"Setembro marcou o término das águas agitadas do mercado de transferências. Das notificações que o Twitter insistia em disparar quase a cada segundo e das 'bombas' que tanto a televisão como os jornais lançavam vinte e quatro por sete, exponenciando tudo o que os clubes pretendiam (ou não) fazer passar para os seus adeptos.
Com todo este frenesim, impõe-se uma questão que merece a nossa reflexão: até que ponto a qualidade de um jogador continua a ser o atributo mais importante quando falamos do mercado de transferências?
Certamente já não o é e, se no passado o mundo do futebol pouca atenção dava à vertente comunicacional, atualmente, uma comunicação eficaz é tão ou mais importante para uma transferência, como a qualidade que o próprio jogador apresenta em campo. Certo é que aqui não me refiro ao que se passa dentro do mesmo. Todos sabemos que um bom cérebro e dois pés são muito mais importantes que qualquer palavra que possa sair da boca de um jogador. No entanto, o mercado necessita que esse talento seja comunicado.
Aqui, a capacidade comunicacional dos clubes torna-se fundamental para potenciarem e venderem os seus ativos. Ter astúcia, e saber vender, acaba por ser tão ou mais relevante que a qualidade que o jogador demonstra em campo. Se dúvidas disto existissem, os mais recentes exemplos dissipam-nas. Em Portugal, o caso ganha contornos especialmente interessantes, uma vez que é uma realidade à qual estamos muito familiarizados e onde a própria imprensa tem um papel ativo neste género de "propaganda futebolística", onde se "vendem" jogadores como quem vende flores.
Sabemos que a flor em si pode não ser a mais bela, porém basta a florista fazer um bom arranjo para conseguir encantar o mais exigente comprador. No futebol, se virmos bem, não é assim tão diferente. São cada vez mais recorrentes os casos em que os jogadores são "vendidos" pelo trabalho que o clube faz em termos comunicacionais, em detrimento do rendimento que apresentam em campo.
No nosso país, esta máquina de comunicação parece cada vez mais oleada pelos clubes, uma vez que têm na imprensa o veículo ideal para exponenciarem o valor de um jogador. A saída de Gonçalo Ramos para Paris ou a surpreendente ida de Chermiti para o Everton são exemplos acabados e fazem-me lembrar um passado recente que hoje é alvo de várias críticas, João Félix. Ninguém tem dúvidas da qualidade do jogador português que saiu do Benfica por 120 milhões, mas também todos sabemos que a sua saída foi altamente inflacionada, não só pelas capas de jornais, mas pela tática negocial e comunicacional do Benfica.
Esta estratégia dos clubes vocacionada para a vertente económica, não deixa de acarretar um perigo tremendo, não só para os próprios, como para os seus ativos. Se a curto prazo pode ser (sem dúvida que é) a melhor tática, a longo prazo começamos a ver que, porventura, o impacto poderá não ser assim tão positivo. Quer para os jogadores que ficarão reféns da propaganda gerada em seu torno, quer para os clubes que poderão ver a sua reputação afetada pela falsa expectativa criada, aquando da venda de um determinado ativo.
Ponto que nos leva a questionar sobre qual deve ser o papel da comunicação dos clubes e de que forma estes devem conseguir conciliar a vertente económica com uma comunicação mais humanizada, tendo em conta os interesses de todos os envolvidos.
Afinal, quanto vale um ramo de flores?"
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