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terça-feira, 4 de abril de 2023

Uma bala de Gonçalo Ramos soprou para longe do Benfica as nuvens cheias de perigos


"Apesar de alguns sustos e desacertos, os lisboetas conquistaram os difíceis três pontos em Vila do Conde contra um certinho e criativo Rio Ave. Gonçalo Ramos fez o golo pouco depois do intervalo e, até ao fim, enquanto os líderes do campeonato tentavam baixar o ritmo e controlar as feras de verde e branco, os homens da casa tentavam forçar o empate. Benfica vai para o clássico com o FC Porto, na Luz, com pelo menos 10 pontos de avanço

O futebol não está feito para os defesas. Patrick William, um dos estóicos defesas do Rio Ave, esteve irrepreensível durante largos, largos minutos. Olhos nos olhos com os magos que têm uma águia em cativeiro no tecido vermelho, o central foi ladrão e roubou-lhes o pão quase sempre. Transformar-se numa figura insuperável é a fantasia de qualquer homem cuja primeira labuta é impedir a felicidade dos outros. O problema é que os magos têm demasiadas oportunidades.
Pouco depois do intervalo, João Mário, o inusitado melhor marcador da Liga, recebeu a bola na direita. Patrick William chegou perto com o orgulho e memória de quem sabe o que fizera por ali nos últimos tempos. João Mário pouco se importou e fez o mais difícil, ou talvez o mais improvável, o que se revelou uma ratoeira para o defesa brasileiro. A bola, obediente, passou por baixo das pernas do defesa. O médio tocou então para Gonçalo Ramos, que confirmou a falta de fineza esta tarde. Mas, lá está, porque esta gente tem sempre direito a uma segunda opinião, a bola chocou nas pernas de Aderllan Santos e regressou aos pés do avançado. E, sem hesitações, saiu um tiro. À camisola 9. O Benfica ganhou assim, em Vila do Conde, contra um mui competente Rio Ave, que gosta de valorizar a forma redonda e gloriosa da bola.
Os vilacondenses, com muita bola durante o jogo, entraram muito bem. Os encarnados responderam através de um projeto arquitetónico brilhante, saído da mente de Grimaldo que habita na canhota do espanhol. Subitamente, Rafa e Gonçalo Ramos estavam perante Patrick William, que ganhou o duelo. O Benfica denunciou aqui o que faria com insistência: atacar pela esquerda.
Com Florentino Luís no banco, Roger Schmidt, acabadinho de renovar contrato até 2026, apostou em Fredrik Aursnes e Chiquinho, um admirável adaptador para qualquer instalação, com um toque de bola bastante interessante e com uma excelsa noção de coletivo. O fato de macaco, como tanto convocavam os treinadores de antigamente, assenta-lhe como um fato de gala. Do outro lado, Guga, Samaris, João Graça e André Pereira, o avançado solidário e bom de bola, deixavam escapar uma brisa futeboleira bastante agradável. Os dribles delirantes de Fábio Ronaldo, mais raros é certo, também cutucavam aqui e ali a gaveta da satisfação.
Gonçalo Ramos ameaçou duas vezes a baliza de Jhonatan. Mas não parecia ser uma tarde feliz para o avançado pistoleiro. Os movimentos eram bons, a disponibilidade idem, mas era mesmo uma questão técnica. Faltava o último toque rico. Basta isso para uma equipa tornar-se pecaminosa numa zona mais adiantada. E a dúvida entrar. Talvez por isso se tenham visto algumas ações individuais menos encorpadas, mais por falta de solução ou ideias do que outra coisa.
Até ao intervalo, David Neres também tentou a sorte contra a baliza do Rio Ave, que testemunhou de perto uma tentativa de chapelada de Rafa, ainda longe do Rafa que encheu relvados e corações.
O golo, já vimos, surgiu depois do intervalo, logo aos 46’. Foi o 17.º golo do jovem avançado do Benfica, que igualava assim João Mário. O Rio Ave respondeu com mais coragem – ajudou a entrada do experiente e sábio Vítor Gomes – e remates de Guga, mais solto e especial no segundo tempo, e ainda por Emmanuel Boateng, que revelou uma relação complicada com a baliza de Odysseas Vlachodimos, que raramente era deixado ao abandono por Nicolás Otamendi e António Silva. Os centrais lisboetas cresceram na reta final do jogo quando os homens da casa se agigantaram e tentaram forçar o empate.
Javi García, no banco, explicava o que Florentino tinha de fazer assim que entrasse no relvado de Vila do Conde. O médio português, importante para afinar a música da equipa, entrou juntamente com Petar Musa. O ritmo dos visitantes caiu inteligentemente… ou perigosamente. O resultado, já sabemos, ditaria esta conversa. O Rio Ave continuou a pedalar e a tentar fazer mossa, Hernâni bateu com força, mas Vlachodimos puxou o protagonismo para ele. O jogo terminaria como Gonçalo Ramos o deixou aos 46’, sendo que já contava nesta fase, desde os 80’, com o contributo de Casper Tengstedt, que já se estreara para o campeonato no Funchal.
O apito final de um jogo complicadíssimo para o Benfica trouxe a certeza de que no clássico da próxima sexta-feira, no Estádio da Luz, com o FC Porto, os líderes do campeonato terão uma vantagem de pelo menos 10 pontos. Pode ser também de 12 ou 13 pontos. Depende do que os rapazes de Sérgio Conceição vão fazer no Dragão, esta noite, contra o Portimonense."

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