"No início da época 2018-2019, quando foi anunciado que os jogos passariam a ter supervisão de um videoárbitro, aplaudi a decisão. A partir do momento em que a tecnologia fosse introduzida, os árbitros deixariam de poder alegar não se ter dado conta deste ou daquele lance ilegal que era evidente para qualquer adepto que estivesse em sua casa. Com a transparência daí decorrente, haveria, também, menos margem para os ataques à arbitragem e as polémicas desceriam de tom.
Hoje já não estou tão certo disso. É verdade que qualquer novidade precisa de tempo até começar a funcionar com total eficácia, mas aquilo a que temos assistido deixa-me pouco optimista.
Se antigamente havia o risco de o árbitro não ver o suficiente, de lhe escapar alguma coisa, hoje, com o videoárbitro, há o risco de ver demasiado. Seja para invalidar um golo, seja para apontar um penálti, pode quase sempre encontrar-se um pretexto ou pelo menos um ponto de dúvida. Não haveria um jogador fora de jogo? Não terá ali havido um toque com a mão na bola? Um pequeno puxão? Um encosto que desequilibrou o adversário?
Mal comparado, faz lembrar certos polícias ultraescrupulosos, que, quando mandam parar um condutor na estrada, encontram sempre uma boa desculpa para lhe passar uma multa.
Segundo uma estatística publicada pelo jornal O Jogo, desde a introdução da tecnologia de videoárbitro, a média de penáltis por jogo aumentou 22%. Ora, toda a gente sabe que há penáltis e penáltis... e alguns são mais do que duvidosos. Mas isso conta pouco quando o jogador remata da marca dos 11 metros. Justo ou injusto, um penálti é praticamente sinónimo de golo.
O videoárbitro trouxe mais verdade ao futebol, como diz Rui Santos? Adoraria acreditar nisso. Mas o que tenho visto deixa-me cheio de dúvidas. E não me espantaria muito ver essa bela ideia ser completamente adulterada e tornar-se mais um instrumento ao serviço dos suspeitos do costume."
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