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sexta-feira, 26 de junho de 2020

Cândido de Oliveira – 62 anos da sua morte

"Cândido Fernandes Plácido de Oliveira, é provavelmente a figura mais importante do século XX no que ao futebol se refere. Nasceu em Fronteira, Portalegre, a 24 de Setembro de 1896, e após ficar órfão, entrou para a Casa Pia de Lisboa em 1905. Desde cedo que demonstrou capacidade e para a prática desportiva e em 1914/15 começou a representar o SL Benfica até 1920, o ano em que fundou, juntamente com mais alguns colegas da instituição, o Casa Pia Atlético Clube.

De exemplo na selecção a agente PAX, contra a ditadura
Foi o capitão no primeiro jogo de sempre da selecção nacional a 18 de Janeiro de 1921 em Madrid numa derrota por 3×1 com a Espanha, arrumou cedo as chuteiras e abraçou a carreira de treinador em 1926 como seleccionador nacional.
Também enveredando pelo jornalismo, inicialmente na “Stadium”, e passando por muitos outros jornais, Cândido de Oliveira trabalhou como inspector geral nos CTT e tinha acesso privilegiado a informações ligadas à espionagem, em que Portugal era o centro, durante a II Guerra Mundial, tornou-se agente de uma rede clandestina inglesa com o intuito de informar os aliados sobre os movimentos alemães em Portugal e organizar grupos de resistência activa e passiva em caso de invasão de Portugal pela Alemanha nazi.

O horror Tarrafal e o jornal “A Bola”
Detido em 1942 pela PVDE foi deportado para o Tarrafal e viveu os horrores já muitas vezes conhecidos pela história, no entanto e tendo em conta a sua dimensão sobre o público, viveu o Campo do lado de fora, não sendo obrigado a trabalhos forçados, o que lhe permitiu continuar com a rede por si montada.
Em Janeiro de 1945 funda, com Ribeiro dos Reis e Vicente de Melo, o jornal “A Bola” após regressar do “campo de concentração de Cabo Verde. Volta como treinador da selecção nacional e logo depois orienta o Sporting CP durante 3 épocas, nas quais consegue dois títulos nacionais ao serviço dos leões e orientou os célebres “Cinco Violinos”. Sai do clube de Alvalade porque não concorda com a não renovação do conhecido e goleador Fernando Peyroteo.

O primeiro lá fora e a paixão que o levou ao fim
Torna-se o primeiro treinador português a treinar no estrangeiro pelo CR Flamengo em 1950, no entanto, apenas fica no Brasil 6 meses e volta para Portugal para treinar a selecção, o FC Porto e a Académica OAF que fica conhecida a dada altura por praticar um futebol de alto nível, onde quem corria era a bola e não os jogadores, algo que se pode equiparar hoje ao tiki-taka de Guardiola no FC Barcelona.
Seguiu para a Suécia em 1958 para acompanhar como jornalista do jornal “A Bola” o campeonato do mundo de futebol, onde Pelé começou a brilhar aos olhos do mundo. A paixão ao futebol e ao jornalismo levam-no a ignorar as indicações de um médico que lhe limitavam a ficar em casa durante uma semana, em pleno mundial, após queixas de uma gripe que contraiu por não poder levar toda a sua bagagem e, consequentemente, toda a sua roupa, na viagem de avião que apanhou após ir de carro de Portugal até França. A gripe evoluiu para uma pneumonia e a 23 de Junho de 1958 morreu no hospital em Estocolmo com 61 anos.

A homenagem possível
O país inteiro comoveu-se, a Académica OAF em particular, o funeral passa pela sede do CA Casa Pia e termina no cemitério do Alto de São João sempre acompanhado por uma multidão que lamentava a perda do verdadeiro mestre do desporto e do jornalismo.
A partir de 1981, a Federação Portuguesa de Futebol passa a atribuir à supertaça de futebol, prova que junta o vencedor do Campeonato Nacional com o vencedor da Taça de Portugal da época anterior, o seu nome – Supertaça Cândido de Oliveira.
Treinado por Cosme Damião, fundador do SL Benfica, primeiro capitão de sempre da Selecção Nacional, seleccionador nacional e pioneiro em Portugal no desenvolvimento teórico sobre metodologias de treino e tácticas na modalidade, jornalista e fundador do Clube Atlético Casa Pia e do jornal “A Bola”, lutador “silencioso” antifascista que esteve como preso político no horror do Tarrafal, Cândido de Oliveira foi, sem dúvida alguma, o autêntico homem do renascimento e desenvolvimento do futebol em Portugal, foi e é o Mestre do Futebol."

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