eu e o André Pinto – e essa semana correu-me lindamente, porque apesar de tacticamente andar perdido em campo, tinha qualidade técnica. O treinador achou que podia evoluir, gostou da minha altura e decidiram assinar comigo.

Qual é o processo de alguém que começa a formação a extremo-esquerdo e se afirma como defesa? 
Foi muito difícil. Comecei a extremo-esquerdo, fui baixando para “10”, depois meio-campo, mas nunca fui defesa. No meu primeiro ano de Padroense – o FC Porto utilizava este clube para ter duas equipas a competir na Nacional e para estarmos mais preparados quando voltássemos – o lateral-esquerdo foi chamado à equipa principal do FC Porto e o treinador meteu-me nessa posição; como era esquerdino… fiz uma época muito boa, fui o melhor marcador da equipa. Apesar disto, fui dispensado e vou para o Rio Ave para jogar a ponta-de-lança. Passados dois ou três dias, vamos fazer um jogo de treino e o treinador foi falar comigo e disse-me que ia jogar a central. Fiquei com uma azia… então todo cego, todo maluco, fiz tudo para que as coisas corressem mal, sabes? Mas tudo me saía bem: queria dar cuecas dentro da área e saíam-me bem, tudo me saiu bem. No final do jogo o treinador disse-me “Fábio, não gostei daquelas coisas que andaste a fazer, mas acho que se fores bem trabalhadinho podes ganhar muito dinheiro naquela posição”. E eu “Mister, desculpa lá, mas a central não quero jogar. Se não jogar a ponta-de-lança, não jogo em mais lado nenhum” e ele ficou doente comigo. Cheguei a casa e disse “Mãe, não quero jogar mais futebol” e estive uma semana sem treinar. Até que o treinador ligou à minha mãe, fomos a uma reunião no Rio Ave e a minha mãe gostou da forma como o treinador explicou a sua opção e fez-me um ultimato “Fábio, ou jogas a defesa-central ou não jogas mais futebol e é só escola”. Entretanto, as coisas começaram a correr bem, fui chamado à Selecção Nacional passados apenas dois meses, comecei e treinar com os juniores e foi tudo muito rápido. Quando assino contrato profissional com o Rio Ave, aparece uma proposta do FC Porto para voltar – achavam que tinham cometido um erro, não sabiam que ia evoluir tão rápido -, mas não aceitei, preferi ficar em Vila do Conde e o resto é história.

Nas camadas jovens cruzas-te com o já falado André Pinto, mas também com Candeias, Ukra ou Wilson Eduardo. Tens alguma história com algum destes que possas partilhar?
Nós dávamo-nos muito bem, fazíamos muitas asneiras, mas histórias (…) lembro-me de que, quando estava no segundo ano de iniciados no FC Porto, o nosso treinador era o Vítor Pereira.

Como foi ser orientado pelo mister Vítor Pereira?
Adorei! Tinha uma personalidade muito vincada e era um treinador muito exigente, que inclusive me mandou a mim e ao André Pinto para a equipa B, porque achava que nós éramos altos, mas não tínhamos estilo nenhum de jogadores – até foi um bocado mau, porque o André tinha rejeitado uma proposta para ir para o Sporting -, mas passado uma semana chamou-nos de volta e fizemos o campeonato inteiro a titulares. Guardo muito boas memórias do mister. Queres saber uma curiosidade?

Chuta.
O ídolo do Vítor Pereira era o meu pai. Como o mister é de Espinho e o meu pai jogou lá durante dois anos, ele dizia-me muitas vezes “O teu pai é o meu ídolo! Adorava vê-lo jogar!”. Começámos a ter uma amizade, porque ele tinha uma relação muito boa com os jogadores. Tinha quase a certeza de que ele ia conseguir singrar no futebol.

