"Boas práticas é uma expressão derivada do inglês best practice, que denomina técnicas identificadas como as melhores, para realizar determinada tarefa. Neste terceiro episódio de - Por águas nunca dantes navegadas (2.º episódio AQUI) o desporto é necessariamente um meio e não um fim em si mesmo, por isso, importa recordar três frases icónicas de Pierre de Coubertin o criador dos Jogos Olímpicos da era moderna até pela sua relação direta com o que presenciei e vivi na primeira pessoa.
O que é o Olimpismo, e o que pretende ser? "O Olimpismo procura criar um modo de vida com base na alegria encontrada no esforço, no valor educacional das boas práticas e exemplos e no respeito pelos princípios éticos fundamentais universais", e ajuda-nos a refletir como o atleta olímpico deve sentir os Valores Olímpicos do Respeito, Excelência e Amizade. "No dia em que um desportista parar de pensar acima de tudo na felicidade que retira do seu próprio esforço e o poder e equilíbrio físico que dele deriva, o dia em que ele permitir que as considerações de vaidade ou interesse se apoderem dele, então nesse dia, o seu ideal morrerá. E não menos importante "O espírito olímpico não é propriedade de uma raça nem de uma época." Diria que é de todos, desportistas e sociedade civil.
Assim sabemos todos que podemos ter como objetivo transformar, melhorar a cultura desportiva de um povo, e ser um meio para transmitir uma visão da sociedade mais inclusiva, mais solidária, mais tolerante, potenciar os Valores da Excelência, do Respeito e da Amizade. No fundo, ter um propósito que está acima das nossas circunstâncias, deixar uma semente, não importa quem vier colher os frutos, e que seja sustentável nas 3 dimensões, social, económica e ambiental, nesse dia estaremos a cumprir os ideais olímpicos que não são nem mais, nem menos que os ideais de uma sociedade que se pretende próspera.
Neste artigo, como no anterior, continuo a tentar perceber quem e porque, no mundo desportivo português, se aventurou por águas nunca dantes navegadas. Neste novo episódio, numa viagem ao mundo fascinante do Pentatlo Moderno, encontrei plasmado os três pensamentos do Barão Pierre de Coubertin atrás expostos, o que me enche particularmente de orgulho, visto tratar-se de uma modalidade que pratiquei enquanto Atleta Olímpico.
A História
O Pentatlo Moderno foi introduzido pelo Barão Pierre de Coubertin nos Jogos de Estocolmo de 1912, e era composto de tiro, esgrima, natação, hipismo e corrida. A sua crença era de que o evento testaria "tanto as qualidades morais do homem, quanto os seus recursos físicos e habilidades, produzindo um atleta completo."
De cinco dias para um
De 1912 a 1980, o Pentatlo Olímpico moderno acontecia durante cinco dias, com um evento por dia. Atualmente, o evento acontece em apenas um dia. Os competidores pontuam nos primeiros três eventos, que decidem as suas posições de início para o evento combinado final, composto de tiro e corrida. O primeiro a cruzar a linha de chegada conquista a medalha de ouro.
Reunindo multidões
A mudança para o formato atual – num único dia – ajudou o público a melhor entender e a conectar-se com a modalidade, fazendo dele um espetáculo mais atrativo.
Pistola a laser
Em 2010, durante a primeira edição dos Jogos Olímpicos da Juventude, em Singapura, os atletas usaram pela primeira vez no evento combinado uma pistola a laser em vez da tradicional pistola (de ar comprimido) de pressão durante uma competição internacional. O tiro a laser foi introduzido por razões de segurança e também para reduzir o impacto ambiental das balas de chumbo com estreia nos Jogos Olímpicos de Londres 2012.
A Federação Portuguesa de Pentatlo Moderno
Tive a felicidade de a convite da Federação Portuguesa de Pentatlo Moderno de estar em dois momentos diferentes de pura exaltação do desporto, o desporto para todos, o prazer no desporto e a competição, pude presenciar a proximidade entre pais e filhos. Pais e filhos possuem uma ligação eterna, porém, por pertencerem a gerações totalmente diferentes, muitos acabam por afastarem-se com o passar do tempo, o que assisti foi proximidade e tempo de qualidade juntos, famílias a conviverem uns com os outros e não apenas a "cruzarem-se pela casa".
