"A camisola número 10. Uma camisola com uma mística e uma história particulares. A camisola do maestro da equipa, a camisola do mágico, a camisola dos craques, a camisola das lendas. Muitas foram os ícones da história do futebol que vestiram a camisola 10. De Pelé a Maradona, de Zidane a Messi. Parafraseando António Simões, sem o 10 este jogo não tem piada nenhuma, sem o 10 não existe futebol.
O SL Benfica não passou ao lado da história do 10, tendo visto grandes jogadores envergarem o manto sagrado com o número mítico nas costas. Decidi, então, fazer o melhor esforço possível para elaborar um top dos melhores jogadores que usaram a camisola 10 ao longo da história do Benfica.
Admito, desde já, que foi extremamente difícil, dada a qualidade e o carácter mítico de muitos destes jogadores. Haverá atletas que cuja posição neste top gerará sempre controvérsia, mas isto é um excelente indicativo dos nomes que estão à nossa frente.
Nota: Os números das camisolas só se tornaram fixos, em Portugal, a partir de 1995. Todos os jogadores anteriores a esta data jogaram e notabilizaram-se com diferentes números. O critério de elegibilidade para este top foi ter usado a camisola 10 durante um período considerável e não ser incrivelmente conhecido por ter usado outro número (CR7, por exemplo).
1.
Eusébio – Seria inevitável colocar o “Pantera Negra” no topo de qualquer top para o qual fosse elegível. Apesar de alinhar como ponta de lança, envergou durante vários anos (depois do recuo no terreno de Mário Coluna) a mítica camisola 10. Eusébio da Silva Ferreira foi, sem qualquer dúvida, o maior e melhor jogador da história do clube encarnado. Além-fronteiras, era visto como um autêntico símbolo e embaixador de Portugal e do Sport Lisboa e Benfica. De águia ao peito, o “King” conquistou 11 campeonatos nacionais, cinco taças de Portugal e uma Taça dos Campeões Europeus. No campo individual, foi por 7 vezes o melhor marcador do campeonato português, conquistou a Bola de Ouro em 1965 e a Bota de Ouro em 1968 e 1972. Os números falam por si, mas a qualidade e o carácter mítico de Eusébio sobrepõem-se a tudo. Lenda.
2.
Mário Coluna – O eterno capitão do SL Benfica. Nascido em Moçambique, chegou a Lisboa com rótulo de goleador. No entanto, Otto Glória detectou a sua verdadeira vocação e colocou o futuro “Senhor Coluna” em zonas mais recuadas. A partir desse momento, o “Monstro Sagrado” não mais deixaria o meio campo da equipa encarnada, onde conquistou dez Campeonatos Nacionais e sete Taças de Portugal, ajudando a quebrar a hegemonia do Sporting CP. Os momentos mais altos da carreira de Coluna seriam as conquistas das duas Taças dos Campeões Europeus, em 1961 e 1962. Resumir a carreira de Mário Coluna numa palavra torna-se simples pela sua conduta e pela opinião que companheiros e rivais têm do mesmo: essa palavra é respeito. Um verdadeiro senhor dentro e fora de campo, Coluna viria a ceder a sua camisola número 10 (aquando de um novo recuo no terreno) ao número um desta lista, com o qual tinha uma relação especial.
3.
Fernando Chalana – O “pequeno genial” que encantou as bancadas nas décadas de 70 e 80. Mesmo sendo pequeno de estatura, Chalana era enorme dentro de campo, espalhando sempre magia com o seu incrível pé esquerdo. O “Chalanix”, alcunha que adquiriu devido às parecenças com a famosa personagem de BD Asterix, conquistou seis Campeonatos Nacionais, três Taças de Portugal e duas Supertaças, ao longo das duas passagens pelo clube encarnado. Mesmo nos anos em que, com enorme pesar, esteve longe do seu clube do coração (representou o FCG Bordéus entre 1984 e 1987), conseguiu ajudar o clube das águias, pois o dinheiro da sua transferência permitiu concluir a construção do mítico terceiro anel do velhinho Estádio da Luz. Fernando Chalana é, provavelmente, a maior figura da história do Benfica que ainda está entre nós. No entanto, Chalana atravessa uma fase difícil da sua vida, o que justifica ainda mais a evocação da sua incrível carreira. Força, pequeno genial!
4.
Rui Costa – Rui Manuel César Costa, a personificação autêntica do que é um número 10. Dentro de campo, Rui Costa transpirava classe, qualidade e mostrava uma facilidade aberrante, enquanto parecia hipnotizar o esférico. As qualidades que o “maestro” tinha dentro do terreno de jogo equiparavam-se ao nível que mantinha fora dele. Rui Costa compreendeu sempre a mística do SL Benfica, e o sangue encarnado corria nas suas veias. Enquanto representou a ACF Fiorentina, Rui Costa, para sua tristeza, teve o azar de marcar um golo precisamente ao Benfica. O que se seguiu foi a imagem de um homem adulto a chorar como um bebé, naquele que foi o maior gesto de amor a um clube de que há memória. Com a camisola das águias, Rui Costa conquistou um Campeonato Nacional e uma Taça de Portugal.