– Da Ribeira até à Foz – 
“Quando saio do elevador estou no escritório do Luís Filipe Vieira”

Estreias-te pela equipa principal do Rio Ave por pressão de Jorge Mendes?
Certo. Como já disse, assinei o primeiro contrato profissional com 16 anos e estreei-me pouco tempo depois, num jogo para a Taça, em que ganhámos 2-1 e até marquei na própria baliza. Apesar do autogolo, o jogo correu-me muito bem, mas sabia que estava a jogar porque o Rio Ave estava a passar uma situação muito difícil – estávamos com ordenados em atraso. “Se querem dinheiro, têm de pôr o Fábio Faria a jogar”, disse o Jorge Mendes à direção do clube. Entretanto surgiu a oportunidade de ir treinar ao Chelsea de José Mourinho, mas foi numa semana complicada porque iam jogar a meia-final da Champions com o Liverpool e acabaram por ser eliminados. Ainda assim tive oportunidade de fazer dois treinos com a equipa principal que me correram muito bem; o Mourinho, que tinha sido colega do meu pai no Rio Ave falou-me dele, perguntou-me como estava a família e acabou por dizer-me que já me conhecia, que o Jorge [Mendes] já lhe tinha falado de mim, mas depois de estar comigo ficou ainda mais bem impressionado e que as coisas podiam dar certo. O Jorge Mendes também me disse que a transferência estava bem encaminhada, só que o Mourinho no final da época foi embora e a mudança não se concretizou. O Jorge ainda conseguiu que eu fosse treinar ao Sampdoria, mas não gostei tanto. Sais de um Chelsea com aquela academia, que tem para aí uns 20 relvados, e chegas a um clube que, apesar de não ter desgostado – Génova é uma cidade muito bonita, a academia também era “engraçada” – não tem nada a ver. Por exemplo, em Londres fiquei num hotel cinco estrelas ao lado do estádio; em Itália fiquei numa pensão onde estavam os jogadores todos e comia massa todos os dias. Eles até queriam ficar comigo, mas o Rio Ave pediu um valor que o Sampdoria não quis pagar. Então continuei em Portugal e só aos 20 anos é que me mudei para o Benfica.

Antes disso, fazes três épocas pelo Rio Ave, ainda que nas duas primeiras tenhas jogado muito pouco. Aquele jantar na Foz, em casa do Jorge Mendes, mudou tudo?
Sim, isso aconteceu no meu segundo ano de seniores. Fui convocado pela Selecção sub-21 para o Torneio da Lusofonia, em Lisboa, no qual fiz os jogos todos e perdemos com Cabo Verde na final. Por isto, perdi a pré-época toda e quando regresso aos treinos do Rio Ave faltavam apenas duas semanas para começar o campeonato. O treinador manteve-se – era o Carlos Brito – e eu estava um bocado triste, porque sem pré-época e com apenas uns 60 minutos jogados na época anterior achei que ia continuar sem jogar, mas não foi assim: quando cheguei, ele deu-me logo moral e disse-me que contava comigo; que era eu que ia começar o campeonato e assim foi. Os primeiros três jogos correram-me muito bem (…) espera, deixa-me voltar atrás. O Jorge Mendes tem algumas pessoas que trabalham para ele (…) e durante esse período senti que não tive tanto apoio quanto o que precisava. Ele tinha sido o meu único empresário desde os 16 anos e o nosso contrato estava a acabar, porque os contratos com os empresários são de dois em dois anos. Foi quando apareceu outro empresário, através do Gaspar [defesa-central do Rio Ave à época], que estava interessado em representar-me. “Tenho ali um empresário que pode ajudar-te”, disse-me o Gaspar. Fui falar com ele, gostei da abordagem, disse que ia pensar, mas que à partida ia ficar com ele. Esta conversa foi num café ali na Foz e, quando estou a chegar a casa com o meu pai, liga-me o Camacho, que trabalha para o Jorge Mendes “Então vais trocar de empresário?” e eu “Fod***, como é que já sabes?”. “É que o vice-Presidente do Rio Ave ligou-me agora a dizer que a partir de agora tens outro representante”. Disse-lhe que apesar de ainda não ter assinado nada, ia assinar por ele, ao que ele me responde que dentro em breve o Jorge ia ligar-me – e não falávamos para aí há uns três anos. Passado uma hora tinha uma chamada de um número com indicativo espanhol “Então, Fábio, já assinaste pelo Artur?”, perguntou-me o Jorge. Disse-lhe que ainda não, ao que ele me respondeu “Então não assines, porque tenho umas coisas boas para ti”… aquelas abordagens normais do Jorge, que não deixa ninguém falar; [risos] mas ele é mesmo convincente! Disse-lhe que nunca se preocuparam comigo quando não jogava e que só se lembraram de mim porque ia mudar de empresário… “Então o que é que vais fazer amanhã à noite? Não marques nada porque vais jantar a minha casa e traz o teu pai”. A meio do jantar, pergunta-me “Onde é que querias jogar?”. E eu “Ó Jorge, sou do Benfica desde pequeno, mas há outros clubes na Europa que também me agradavam”. “Gostaste de estar no Chelsea? Percebes inglês? Espera aí, vou ligar a uma pessoa”. Ligou para o Peter Canyon [ex-diretor-desportivo do Chelsea] e começou a perguntar-lhe se se lembrava de mim e mais não sei quê. “Não o queres? Então vais ver para onde é que ele vai!”. Depois do jantar, trouxe-me um contrato e assinei por mais dois anos com ele. Isto foi numa quarta-feira. No sábado íamos jogar com o SC Braga e sexta-feira, depois do treino, tenho quatro chamadas dele. Afastei-me do grupo – porque já sabia mais ou menos qual era o motivo da chamada – e quando lhe devolvo as chamadas ele diz-me “Onde é que andas? Consegues estar em Lisboa ao final da tarde?”. “Consigo, mas amanhã tenho jogo”. “Não te preocupes, está tudo resolvido”, tranquilizou-me. Falei com o meu pai, metemo-nos no carro e, quando estamos a chegar à Expo, o Camacho liga-me e pergunta-me se sou eu quem está a conduzir; disse-lhe que não, e ele perguntou-me se conseguia passar para o banco de trás para ninguém me ver. Quando chego ao local, entro por uma garagem e ele e o Jorge vêm buscar-nos. Quando saio do elevador, estou no escritório do Luís Filipe Vieira.

