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sexta-feira, 6 de maio de 2016

O duelo

"Polémicas à parte, devem o futebol e os adeptos dar graças por esta empolgante luta Benfica - Sporting, das maiores de sempre.

Sim, é verdade que Rui Vitória tem superado todas as expectativas, no sentido em que poucos acreditavam (eu incluído) que conseguisse conduzir a equipa do Benfica até aqui, e que Jorge Jesus tem, no fundo, estado muito igual a si próprio (dentro e fora do campo...), no sentido em que vem fazendo o que se esperava do grande treinador que é e que todos sabem que é. Polémicas à parte, deve reconhecer-se como fantásticos os percursos de Benfica e Sporting esta época, com a diferença (que não é pequena) de o Benfica ter recebido o seu novo treinador com a barriguinha cheia de títulos e uma estrutura muito consolidada nos últimos anos, e o Sporting ter pedido ao seu novo treinador que fosse capaz de construir muita coisa ao mesmo tempo.
Parece evidente ter Jesus encontrado no Sporting a necessidade de criar uma equipa que fosse capaz de competir no topo do campeonato - cumprindo aquilo que realmente prometeu -, mas também novas condições materiais e emocionais absolutamente indispensáveis a quem quer, hoje, discutir títulos em provas de resistência e o Sporting há muito parecia não ter.
Para vencer jogos basta, talvez, talento, mas para vencer campeonatos é preciso muito mais do que isso. E tendo uma equipa muito mais do que talento... até o talento se torna maior.
O Sporting já tinha, na verdade algum talento. Com a chegada de alguns jogadores reuniu ainda mais talento. Chegaram o brilhante Bryan Ruiz e, mais recentemente, a nova muralha leonina formada pelo intenso Schelotto, o magnifico Sebastián Coates, o aplicadíssimo Rúben Semedo e o determinado Marvin Zeegelaar. De todos esse talento e de um diamante em bruto como Slimani fez Jesus fortes competidores e uma equipa de autênticos leões.

Para vencer campeonatos não chega, realmente, ter talento. É preciso mentalidade verdadeiramente competitiva, é preciso compromisso, é preciso trabalhar muito e todos os dias, é preciso concentração total e nunca relaxar, é preciso permanente foco no objectivo, é preciso união, sentimento de equipa, comunhão com os adeptos, é preciso ser solidário, morrer pelo companheiro, sacrificar interesses individuais à força do colectivo, e é preciso que tudo isso junto seja capaz de ajudar a equipa a superar-se sempre que os momentos forem menos bons.
Tudo aquilo que o Benfica demorou alguns anos a construir, bem e de forma estruturada, já neste século, e tudo aquilo que o Sporting está, agora, a criar sobretudo pela mão de Jorge Jesus.
Sempre ouvi dizer que os campeões são, na maioria das vezes, as equipas que vencem mesmo quando não jogam bem. Porque quando as melhores equipas - e os melhores jogadores - jogam bem dificilmente deixam de ganhar.

Foi, na minha opinião, muito graças ao que está, pois, para lá do talento que o Benfica conseguiu reerguer-se e superar a perda de um treinador com a tremenda influência que Jorge Jesus teve na Luz. Nem sempre jogando bem, lá está, nem sempre sendo muito consistente, nem sempre conseguindo superioridade clara, a verdade é que o Benfica tem mostrado esta época como cresceu tanto nos últimos anos, como se tornou numa força de futebol dominante e não apenas pontualmente dominadora, e como se preparou para suceder na realidade ao esmagador FC Porto das duas últimas décadas e meia. Jorge Jesus foi, na Luz, fundamental e decisivo nesse processo (seja o Benfica capaz ou não de o reconhecer agora) e Rui Vitória teve entretanto, no mínimo, o enorme mérito de aproveitar o que lhe pareceu bem e de induzir a equipa a confiar nela própria.
Rui Vitória parece ter apostado forte - e terá acertado - no lado emocional da equipa, na coesão e na força interior, criando-lhe provavelmente a ideia, já aqui o escrevi, de que ela precisaria de jogar pela própria vida e pela honra de ser bicampeã nacional e de lutar para que nada, e ninguém, o pudesse pôr em causa.

