"De um momento para o outro tudo mudou no Benfica. A euforia do 37 já não é para aqui chamada. A satisfatória e “impossível” recuperação operada na época transacta, já pouco interessa ao adepto benfiquista. Já nem a goleada ao eterno rival, na supertaça, tem qualquer importância para a nação encarnada.
O entusiasmante futebol de Bruno Lage foi desvanecendo. A equipa pareceu perder gás e com essa perda surgiram os assobios e a contestação das bancadas. Mas afinal o que aconteceu à equipa de Bruno Lage?
Logo à partida, o problema do Benfica e dos seus adeptos foi só um: um supremo optimismo.
A goleada ao Sporting, uma exibição que não foi assim tão bem conseguida face aos números finais do marcador, e a subsequente goleada ao Paços de Ferreira, na Luz, deram aos adeptos encarnados uma falsa sensação de invencibilidade.
Esta sensação de insuperabilidade foi completamente destruída e estilhaçada com a visita do Porto ao Estádio da Luz. Naquela que foi, provavelmente, uma das exibições mais impotentes do Benfica em sua casa, desde que há memória.
O Benfica pareceu não ter qualquer solução para a equipa de Sérgio Conceição, que dominou o jogo a seu belo prazer e anulou autenticamente o futebol das águias. Esta impotência afectou bastante os adeptos encarnados e terá, certamente, tido um impacto anímico, muito negativo no plantel.
Se é verdade que o Benfica reagiu bem a esta derrota, tendo vencido categoricamente no Estádio Municipal de Braga, o que é certo é que desde este momento o nível exibicional dos encarnados tem decrescido significativamente de jogo para jogo.
Uma exibição “quanto-baste” frente ao Gil Vicente, a derrota frente ao Leipzig (11 derrotas em 14 jogos na “Liga Milionária”), a vitória arrancada a ferros em Moreira de Cónegos e o pálido empate frente ao Vitória Sport Clube, para a Taça da Liga. Quatro jogos que espelham na perfeição a baixa forma que a equipa de Bruno Lage tem apresentado e a falta de confiança da mesma.
Para além dos problemas anímicos a equipa encarnada voltou a ser assolada por um velho problema: as lesões e os problemas físicos. David Tavares, Gedson, Chiquinho, Vinícius, Gabriel, Florentino, André Almeida e Ebuehi. Todos os jogadores mencionados já figuraram no boletim clínico da equipa das águias.
As lesões de Gabriel e Florentino, os titulares previstos para esta temporada, são, na minha opinião, absolutamente preponderantes para que o Benfica atravesse este momento mais negativo.
A ausência de Florentino, fez com que Fejsa entrasse directamente para o 11 inicial. O sérvio até tem estado bem do ponto de vista defensivo e parece ter evoluído ligeiramente no momento da construção, mas ainda assim, a diferença para o jovem português é gritante. Florentino é muito mais reativo no momento da perda da bola e é consideravelmente mais inteligente a sair a jogar com o esférico nos pés, tendo uma qualidade de passe muito superior. Um jogador que aparenta movimentar-se de “pantufas”, mas cuja importância para a equipa é incalculável. A equipa implora pelo seu regresso.
Já Gabriel foi substituído por Taarabt. O marroquino tem mostrado ter olhos em terra de cegos. O camisola 49 tem sido dos melhores elementos das águias, tendo acrescentado muita qualidade na construção de jogo, sendo exímio a quebrar linhas. Adicionou ainda uma dimensão defensiva ao seu jogo que ajudou a mascarar ligeiramente a ausência de Gabriel.
No entanto, do meu ponto de vista, Taarabt tem aparecido demasiado recuado no terreno, onde é muitas vezes obrigado a tomar riscos desnecessários, face à passividade que tem afectado a equipa. Apesar do magrebino trazer muito do ponto de vista ofensivo, Gabriel acrescenta muito mais nos parâmetros da presença física e no jogo defensivo. Muito mais reactivo à perda da bola, muito superior no jogo aéreo, forte no transporte de bola e igualmente excelente no momento do passe.
Apesar da importância adquirida por Taarabt, creio que o Benfica ganharia bastante com a reentrada de Gabriel no centro do terreno, podendo Taarabt assumir funções mais adiantadas, nomeadamente numa função de número 10.
A equipa encarnada ganharia mais presença no “miolo”, sendo muito mais agressiva no momento da pressão (característica da equipa de Lage) mas manteria a criatividade do marroquino. Talvez assim facilitasse também as dinâmicas na frente de ataque, zona onde o Benfica tem sentido dificuldades de produção, sendo que Seferovic e Raul de Tomas não têm sido, de longe, uma dupla eficaz e prolífica.
Outro problema do Benfica nesta má fase, tem sido o decremento de forma de jogadores habitualmente preponderantes na equipa da Luz. Rafa e Pizzi assumiram-se como as principais figuras do Benfica neste início de época. Os dois atletas enfrentam agora momentos muito mais apagados, fruto também do mau momento colectivo. Ambos têm enfrentado, também, problemas de ordem física, que limitaram as suas prestações.
O regresso de André Almeida era apontado como preponderante para a equipa da Luz. A verdade é que o internacional português está ainda longe da forma a que nos habituou nos últimos anos. Ainda algo lento e pesado, pouco eficaz no momento defensivo, e não tão preponderante na manobra ofensiva. Tem ainda que recuperar a nível físico e ganhar ritmo de jogo.
A nível colectivo, a equipa encarnada tem-se apresentado muito mais passiva no momento defensivo, vendo os adversários criar, sem grandes dificuldades, várias oportunidades de golo. No momento ofensivo a equipa tem sido muito pouco esclarecida, tendo, por vezes, sérias dificuldades em impor o seu jogo e as suas ideias.
A derrota frente ao Futebol Clube do Porto teve consequências anímicas algo graves no plantel. Aliando o baixo moral da equipa às diversas lesões, nos mais variados sectores, seria muito complicado à equipa de Bruno Lage manter a qualidade exibicional.
Com o regresso de jogadores preponderantes como Gabriel ou Florentino, o Benfica irá certamente melhorar, e com a chegada de resultados o moral da equipa irá ser recuperado.
Para que os resultados apareçam será fundamental uma coisa: o apoio dos adeptos. Este apoio tem vindo a desaparecer progressivamente, de forma quase inexplicável. O 12.º jogador é absolutamente fundamental para superar esta fase menos positiva, negatividade só irá gerar mais negatividade dentro de campo. Parafraseando Bruno Lage: Se o lema do Benfica faz sentido, é agora (E Pluribus Unum- De Todos Um)."
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