Não desconfiavas da pessoa com quem ias reunir?
Não, porque o Jorge tinha-me dito “Estou a sair de Madrid, mas encontramo-nos em Lisboa” e eu pensei que, como estava em Espanha, ia levar-me para uma equipa espanhola; nunca associei ao Benfica. Quando saio do elevador, percebo tudo. Fiquei mais descansado quando fomos para o escritório e já lá está o Presidente do Rio Ave; até vim com ele para cima, porque também tinha ido de Luanda directamente para Lisboa por causa da minha transferência. No dia a seguir tinha de estar às 10:30 no treino pré-jogo, mas estava super tranquilo, apesar de nem ter dormido nessa noite. Uma das coisas mais engraçadas é que não podia contar a ninguém, porque o contrato só podia ser revelado em dezembro; queria contar aos meus amigos, mas não podia. Até que passadas duas semanas veio nas capas dos jornais… alguém abriu a boca. A partir daí liguei ao Jorge e disse que não conseguia mentir aos meus colegas e foi quando tive autorização para dizer a verdade.

Como foi a abordagem de Luís Filipe Vieira?
Espectáculo! Tirou-me logo o nervosismo todo. Para te ser sincero, só me lembrei de perguntar quanto é que ia ganhar depois de assinar.

Sei que os números eram baixos. De que valores estamos a falar?
Fui ganhar duas vezes mais o que ganhava no Rio Ave – e ganhava pouco. Prefiro não falar de valores, mas se calhar o salário de um jogador de Primeira Liga das equipas com orçamentos mais baixos. Mas é normal, porque o meu contrato era por objectivos: se fizesse dez jogos a titular recebia um bónus, se fizesse vinte idem. Mas só depois de assinar é que comecei a fazer contas: ir para Lisboa, alugar casa… pouco me ia sobrar. O meu pai ainda disse ao Presidente que era muito pouco, mas a resposta foi que se começasse a jogar me aumentavam o contrato – olha, foi o mesmo contrato que fizeram ao Coentrão – e o Jorge também me deu a garantia que, se não jogasse, me arranjava outro clube. Acabei por ir para Espanha ganhar quatro vezes mais.

