"Nunca é aconselhável deixar para resolver mais tarde as tarefas do quotidiano. Geralmente as contas saem erradas quando, no momento próprio, não encaramos de frente e não resolvemos os problemas que se nos apresentam. Em todo o caso, nos cenários do desporto, tem de se reconhecer que os factores de decisão não são lineares, nem esquemáticos e, ainda que a cultura do meio determine que tudo se vá resolvendo, jogo a jogo e treino a treino, à medida das jornadas, as prévias escolhas dos executantes, ou as estratégias laboriosamente estudas e preparadas para cada não constituem propriamente matérias ou produtos resultantes de ciências exactas.
As decisões prévias nos desportos de equipa são tomadas pelos responsáveis considerando o somatório de experiências e desempenhos técnicos, físicos e psíquicos imediatamente anteriores dos jogadores que se encontram disponíveis, mas, naturalmente, tendo também em consideração as características da equipa adversária que vão defrontar e - de novo - as performances exibidas pelos jogadores contrários nas suas mais recentes apresentações.
Falta referir toda a panóplia das 'condições laterais' que também condicionam a preparação de cada jogo, jornada após jornada: a condição do piso em que se vai jogar; em algumas modalidades, as dimensões do campo de jogo; o estado do tempo; os riscos de iminente lesão de algum executante, devidamente assinaladas pelo gabinete médico; o temperamento habitual (e os 'mind-games' mais subtis ou mais provocatoriamente agressivos, por exemplo) do estratega da equipa opositora; a personalidade das equipas arbitrais (por que não?...) e o histórico das suas decisões em jogo; a envolvência contextual da partida - expectativas dos adeptos, conjuntura das classificações relativas dos contendores previsões de enchente, clima comunicacional dos clubes em presença e algarviadas dos seus respectivos peões mediáticos, etc., etc.
Enfim, o cenário de cada pré-match não constitui propriamente um 'mar de rosas', ou um ambiente fácil, resultante de valências estritamente mensuráveis e factores de ciência exacta. Nem para quem joga, nem para quem analisa (e quem é que, em boa verdade, é capaz de analisar, mesmo, com verdadeiro espírito crítico independente, justo e neutral, em Portugal?!...), nem para os que arbitram os desafios, nem - muito menos! - para aqueles que jogam e para aqueles que dirigem os que jogam. Mas o que se torna cada vez mais insuportável para o Público consumidor de Desporto - que assiste, atónito e perplexo a toda a constante baderna mediática - é a indigente narrativa das elucubrações que os pontas de lança da Comunicação 'especializada' persistem em exibir acerca dos seus próprios mais recorrente conceitos, como 'plantel', 'matriz de jogo', 'escolhas', 'rotatividade', 'inexperiência', 'lance discutível', 'defesa de betão', ou 'ataque acutilante', nos enfadonhos textos metafóricos que (quase sempre) escrevem com os pés, e em perguntas de pacotilha que ousam dirigir nas conferências de imprensa, aos verdadeiros heróis do nosso imaginário - alguns (raros) Treinadores e alguns (pouquíssimos) grandes executantes...
Por isso, vai daqui um grande abraço e justo abraço a Bruno Lage!
Gabo-lhe a infindável pachorra e a superior contenção dele, como sempre supera, com a maior humildade, tanta banalidade e tanta impertinência."
José Nuno Martins, in O Benfica
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