"1) Casa assombrada. O arranque de 2020 dificilmente poderia ser mais obscuro para o Sporting. É certo que as arduidades eram expectáveis, mas apenas 1 vitória – em Setúbal, sem fulgor, ante um Vitória pejado de baixas – e 3 derrotas – ante FC Porto, Benfica e SC Braga – em 4 jogos confirmaram a tendência depressiva da época dos leões. É que após o afastamento precoce da Taça de Portugal ante o Alverca e de um adeus prematuro à conquista do título nacional, por muito árduo que seja assumir um facto que rapidamente se tornou óbvio, o Sporting perdeu a hipótese de conquistar a terceira Taça da Liga consecutiva e falhou a aproximação – ainda que eventual – à luta pelo 2.º lugar. Pior, voltou a cair no 4.º lugar, a 2 pontos do Famalicão, com a agravante de ter consentido que SC Braga (a 2 pontos), Vitória de Guimarães e Rio Ave (ambos a 4 pontos) se aproximassem. Depois, 6 das 8 deslocações que os verde-e-brancos terão que protagonizar até ao fim do campeonato serão a Braga, a Vila do Conde, a Famalicão, a Guimarães, ao Dragão e à Luz. O que implica uma segunda metade de exercício inóspita.
2) Da dupla de médios de contenção ao temerário trivote. Diante do FC Porto, o Sporting procurou ter uma entrada afirmativa e pressionante. Só que o tento madrugador dos dragões, na primeira aproximação à baliza opositora, fez ruir a ambição leonina, desfraldando debilidades no controlo da profundidade, bem patentes na forma como a última linha estava desorganizada e não conseguiu reagir a uma situação de bola descoberta. Ao invés, ante o Benfica e o SC Braga, a formação orientada por Silas entrou mal nos jogos, permitindo que os rivais pressionassem alto com acutilância e reagissem com contundência à perda, o que condicionou as duas primeiras fases de construção – e a ligação entre estas – do Sporting, e abonou recuperações em zonas altas, até porque os médios-centro– Doumbia e Wendel diante do Benfica; Battaglia, Doumbia e Wendel frente ao Braga, num reforço para muscular e equilibrar a zona intermediária que conduziu a uma postura excessivamente temerária – foram sempre obrigados a receber a bola de costas para a baliza adversária. Se ao Benfica faltou eficácia em zona de finalização para ferir, no arranque da partida, o antagonista, a contundência na reacção à perda e na imposição de duelos dos bracarenses permitiram que Ricardo Horta adiantasse os guerreiros no marcador ao minuto 8.
3) Capacidade de reacção. Foi, muito provavelmente, o melhor ponto do Sporting nas 3 partidas. Frente aos dragões, já depois de terem alcançado a igualdade por Acuña, os leões protagonizaram um arranque retumbante de etapa complementar, conduzindo aos 20 minutos de melhor futebol que os leões exibiram em 2019/20. Foram cinco oportunidades claras, sempre com origem no corredor esquerdo, que asseveraram uma dinâmica ofensiva avassaladora, mas também uma ineficácia medonha em zonas de finalização. Frente ao Benfica e ao SC Braga, o Sporting não atingiu esse patamar, até por ter encontrado dificuldades para encontrar os mesmos espaços para assaltar o último terço, a que se juntou a ausência por lesão de Vietto, o que deixa os processos de construção, de criação e de finalização ainda mais dependentes de Bruno Fernandes e de Mathieu. Se é certo que diante das águias, o Sporting até teve as duas melhores oportunidades da etapa inicial, mas viria a faltar-lhe mais acutilância na chegada a zonas de finalização na etapa complementar, ante os guerreiros do Minho, a sagacidade de Bruno Fernandes a bater rapidamente um livre deixou, ante um oponente desconcentrado, Mathieu na cara de Matheus. E o francês não desperdiçou a oportunidade com uma frieza que muitas vezes tem faltado a Luiz Phellype.
4) Finais em perda. Quando se olha para o banco de suplentes do Sporting percebe-se que as opções de Silas são bem mais limitadas do que as de Bruno Lage, de Sérgio Conceição e de Rúben Amorim. E por muito que Silas tente mexer no jogo, as soluções raramente trazem mais-valias, o que reduz também os efeitos de eventuais mudanças estruturais. Um problema que poderá agudizar-se a outro patamar, caso se confirme a saída de Bruno Fernandes para a Premier League, o que tem tudo para acarretar um efeito catastrófico. Por isso, é sem grande surpresa que acontece um registo em perda dos leões na fase final das partidas. Além do golo sofrido ante o FC Porto na sequência de uma bola parada lateral, em que foram expostas as debilidades na defesa do segundo poste, a entrada de Rafa – e cá está a importância de mexer no jogo a partir do banco – desequilibrou nas entrelinhas um jogo que parecia caminhar para um nulo. Em Braga, na meia-final da Taça da Liga, a expulsão de Bolasie foi crucial para desequilibrar definitivamente o jogo. O Sporting desistiu de atacar e baixou linhas com a entrada de Neto para terceiro-central. Algo que não foi suficiente para impedir que os bracarenses usufruíssem de situações de paridade e de superioridade numérica em zona de finalização, como a que esteve na origem do tento de Paulinho ao cair do pano.
Observatório
Marcelo (Paços de Ferreira)
O antigo defesa-central de Rio Ave e de Sporting tem todas as condições para se afirmar como o patrão do sector defensivo dos castores, que se têm reforçado de forma competente no mercado de inverno. Marcelo destaca-se pelo sentido posicional e pela sagacidade na antecipação, mostrando-se impositivo no jogo aéreo nas duas áreas. Além disso, procura oferecer uma saída de bola limpa e criteriosa, alternando passes a diferentes distâncias.
Joel Tagueu (Marítimo)
Chegar, ver e marcar. O avançado camaronês, com nacionalidade brasileira, que deixou excelentes indicações – 19 golos em 49 jogos – na sua anterior passagem pelo Marítimo, será um trunfo importante para José Gomes no decurso da segunda volta. Canhoto móvel e extremamente incisivo no ataque à profundidade, destaca-se pela facilidade, oportunismo e agressividade com que aparece em zonas de finalização, tirando partido do seu jogo aéreo e do remate forte com o pé esquerdo."
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