Havia outras propostas?
Surgiu a oportunidade de ir para o FC Porto, mas não deu os valores pretendidos pelo Rio Ave… pelo menos foi o que me disseram. O Jorge disse-me que havia uma equipa de Espanha interessada em mim, mas que fui para o Benfica porque o Luís Filipe Vieira lhe disse que eu era um pedido do Jesus, que já me conhecia há muito tempo. Aliás, ainda ele estava nos Belenenses e já me queria contratar, era eu júnior. Mais uma vez, o Rio Ave pedia muito dinheiro e o negócio não avançou. O Jorge Jesus queria-me para lateral-esquerdo desde o início no Benfica, porque o Fábio [Coentrão] ainda não jogava nessa posição quando ele chegou à Luz.

– Benfica: Parte 1 –
“5-0? Jesus estava muito preocupado com o Hulk; até me deu um DVD para ver as jogadas dele”

A aventura no Benfica podia ter começado contigo a vestir a pele de Cavalo de Tróia.
Exactamente, porque aquele que seria o meu último jogo pelo Rio Ave era contra um Benfica a quem bastava o empate para ser campeão e nessa semana fui abordado pelos jornalistas todos. Tive a infelicidade de dizer que gostava que o Benfica fosse campeão, mas também não queria que o Rio Ave perdesse, numa tentativa de dar a volta ao texto. No dia a seguir, os jornais fizeram manchetes com as minhas declarações, dando a entender que já estava “feito” com Benfica… o normal. Então, para me defenderem, o Rio Ave entendeu que era melhor eu não jogar; tanto podia marcar um golo e impedir o título do Benfica, como um autogolo e dar azo a teorias da conspiração. Recordo-me de chegar ao estádio, completamente a abarrotar, chorar copiosamente no balneário e pedir ao Carlos Brito “Mister, deixe-me jogar, por favor!”, mas não me deixaram e ainda bem.

Recordas-te do primeiro contacto do Benfica após esse jogo?
Foi passadas duas semanas. Estava em casa e liga-me o Rui Costa para dizer-me que ia em digressão com a equipa do Benfica para os Estados Unidos e para o Canadá. “Ó Rui, mas fui convocado pela Selecção sub-21”, disse-lhe. “Não te preocupes que já falei com o seleccionador e, como são dois amigáveis, não precisas de ir”. “Mas tens a certeza?”, perguntei-lhe hesitante. “Sim, à vontade. Se não tenho moral, quem tem?”. Nunca mais me esqueço destas palavras. Antes de irmos, ainda fiz um treino no Seixal em que as coisas saíram muito bem – fiz dois golos naquele joguinho no final – e nos jornais do dia seguinte era eu quem estava na capa.

[Fábio prossegue com entusiasmo]
Fomos primeiro para Boston e, depois, para Toronto, num jacto privado, não faltava nada. Foi muito bom porque em vez de conheceres os teus colegas em competição, conhece-los num ambiente mais descontraído. É claro que queríamos ganhar, mas só tínhamos treinos de dois em dois dias, podíamos ir passear nas folgas… os portugueses puseram-me logo bastante à vontade – o Nuno Gomes, o Luís Filipe, o Rúben Amorim -, o próprio David Luiz (…) sabes que ia ficar no quarto com o Aimar? Só que à última da hora teve um problema com o passaporte e não embarcou connosco; foi o melhor jogador com quem joguei. Era um grupo espectacular e estavam ali para se divertirem. Acabei por jogar os dois jogos a titular e só perdemos contra o Panathinaikos, em que até houve porrada durante o jogo e tudo. Quando começou a nova época, já tinha confiança com eles e não custou tanto. Foi a melhor maneira de entrar no Benfica.

Coentrão era um colega com quem, naquela altura e àquele nível, era impossível rivalizar?
Era mesmo impossível. O Fábio foi dos melhores laterais-esquerdos que vi jogar. Ele já fazia a diferença na frente, então quando apanhou alguém tão exigente quanto o Jesus, começou a partir tudo. Não havia hipóteses. Mas também havia uma situação: eu detestava jogar nessa posição! Eu era defesa-central, mas o Jesus achava que por ter um bom pé esquerdo tinha de ser lateral; via-me como um substituto do Fábio naqueles jogos mais difíceis. E ainda assim, quando o Fábio não podia jogar, baixava o César Peixoto e isso deixava-me triste “Então estou a treinar a lateral, e quando o Fábio não pode, é o César que joga?”. Mas quando estás no Benfica, no FC Porto ou no Sporting, só em três ou quatro jogos é que o lateral tem de defender, de resto é sempre para a frente, e logicamente percebi o que o Jesus queria: o César e o Fábio como tinham sido extremos tinham mais facilidade no último terço. Não obstante aprendi muito; o Jesus é um treinador muito exigente.

