"Na semana passada recordei aqui o primeiro confronto entre Benfica e Bayern de Munique, agora que se aproxima o início da fase de grupos da Liga dos Campeões. Hoje vamos até Maio de 1965, e ao primeiro Ajax-Benfica da história do futebol, que o Benfica perdeu 1-2.
No dia 9 de Maio de 1965, o Benfica votou a Amesterdão, local mágico no qual conquistou a sua segunda Taça dos Campeões Europeus. Desta vez tratava-se apenas de um encontro amigável frente ao Ajax, o mais sonante dos clubes holandeses. Mas isso não retirava um milímetro à forma como os espectadores se interessaram pela partida. Não se pode dizer que houvesse um ambiente fanatizado, não havia motivo para tal, mas cerca de 25 mil pessoas acorreram ao Olímpico movidas pela curiosidade de ver aquela que era considerada a melhor equipa da Europa: o Benfica, claro está!
Rapidamente, Eusébio, José Augusto, Torres e Simões desataram a importunar a defesa holandesa com aqueles movimentos velocíssimos que executavam praticamente de olhos fechados. A coisa prometia e o povo demonstrava o seu agrado. Era uma tarde fria e ventosa. O Verão parecia distante como a Via Láctea.
O Ajax estremeceu. Os seus jogadores não atinaram com a melhor forma de contrariarem os lances criados pelos portugueses. Confusos, perdidos, pareciam à mercê de uma derrota inevitável. Puro engano.
Um passe primoroso de Eusébio apanha José Augusto numa corrida paralela à grande área contrária: este, na passada, dispara com o pé direito para um golo bonito, bonito.
O Benfica dos grandes momentos europeus mostrava-se em Amesterdão tal como o tinha feito, três anos antes, face ao Real Madrid. Só que, desta vez, uma estranha modorra foi amolcendo a equipa. E isso custaria muito caro.
A reviravolta
Aos 28 minutos, Nuninga conseguiu o empate. Os jogadores do Ajax pareciam fartos de fazer figura de meros comparsas, ainda por cima diante do seu público. Podia não ser o terrível Ajax que viria a dominar a Taça dos Campeões Europeus uns anos mais tarde, mas não era certamente um conjunto de pés-de-chumbo.
Os encarnados surgiram para a segunda parte muito presos nas suas tamanquinhas. A saída de Calado e a entrada de Perides foi um sinal defensivo que soou nas hostes holandeses. Perceberam os rapazes de Amesterdão que o Benfica lhes ia dar a iniciativa do jogo, convencido de que seria possível num contragolpe recuperar a vantagem. Afinal, quem tinha Eusébio podia sonhar com o topo do mundo.
Não foi isso que aconteceu. A gana holandesa recrudesceu. Interiorizaram que seria possível vencer o grande Benfica, e nem a defesa a uma grande penalidade assinada por Costa Pereira os abalou nessa decisão. A pressão sobre o meio-campo lusitano era grande. A marcação a Eusébio, impiedosa: Soetekouw não o largara um segundo, e o moço da Mafalala tratou de evitar entradas mais duras pouco compreensíveis num jogo que se diria amigável.
Com um remate de muito longe, e aparentemente insignificante, Kaizer, que falhará o penálti, bateu o guarda-redes lisboeta. A vitória do Ajax parecia ir ser uma realidade, por surpreendente que fosse.
Responde finalmente o Benfica. Uma questão de orgulho! Coluna tenta, também ele, o seu poderoso remate, uma e outra e outra vez. Cavém ia obtendo um golo de truz com um chapéu de muito longe. Torres lutava como um animal ferido, percorrendo todo o campo, da defesa ao ataque.
Mas a linha avançada benfiquista tinha esgotado pólvora.
A equipa parecia cansada. Ao contrário do que se passava com o Ajax:
A derrota tornou-se uma realidade no primeiro confronto entre os dois grandes clubes. Não abalava o prestígio do Benfica, obviamente, que durante muito tempo actuou em ritmo de poupança. Mas alegrou todos aqueles que tinham caminhado até ao Estádio Olímpico para ver os maravilhosos jogadores que ainda há tão pouco tempo tinham sido campeões da Europa.
O duelo repetiu-se várias vezes ao longo dos anos, entre desafios particulares e eliminatórias para a Taça dos Campeões.
Mais dois encontros entusiasmantes vêm agora a caminho. É preciso saber desfrutá-los. Benfica e Ajax bem o merecem, sendo como foram expoentes raros do futebol mais ofensivo que o mundo alguma vez viu."
Afonso de Melo, in O Benfica
Em Paredes escrever Perides!
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