Nessa medida, parece Rui Vitória ter sido inteligente. Terá percebido a tempo o que fazer e como fazer para levar a equipa a superar-se muito mais pela força da alma do que pela solidez do próprio jogo, e a verdade é que temos visto muitas vezes este Benfica jogar muito mais como uma equipa ferida no orgulho e atingida no caráter do que propriamente como uma equipa de grande futebol. 
Claro que cada tem treinador tem o seu estilo e a sua forma de conduzir as equipas, mas confesso a minha atracção por treinadores intensos, que se alimentam do jogo e do que querem que os jogadores façam, gosto de ver no campo treinadores como Jorge Jesus ou Diego Simeone, que refilam e se irritam, que corrigem e alertam, que vivem o jogo no limite e estão sempre prontos a intervir, que dão tudo para contagiar as suas equipas, para as empurrar, para as guiar, como autênticos generais querendo o sucesso das suas tropas.
De Rui Vitória, o que vemos é na realidade bastante diferente disso. No banco (e naquela área técnica que limita a acção dos treinadores) Rui Vitória mostra-se mais passivo. Mas também é inegável que mostra, ao mesmo tempo, muita tranquilidade e talvez passe, com esse estado de alma, uma ideia de confiança na equipa.
A esse estilo e a essa confiança juntou-lhe Rui Vitória também a natural auto confiança que foi ganhando à medida que foi vendo a equipa vencer e foi vendo a equipa subir até à liderança do campeonato, até aos quartos de final da Liga dos Campeões e, agora, até à final da Taça da Liga. 
Mérito de Rui Vitória esse compromisso emocional que o Benfica revela. Mas é sério reconhecer que este Benfica alimenta-se hoje, em matéria de futebol, da potência do tal Ferrari de que Jesus falou e que, queira-se ou não, o mesmo Jesus muitíssimo ajudou a construir na Luz.
Polémicas à parte, este é pois um campeonato e uma época destinados a ficar na história do futebol português por terem sido os dois grandes rivais de Lisboa protagonistas de um dos mais empolgantes duelos de sempre.
Só por isso, já devíamos agradecer-lhes.

Sim, também concordo que estas duas últimas jornadas já deveriam ter levado os jogos com influência directa entre si a serem jogados à mesma hora. Na verdade, não consigo realmente perceber porque abandonou a Liga essa medida cautelar, digamos assim. Pegando apenas num exemplo, julgo que não faz muito sentido que os aflitos Tondela e Académica joguem antes do V. Setúbal, uma vez que Tondela e Académica ocupam os os últimos lugares da Liga e, em caso da derrota de ambos (respectivamente nos campos de Paços de Ferreira e SC Braga), já não precise, na prática, o V. Setúbal de se incomodar muito com o seu jogo em Alvalade.
Será assim tão difícil defender o clima de confiança indispensável para que os adeptos se sintam verdadeiramente protegidos na sua paixão pelo futebol?

Comenta-se nos bastidores que o presidente do Benfica não terá gostado nada de ouvir de figuras ligadas ao clube comentários públicos sobre suspeitas privadas. Nomeadamente sobre o confronto de domingo, com o Marítimo. Comenta-se ainda que Filipe Vieira terá decretado silêncio. Fez muito bem. Há limites para tudo!"

João Bonzinho, in A Bola

PS: Até compreendo Luís Filipe Vieira se realmente mandou 'calar' alguns os Benfiquistas antes do jogo da Madeira (até porque em Portugal é normal os criminosos tentarem passar por vitimas... como foi visível naquela 'conversa' do Panelão!), mas é incompreensível do ponto vista jornalístico, criticar ou censurar denuncias, que até foram confirmada indirectamente pelas 'respostas' dos visados...!!!
Mas estes são os jornaleiros que temos... que já passaram todos os limites da decência e da dignidade profissional à muito tempo...

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