Foi esta exigência que elevou Jorge Jesus para um patamar à parte?
O Jesus é obcecado por futebol. Foi, sem dúvida, o melhor treinador que tive. Aprendi tanto com ele… pensava que sabia defender e quando cheguei ao Benfica percebi que não era assim. É impressionante o quanto ele percebe de futebol. Então por ser o mais novo levava tanta “dura” dele! Muitas vezes em vez de chamar o David Luiz ou o Luisão à atenção, chamava-me a mim para dar o exemplo; era sempre o meu nome. Ficava maluco! Muitas vezes, ao pequeno-almoço, os meus colegas apostavam quantas “duras” eu ia levar no treino, porque ele só sabia o meu nome. É um treinador que me ajudou muito. Se ele pega num Real Madrid ou num Barcelona, limpa tudo.

Fala-se muito na componente táctica dos seus treinos, mas quem melhor que tu para confirmar que fisicamente também não eram pêra doce.
Isso foi em digressão, quando já estava há duas semanas sem treinar. O campeonato tinha acabado e na semana seguinte à conquista do título foi só festa. “Ai gostaram das férias? Então hoje vamos correr um bocadinho”, satirizou. Pôs-nos a fazer intervalados e chegou a uma altura em que já nem conseguia respirar, mas como não queria ficar mal continuei. Como era jogador novo, ele estava sempre de olho em mim e não podia facilitar. Fiquei maldisposto e tiveram de me levar um pacote de açúcar. Só pensava que se fossem sempre assim os treinos do Benfica estava tramado e que não ia aguentar. Ele não aceita brincadeiras e independentemente da duração do treino tem de ser sempre a sério. É por isto que tira o melhor de cada atleta e que, por onde passa, vende jogadores por milhões. 

Acompanhaste de perto o declínio do “Rolo Compressor”. A perda de alguns jogadores-chave na época anterior foi irreparável?
Entrámos mal no campeonato: perdemos em casa contra a Académica, na Choupana com dois erros do Roberto… as coisas não lhe estavam a correr bem.

Roberto Jiménez tem responsabilidades nesse campeonato?
O valor da sua contratação [8,50 M€] criou-lhe muita pressão. Ele tentava demonstrar que era um jogador mentalmente muito forte, mas percebia-se que não era assim. Mas também apanhámos um FC Porto muito forte e ficámos para trás logo ao início do campeonato. O Gaitán e o Salvio nas linhas também não estavam a adaptar-se muito bem… apesar de percebermos que eram craques, ainda estavam a aprender a encaixar-se nas ideias do Jesus. Depois vamos ao Dragão e perdemos 5-0…

Com David Luiz a defesa-esquerdo.
Treinei a semana toda nessa posição, a pensar que ia jogar. O mister queria avançar o Fábio, porque estava muito preocupado com o Hulk; até me deu me um DVD para, em casa, ver as jogadas dele. Mas quando vi que os centrais eram o Sidnei e o Luisão percebi que não ia ser opção.

A meio da época, acabas por ser emprestado ao Valladolid, mas fazes apenas quatro jogos.
Quando cheguei ao Valladolid, fui uma das contratações mais sonantes a par do Juanito, que foi ganhar 60 mil euros – havia equipas a pagar 100 mil – valores que em Portugal só os grandes podem pagar. Quando entro na equipa estávamos em penúltimo, mas com uma super equipa, montada para subir de divisão. Assinei sexta-feira e domingo estreio-me logo a titular; perdemos 1-0, mas fui o melhor em campo. No final do jogo, o treinador até me usou como exemplo para os meus colegas, por ter sofrido uma entrada muito dura e ter continuado. Fiz três jogos em dez dias, mas como estive seis meses sem jogar no Benfica, antes do jogo com o Bétis senti uma dor e o exame revelou que era um estiramento. Eles queriam dar-me uma injeção, mas disse-lhes que não aceitava e que preferia descansar uma semana. O que é certo é que fiquei duas semanas parado e o colega que ocupou a minha posição agarrou o lugar. O treinador muitas vezes vinha ter comigo e dizia-me “Tu és melhor jogador do que os que estão a jogar, mas não te posso pôr a jogar porque vamos numa série só de vitórias”. Ainda fiz mais um jogo – outra vez melhor jogador em campo: ganhámos 2-0 e fiz as duas assistências -, mas não voltei a jogar. Eles gostaram tanto de mim que queriam contratar-me ao Benfica, mas o meu empréstimo não tinha opção de compra

