"Apesar da vitória em 2016, Portugal parte novamente como um dos outsiders. Mas se olharmos para o passado recente, correr por fora até pode ser útil.
Numa conferência de imprensa, Joachim Löw referiu algumas das selecções candidatas ao triunfo no Euro 2020 (em opinião própria, claro), e não colocou Portugal nesse lote. Em abono da verdade, Löw exclui a própria formação da Alemanha do grupo de grandes favoritos à vitória final. Diz o seleccionador alemão que quem parte na frente são equipas como Inglaterra, França, Espanha, Itália, Bélgica e Holanda, porque «já fizeram uma transição de gerações», dando a entender que a Alemanha está nesse processo e, portanto, terá menos condições de partir em busca da vitória. Talvez faça sentido.
Mas, então, e Portugal? Será que o técnico alemão tem razões para ter omitido a equipa de Fernando Santos?
Por um lado, defenderam imediatamente alguns, Portugal é o campeão em título. Automaticamente, deve ser visto como um dos favoritos à vitória - tem um grupo talentoso, e, lá está, venceu a edição anterior e acima disso não há nada. Esta é uma visão lógica e que se aceita - e por aí talvez se explique alguma indignação nas redes sociais contra Löw por se ter «esquecido» da equipa lusa. Mas vamos olhar de outros ângulos.
Em 2008 alguém via a Grécia como grande favorita, depois da vitória inesperada em 2004? Claro que não - e os gregos até saíram com zero pontos. Ora, o triunfo português em 2016 não é comparável ao da Grécia (ou até ao da Dinamarca em 1992), porque estamos a falar de uma equipa com talento em todos os sectores, com um dos melhores do mundo a aparecer em momentos decisivos, etc etc etc. O que já sabemos. Ainda assim, não se pode dizer que uma vitória em 2016 seria expectável, principalmente depois das pálidas prestações na fase de grupos.
Ao mesmo tempo, é impossível ignorar que a qualificação foi de serviços mínimos. Será praticamente unânime sublinhar que a campanha não foi vistosa, foi sim pragmática porque Portugal chegou lá (e isso é que interessa, defenderão alguns). Pelo meio, uma vitória na Liga das Nações, que foi importante, mas mais valorizada internamente do que no circuito internacional. E que não faz esquecer os empates com Ucrânia e Sérvia, e a imagem menos conseguida do último jogo no Luxemburgo. Ou seja, realmente, olhando à prestação nos grupos de apuramento, Portugal surgirá numa espécie de segunda linha de candidatos, porque a Inglaterra jogou mais, a França jogou mais, a Espanha jogou mais, a Bélgica jogou mais, a Itália jogou mais… E a Alemanha, mesmo com as palavras do seleccionador, é sempre a Alemanha.
E aí está, mesmo com o triunfo de 2016 no bolso, Portugal vai surgir novamente como uma espécie de outsider (a palavra da moda nas fases finais), ao lado de equipas como a Croácia ou a Holanda, mas claramente acima de muitas outras que até se mostraram na qualificação - como Turquia, Suíça, Polónia, Suécia ou Rússia… Mas que estão nitidamente abaixo das capacidades lusitanas.
E será que interessa verdadeiramente a Portugal ser visto como um grande favorito? Historicamente, quando as expectativas são muito altas, parece existir alguma tendência para quebrar. Nos Mundiais 2002 e 2014, por exemplo, Portugal surgia sempre referenciado como eventual vencedor, mas caiu cedo e com estrondo.
Além disso, o estilo de jogo que Portugal exibiu em 2016 é um «convite» venenoso às equipas mais fortes - pode efectivamente não interessar nada ter o rótulo de candidato, se isso se traduzir em maiores cautelas defensivas das equipas teoricamente mais poderosas. E a equipa de Fernando Santos até se sente confortável a gerir o jogo com pragmatismo e concentração defensiva, para depois explorar o erro de um adversário que quer assumir o jogo. Portanto, será Portugal favorito no Euro? Talvez não, mas se calhar até dá mais jeito assim."
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