Últimas indefectivações

domingo, 19 de novembro de 2023

O exemplo de Varandas e de Rui Costa


"Os presidentes do Sporting, Frederico Varandas, e do Benfica, Rui Costa, aceitaram o convite do presidente do Comité Olímpico de Portugal, José Manuel Constantino, e jantaram à mesma mesa na cerimónia de atribuição dos Prémios do ano, atribuídos pelo COP. Pode parecer, apenas, um gesto simpático e cortês. É muito mais do que isso.
O desporto em Portugal vive um período particularmente invulgar. Atletas, treinadores e dirigentes das mais diversas modalidades, incluindo as olímpicas, redobram esforços e reinventam fórmulas de desenvolvimento capazes de contornar o aparentemente incontornável. O Estado continua a entender, para além do discurso politicamente correto, que o desporto é muito importante na sociedade e na formação dos cidadãos, mas nunca o inscreve na lista das suas verdadeiras preocupações e os media nacionais, que procuram a sua sobrevivência num estreito mini mercado de informação assente na ideia do retorno da atenção imediata, exageram na futebolização do desporto nacional, deixando a grande maioria das modalidades sem cobertura mediática e, pior, sem escrutínio.
O desporto, em Portugal, visto numa perspetiva ampla, está entregue a si próprio, exclusivamente dependente da boa ou má qualidade dos seus protagonistas, vivendo em relâmpagos de incentivo provocados por marcas excecionais, títulos europeus e mundiais que parecem quase inexplicáveis e exemplos de superação que ficam na área restrita do pequeno universo que sobra do imenso continente do futebol.
É por isso que a presença de Varandas e de Rui Costa na Gala do Comité Olímpico teve um simbolismo importante, aliás evidenciado no magnífico discurso de José Manuel Constantino. Em primeiro lugar pela afirmação de que dois presidentes de dois dos maiores clubes nacionais não têm apenas uma consideração representativa pelo desporto além futebol, mas porque afirmam, de forma institucional, que o futebol, num país de monocultura desportiva, tem o dever de ser solidário, de ser inclusivo, de ser protagonista de uma inter-relação que, nestes tempos de egoísmos e de egocentrismos, surge como diferenciadora numa sociedade que se move por interesses particulares ou de grupo.
A menos de um ano dos Jogos Olímpicos de Paris, Portugal tem conseguido resultados, nas mais diversas modalidades olímpicas, que ultrapassam as expectativas que estariam mais de acordo com uma lógica assente em meios e em condições comparativas com outros países. Pode, aliás, acontecer que os Jogos de Paris resultem, para Portugal, no maior sucesso desportivo de sempre, tanto em medalhas conquistadas, como em resultados globais. E isso parece contraditório com o preocupante resvalar para o desinteresse público que também resulta diretamente do desinteresse publicado.
É provável que a luz mediática se acenda durante os Jogos para os tornar vendáveis e rentáveis em relação ao pouco investimento que deverão suscitar. Essa será, como sempre, a altura das exigências de medalhas e de feitos extraterrestres. Os melhores serão recebidos com esplendor no Palácio de Belém, receberão mensagens e abraços apertados dos membros do governo, sejam eles quais forem, lá para os idos de agosto. Mas, como sempre acontece, pouco durará essa luz. Logo o desporto regressará à sua íntima solidão e à sua luta contra o desconhecimento e a tradicional incultura desportiva nacional. Mas é nesses momentos, em que o foco mediático não está apontado para o palco, que gestos como os de Varandas e de Rui Costa mais se tornam essenciais a uma ideia de esperança.

Dentro da área
Assembleia Geral cancelada
O Conselho Superior do FC Porto decidiu cancelar a Assembleia Geral do clube que deveria votar uma polémica proposta de alteração de estatutos e que por isso mobilizara muitos milhares de sócios. Em primeira sessão, essa Assembleia descambou em graves incidentes de violência que causaram sérios danos reputacionais à ideia de democracia do clube. Uma segunda sessão não evitaria o risco e não garantiria o voto favorável. O Conselho optou por cancelar. Entre as justificações e as culpas, lá estava o empolamento dos media!

Fora da área
Jornalistas levados à mão
Houve um momento na guerra de Israel com o Hamas, depois dos primeiros bombardeamentos e das imagens dos seus efeitos trágicos que passaram pelo mundo, que os israelitas estiveram a perder na decisiva batalha pela informação conveniente. Mas o problema foi rapidamente resolvido. Com enorme sentido estratégico, o poderoso exército que invadiu a faixa de Gaza começou a integrar jornalistas das mais diversas nacionalidades. Levados à mão, os repórteres de guerra viram e contaram o que foram levados a ver."

Vítor Serpa, in A Bola

Sem comentários:

Enviar um comentário

A opinião de um glorioso indefectível é sempre muito bem vinda.
Junte a sua voz à nossa. Pelo Benfica! Sempre!