O nível da segunda divisão espanhola pode equipar-se ao da Primeira Liga portuguesa?
A segunda divisão espanhola é tão boa ou melhor que a nossa Primeira Liga. Lembro-me de apanhar o Barcelona B – onde estavam o Grimaldo, o Nolito, o Bartra, o Thiago e o Rafinha – e ganhámos ser saber ler e escrever; levámos um chocolate impressionante. Mesmo o Bétis e o Granada, que subiram nesse ano, eram equipas muito fortes.

– Benfica: Parte 2 –
“Podia ter tido oportunidades no campeonato e conquistado o lugar”

À entrada para a segunda época, sabias que não contavas para JJ?
Eu fui o jogador com mais minutos nessa pré-época, porque como fui ao play-off com o Valladolid, a minha época só acabou no final de julho e o Benfica começava a época poucos dias depois. Quando estava ultimar os preparativos para sair de Espanha, recebo uma chamada do Shéu “O mister Jesus quer que te apresentes na terça-feira em Lisboa”. “Mas Sr. Shéu, acabei o campeonato ontem e não tive férias”. “Mas ele precisa de jogadores e quer-te lá” e o que é que eu dizer? Arranquei para Lisboa e estava com um andamento superior a todos porque vinham de férias. Fiz os jogos todos o lado do Miguel Vítor, mas com a venda do Coentrão para o Real vem o Garay e percebi que a escolha para ser o quarto central seria entre mim e o Miguel. No último dia de transferências fui falar com o mister – ele achava que eu devia ser emprestado, que só ia jogar no Benfica a partir dos 25 anos – e surgiu a oportunidade de ir para o Paços com o Rui Vitória; ele e o Carlos Carneiro foram ter a Lisboa, viram um jogo comigo no camarote e convenceram-me. Quando chego a Paços de Ferreira, o Rui Vitória passada uma semana assina pelo Vitória SC. Mexeu um bocadinho comigo e as coisas não correram bem, apesar de termos uma boa equipa. Com a vinda do mister Calisto comecei a jogar regularmente, mas num jogo para a Taça frente ao FC Porto cometo um penalti sobre o Hulk nos últimos minutos e deixei de ser opção. Foi quando comecei a falar com o Benfica para se arranjar outra opção. Quando surgiu a possibilidade de ir para o Rio Ave não hesitei.

Já voltamos a Paços. Ainda no Benfica, como explicas a opção sistemática num Emerson que não rendia em detrimento de, por exemplo, Capdevila?
O Emerson, quando chegou, tinha muitas dificuldades tácticas. Tecnicamente era um jogador evoluído, mas tacticamente (…) o Jesus dava-lhe cada “dura”! Em vez de ser eu, passou para ele e assim já estava mais descansado. Era bom jogador, mas não era tinha as características que o Jesus aprecia num lateral: era alto, mas não era móvel e rápido; ele gosta de laterais com muito andamento, sempre para a frente. Até acho que ele podia ser um excelente central; lembro-me de um jogo muito bom que ele fez em Stamford Bridge nessa posição. Olhava para ele e achava-o parecido comigo. O Capdevila, que tinha sido campeão do mundo em 2010, vem com um ordenado gigantesco e notava-se que estava ali para passar férias e que não estava para se chatear. Chegou para aí com 10 kg a mais; o Jesus estava “tolo” com ele “As férias foram só churrascos, hein?”, dizia-lhe. Estava em final de carreira, já tinha ganho tudo, vinha com moral e conseguiu um bom contrato. Mas dávamo-nos muito bem, porque ele era um “palhaço”, gente boa. Ele jogou pouco por causa disto, o Jesus não é burro.