No Campeonato do Mundo de Laser Run na Expo em Lisboa, e no Campeonato do Mundo de Biatle e Triatle no Machico, Madeira, vários fatores-chave de sucesso despertaram a minha curiosidade, o primeiro ser uma organização portuguesa e em território nacional, percebi a capacidade de atrair o investimento dos "players" internacionais, uma Federação Portuguesa a criar o modelo de negócio sustentável e a perceber que os casos de sucesso e referência são fundamentais para evoluir nomeadamente o envolvimento com as congéneres mundiais, o terceiro fator a liderança e capacidade organizativa demonstrada. E quais os denominadores comuns? O desporto a ser visto no seu elemento mais puro, o da participação, da sã convivência, do prazer, da participação desde os mais novos aos mais velhos, famílias inteiras, 3 a 4 gerações envolvidas, onde os organizadores assumem um papel fundamental, a simbiose perfeita entre duas personalidades do desporto que se complementam num objetivo comum, o atual Presidente, o médico e Atleta de Esgrima, João Paulo Almeida, e o Atleta Olímpico do Pentatlo Moderno (4 olimpíadas), Manuel Barroso que nos últimos anos esteve à frente dos destinos da Federação, animador e verdadeiro motor da modalidade e da sua expansão nos últimos anos.
Vou tentar nas próximas linhas, com pensamento sistematizado e no meu ponto de vista, apresentar os ingredientes que tornam a FPPM um modelo de sucesso, desde a inovação, passando pelos resultados e também, claro, pelos recursos humanos essenciais e verdadeiramente envolvidos nesta trajetória de sucesso.
Recordo o que escrevi nos meus últimos artigos, e mais uma vez, reitero que o modelo organizacional no desporto não deve diferir do modelo empresarial. Aliás, um projeto, um clube, uma federação, para além de ser uma empresa de vida, é uma Empresa no sentido literal, em que o profissionalismo, o compromisso, os resultados, as boas práticas, os praticantes (os quais são a base do edifício), o alinhamento de todos na mesma estratégia e a sua sustentabilidade e responsabilidade social, estão umbilicalmente ligados aos bons resultados.
Alguns Dados
Jogos Olímpicos: 7 presenças em edições – 8 atletas participantes
• 1928 Sebastião Herédia - Amsterdão (31.º lugar);
• 1932 Rafael Afonso de Sousa - Los Angeles (22.º lugar);
• 1932 Sebastião Herédia - Los Angeles (23.º lugar); • 1952 José Serra Pereira - Helsínquia (46.º lugar);
• 1952 Ricardo Durão- Helsínquia (41.º lugar);
• 1952 António Lopes Jonet - Helsínquia (48.º lugar);
• 1984 Manuel Barroso - Los Angeles (49.º lugar);
• 1984 Roberto Durão - Los Angeles (44.º lugar);
• 1984 Luís Alves Monteiro - Los Angeles (43.º lugar);
• 1988 Manuel Barroso - Seul (34.º lugar);
• 1992 Manuel Barroso - Barcelona (53.º lugar);
• 1996 Manuel Barroso - Atlanta (19.º lugar)
Ação Federativa 2005/2020 Presidente:
Manuel Barroso (4 mandatos) Atleta Olímpico: JO 1984/1988/1992/1996
Medalha Nobre Guedes COP 1990 Campeão da Comunidade Europeia 1990, 8.º "Ranking" Mundial 1990
Mais de 200 internacionalizações em natação, esgrima, triatlo e pentatlo moderno
N.º Atletas 850
N.º Treinadores 63
N.º Árbitros 90
N.º Clubes 33
Dinâmica de desenvolvimento desportivo actual
- 3 Formatos desportivos: Biatle – 300 atletas entre os 6 e os 70 anos de idade a participar
- Laser Run – 400 atletas entre os 6 e os 70 anos a participar
- Via Olímpica Pentatlo – 150 atletas entre os 6 e os 30 anos a participar.
Ações de Promoção e Experimentação – Públicos Alvo atingidos por ano cerca de 10 000
Quadros competitivos Nacionais:
- 30 Provas anuais nos 3 formatos, Calendário Internacional de Seleções Nacionais – 10 provas incluindo Europeus e Mundiais Sub17, Sub19, Juniores e Seniores.
N.º Atletas no Alto Rendimento- 6
N.º Grandes Eventos Mundiais em Portugal depois de 2005 – 17
Campeonato do Mundo de Sub19 2018 em Caldas da Rainha – Galardoada com o Prémio UIPM de Melhor Organização de Evento Mundial do Ano.
Impacto de participação de atletas por via da realização de grandes eventos mundiais em Portugal – 2500.