5.
Diamantino Miranda – Fica na memória dos adeptos encarnados como um dos melhores e mais marcantes jogadores das décadas de 80 e 90, sendo também um dos mais emblemáticos e curiosos. A capacidade de desequilíbrio individual, a forma como transportava a bola colada ao pé, as mudanças de ritmo que conseguia imprimir no jogo: tudo isto está presente no imaginário do adepto encarnado. Todos os adeptos, com idade suficiente para se lembrarem, têm na memoria a terrível lesão que Diamantino sofreu a quatro dias da final da Taça dos Campeões Europeus, onde o Benfica defrontaria o PSV. Com Diamantino em campo, o resultado teria sido diferente? Nunca saberemos, mas o que é certo é que haveria muito mais magia no relvado. Diamantino conquistou quatro Campeonatos Nacionais, cinco Taças de Portugal e 2 Supertaças, ao serviço do SL Benfica
6.
Jonas – A mais recente figura encarnada e um dos mais emblemáticos jogadores da década. Jonas foi, sem qualquer dúvida, um dos melhores futebolistas que passou por Portugal nos últimos 15 anos, com apenas Aimar ou Casillas a poder concorrer por esta honra. O já experiente avançado brasileiro chegou ao SL Benfica descredibilizado e com o rótulo de desempregado, no entanto teria um impacto sem precedentes. A qualidade e a classe que espalhava em campo (mesmo quando já estava debilitado do ponto de vista físico) e todos os golos que marcou deixaram uma marca bastante profunda nos benfiquistas, sobretudo nos mais jovens, que olham para Jonas como um verdadeiro ídolo. Com o manto sagrado, Jonas conquistou quatro campeonatos nacionais, incluindo o inédito tetracampeonato, uma Taça de Portugal, duas Taças da Liga, duas Supertaças e foi por duas vezes o melhor marcador da Liga Portuguesa.
7.
Carlos Manuel – A “Locomotiva do Barreiro” é considerada por muitos um dos melhores médios ofensivos dos anos 80. Carlos Manuel foi certamente um dos jogadores mais técnicos, eficientes e produtivos da história do SL Benfica. A facilidade com que impunha o seu ritmo no jogo cativava qualquer um. A sua capacidade de remate e o gosto pelo golo colocavam um sorriso na cara de todos os benfiquistas. Na memória, fica o golo espetacular que marcou ao FC Porto, na final da Taça de Portugal de 1983 no Estádio das Antas. Ao serviço do Benfica, Carlos Manuel conquistou quatro Campeonatos Nacionais, sete Taças de Portugal e duas supertaças.
8.
Pablo Aimar – O verdadeiro sucessor de Rui Costa no SL Benfica. “Pablito” Aimar, o atleta que mais vezes utilizou a camisola 10 na história moderna dos encarnados, foi provavelmente o jogador com mais qualidade técnica pura que passou por Portugal nos últimos 10/15 anos. A forma como tratava o esférico parecia quase irreal. Dominada pelos pés do “mágico” a bola nunca chorava. Os passes de letra, os domínios mágicos, as fintas de trocar a vista. Aimar era magia e magia era Aimar. Os relvados portugueses ainda hoje têm saudades do pequeno mago argentino. A única coisa que se pode apontar a Aimar é o pouco sucesso colectivo que obteve no Benfica. Conquistou apenas um Campeonato Nacional e uma Taça da Liga. No entanto, fez parte da equipa encarnada de 2009/2010, a melhor equipa portuguesa dos últimos anos.
9.
Valdo – O médio ofensivo brasileiro teve duas passagens pelo SL Benfica (1988-1991 e 1995-1997). Valdo pertenceu a um selectivo grupo de jogadores que detinham o apelido de “mágico”. A alcunha era muitíssimo merecida face as enormes qualidades técnicas das quais dispunha. Com a camisola do SL Benfica, Valdo conquistou dois Campeonatos Nacionais, uma Taça de Portugal e uma Supertaça.
10.
Nico Gaitán – Um dos mais recentes magos a pisar os relvados portugueses. Gaitán era um jogador diferenciado. A qualidade com que tratava o esférico estava ao alcance de poucos. Ficará para a posterioridade a sua finta mágica e subsequente assistência para Lima, no mítico golo ao Sporting CP. No momento da sua despedida, Nico desfez-se em lágrimas, enquanto era aplaudido por um público que não fazia a mínima ideia de que iria ter tantas saudades do mágico argentino. Ao serviço da equipa encarnada, Gaitán foi por três vezes campeão nacional, conquistou uma Taça de Portugal, cinco Taças da Liga e uma Supertaça."
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