Sentias que podias ter tido uma oportunidade?
Sinto que se não tivesse sido emprestado ao Valladolid, talvez tivesse mais minutos. Estava em Espanha e via os jogos… o Roderick, por exemplo, fez dois ou três jogos a titular. Como o Jesus estava a apostar tudo na Liga Europa, se calhar podia ter tido oportunidades no campeonato e, quem sabe, conquistado o lugar.

Em Paços de Ferreira cruzas-te com Melgarejo, extremo de origem que JJ adaptou, curiosamente, a defesa-esquerdo. Surpreendeu-te?
Ele era o nosso melhor marcador. Tinha faro de golo. Mas sim, surpreendeu-me porque ele não gostava de defender no Paços (…) mas o Fábio também não gostava de fazê-lo no Rio Ave… mas quando chegas a um clube grande sujeitas-te a tudo.

Pergunto-te também por Luisinho, outra adaptação.
A do Luisinho não, até porque também já tinha sido meu colega no Rio Ave. À imagem do Fábio, é um jogador “ranhoso”, mas tecnicamente muito bom. Pensei que ia ter mais minutos, porque tinha uma personalidade que o mister Jesus aprecia: que dá tudo e que detesta perder.

Também como o Michel. Lembras-te?
Era ponta-de-lança. Claro! O Imperador da Mata Real. Era um fora de série, mas não queria nada com isto. Tinha uma qualidade impressionante! Vinha do Futsal e tecnicamente foi dos melhores jogadores que vi. Às vezes a culpa não é só dos treinadores: quando tens três ou quatro oportunidades e nunca jogas, a culpa não pode ser de mais ninguém.

Mudas-te para Vila do Conde a meio da época e reencontras alguns colegas. Satisfaz-me esta curiosidade: como é dividir o balneário com Tarantini, uma figura à parte do nosso futebol?
Ele já é a imagem do Rio Ave. Conheci o Tarantini no ano em que subimos à Primeira Liga. Ele veio para o Rio Ave nessa altura e, até hoje, tenho uma grande relação com ele e com a mulher. Desde cedo que percebi que era um jogador diferente: tinhas uma conversa com ele e dizias “Fogo, este gajo percebe de tudo”. Outra: quando íamos para estágio, queríamos era jogar Playstation ou às cartas e ele sempre com o seu livrinho, a estudar. Para te ser sincero, achei que não ia conseguir ter a carreira que teve; evoluiu mesmo muito! Depois começas a treinar com ele e percebes que é um jogador muito inteligente. Eu, se fosse treinador, gostava de tê-lo na minha equipa, porque sabe o que fazer em cada momento do jogo. E é sempre ele e mais dez. como pessoa é espectacular; quando deixei o futebol, entrei na Universidade, mas tive algumas dificuldades para escolher o curso e aconselhei-me com ele. Está sempre disposto a ajudar. Vai ser um excelente técnico e acho que será o próximo treinador do Rio Ave.

– Coração Partido –
“Pai, não quero mais”

É precisamente durante um jogo entre o Rio Ave e o Moreirense para a Taça da Liga que te sentes mal após um sprint e que acabas por desmaiar já nos balneários. Percebeste de imediato que não era algo normal?
Senti-me maldisposto, mas não percebi o que era. Pedi assistência médica e levaram-me para o balneário. Como nesse dia estava muito frio em Moreira de Cónegos, abrigaram-me com um casaco e, com os sintomas que descrevi, acharam que era uma quebra de tensão; quando me levanto da marquesa, não sentia as pernas e caí no chão. Foi quando o médico do Rio Ave começou a ficar preocupado e falou com o do Moreirense para chamar uma ambulância. Quando chegou, eu já não conseguia mexer parte alguma do meu corpo, apenas o pescoço. O médico, pessoa calma, estava nervoso, começaram a proibir os jogadores de ir para o meu lado e foi aí que comecei a aperceber-me de que algo não estava bem. O meu pai conseguiu contornar as indicações de afastamento, foi ter comigo e perguntou-me “Então, baixinho, como é que estás?”. A minha resposta foi “Já fui”. Depois de entrar na ambulância apaguei e só me lembro de acordar no hospital. Aí tive consciência de que as coisas tinham sido muito graves.