1 Árbitro Internacional no Circuito Mundial
O problema
A necessidade de reinvenção da modalidade, a atratividade para os parceiros, patrocinadores, entidades, a modalidade hipismo estar fora de equação a partir de 2024, o modelo de negócio, a base do edifício, a formação, a verdadeira sustentabilidade do modelo económico.
O Modelo
Podemos chamar-lhe um market place, uma plataforma que se pode deslocar em termos logísticos da Expo Lisboa a Machico na Madeira, com a garantia de atrair pessoas, famílias, inteiros agregados familiares e fãs que no caso da Madeira Machico significou mais de 2500 pessoas com impacto evidente na economia local, o turismo desportivo no seu esplendor, misturando o prazer, a gastronomia, a paisagem a diversidade cultural, com participações desde o continente sul-americano como Guatemala, ao continente africano Egipto e África do Sul, estas últimas nações com delegações superiores a 100 elementos, jovens apoiados numa verdadeira visão desportiva/competitiva onde principalmente naqueles dois Países africanos o desporto Escolar é uma realidade integrada no percurso do desportista atleta e cidadão.
Inovação
Planos estratégicos saem da gaveta, conta-se em poucas palavras a inovação, a reinvenção associada a uma proposta valor que inclui alguns fatores essenciais, a descentralização, onde as autarquias percebem e entendem o valor acrescentado deste tipo de organizações centradas no desporto e convivência e a visibilidade da região, com sinergias estabelecidas entre o turismo local. Mais uma vez o financiamento será sempre importante, mas ainda mais importante que o dinheiro necessário à organização, é o valor percebido por todos os stakeholders, aqui aplica-se uma fórmula de sucesso, não se tentar resolver simplesmente aplicando o dinheiro em cima do problema, antes, saber-se onde vai ser aplicado como e com que resultados, e qual o retorno do investimento.
Recursos Humanos
Mais uma vez os atletas neste caso olímpicos a demonstrar que temos que quebrar o paradigma do dirigente desportivo amador, Manuel Barroso teve 16 anos de ciclo olímpico, viajou pelos quatro cantos do mundo, muitas vezes sozinho onde aprendeu a conviver com muitas culturas diferentes, fenómenos organizacionais relativamente eficientes, mas soube exponenciar a sua experiência adquirida, utilizando um modelo organizacional num equilíbrio perfeito entre a paixão que o desporto exige e a exigência e o profissionalismo de uma empresa atraindo e formando uma equipa de atletas, dirigentes, árbitros, treinadores, que demonstrou e demonstra estar preparada para organizar, preparar, inovar, aprender e apresentar resultados.
Considerações finais
Porquê "O Pentatlo Moderno uma família feliz"?. Os processos de construção da família mudaram a par com as mudanças sociais. Conceitos como estabilidade, durabilidade ou permanência foram progressivamente substituídos por diversidade de experiências, instabilidade e satisfação individual. E se isto sucede no plano familiar, com uniões de tipos muito diversos, diferentes formas de viver em família e projetos de família de menor duração, sucede também noutros campos, designadamente o profissional, em que o conceito de trabalho para a vida ou mesmo de permanência numa mesma organização deixaram não apenas de ser possíveis, na maioria dos casos, como deixaram até de ser valorizados, em termos de avaliação curricular.
Onde antes se valorizava a permanência, hoje valoriza-se a diversidade e o mesmo ocorre com as famílias. E ocorre porque a família, enquanto instituição social, é plástica e, por isso, molda-se aos padrões sociais envolventes e, claramente, o padrão atual é de mudança rápida e de pluralidade de modelos, em permanente atualização. O que as famílias fazem, simplesmente, é adaptar-se a isto, o que o Pentatlo Moderno fez foi adaptar-se aos tempos modernos, à diversidade, à mudança, aos novos padrões, criando um cenário em que todos ganham e permite em última análise criar um modo de vida com base na alegria encontrada no esforço, no valor educacional das boas práticas e exemplos e no respeito pelos princípios éticos fundamentais universais.
Um agradecimento especial a todos os que fizeram desta modalidade rainha, um espelho da virtuosidade dos Jogos Olímpicos, criada de propósito para os Jogos Olímpicos, pioneiros desta saga do Miguel Strogoff, os meus comtemporâneos, João Paulo Almeida, João Abrantes, Manuel Barroso, Ricardo Durão, Roberto Durão Pai, Roberto Durão Filho, Gonçalo Durão, António Abrantes, Orlando Ramos e Rui Ramos, etc, etc."
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