Houve um hiato entre o que te aconteceu e retomares a actividade física. É quando cais com o teu pai, numa tentativa de recuperar a forma, que decides pôr termo à esperança de voltar a jogar?
Sim, foi nessa ocasião. Antes desse episódio, houve mais quatro em que tive de ser reanimado; o meu coração só voltava ao normal com a ajuda de um desfibrilhador. Após a operação, andei seis meses muito bem, mas nessa corrida com o meu pai perdi os sentidos, caí no chão e, felizmente, ele lembrou-se de me dar dois socos no coração, aos quais reagi. Foi quando disse “Pai, não quero mais”.

Foi instintiva essa decisão?
Foi, foi! É uma sensação horrível saberes que estás a fazer qualquer coisa e que, de um momento para o outro, podes cair para o lado. Foi nesse momento que decidi parar.

Qual foi o papel do Sindicato dos Jogadores nesta situação?
Eu era sindicalizado desde os 17 anos, pagavas as quotas, mas nunca liguei. Foi quando liguei para o Dr. [Joaquim] Evangelista; “Não te preocupes, vou tratar de tudo: vou falar com o Presidente do Benfica, do Rio Ave…”. Passadas duas horas ligou-me “Vou fazer uma conferência de imprensa aqui, no Sindicato”. Quando estou a ir para Lisboa, recebo dezenas de chamadas dos jornalistas a perguntarem-me se era verdade que ia deixar o futebol (…) eu não sabia de nada, nem sabia o que ia fazer! Chego ao Sindicato, estou a falar com o Dr. Evangelista e, de repente, entra o Luís Filipe Vieira “Então, Fábio, como é que estás? O que é que tu queres fazer agora. Queres ser treinador?”, perguntou-me o Presidente do Benfica. Como já me tinha comprometido com o Joaquim Evangelista que ia entrar na faculdade – apesar de só ter o 11.º ano, ia entrar pelos maiores de 23 anos, e o Sindicato ia pagar-me o curso – disse ao Luís Filipe Vieira que, apesar da ideia de ficar a treinar na formação do Benfica agradar-me, queria tirar a minha formação. “Ok. Não te preocupes que vamos cumprir-te o contrato até ao final” e eu fiquei logo todo contente, porque ainda faltavam três anos e eles não eram obrigados a pagar. Mas hoje estou arrependido de não ter aceitado o convite do Presidente do Benfica.

Há pouco mais de um ano, o Tribunal da Relação de Guimarães decidiu que seriam as seguradoras a pagar-te uma pensão vitalícia. Isto quer dizer que a doença resultou da prática desportiva?
Exacto. As seguradoras alegavam que a doença era congénita, mas não conseguiram prová-lo. Durante toda a minha carreira fiz exames e nunca acusou nada e a partir do momento em que desmaiei pela primeira vez, começou a acusar. Por isso… foi uma prova para conseguir ganhar. 

Actualmente és treinador adjunto da equipa sub-23 do Rio Ave.
Comecei como adjunto do Zé Gomes na Equipa B. Este ano, como o Rio Ave terminou com a Equipa B e só ficaram os sub-23, fomos convidados pelo mister Pedro Cunha para integrar a sua equipa técnica. Eu estou mais focado no trabalho da linha defensiva e é um motivo de orgulho termos acabado a época com o melhor registo defensivo do campeonato. Também fomos a equipa com mais golos marcados; no fundo fomos a melhor equipa do campeonato. Foi pena ter aparecido a pandemia, porque só faltavam quatro jogos, estávamos à frente e em princípio íamos ser campeões.

Ser treinador principal é um objectivo?
Penso que não. As pessoas acham que tenho perfil, mas gosto de ser adjunto. Sou alguém muito brincalhão, de estar ao lado dos jogadores, e como treinador principal tens de manter um certo distanciamento. Nunca gostei de ser a figura principal em nada.

Para além do futebol, estás ligado a outra modalidade.
Sim, recentemente abri um clube de pádel em Barcelos e, neste momento, é o meu filhote."

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