"Não existem resultados tangíveis sobre a integração e/ou inserção social pelo desporto. No entanto, certos autores avançam que o poder de integração através do desporto e das actividades físicas é real. Thomas (1993), que estudou a prática do futebol, diz que as equipas multiétnicas promovem a solidariedade, a cooperação e a integração social dos seus membros. Baillet (2001, p. 166) refere que o futebol é a modalidade desportiva de integração por “excelência” e “contribui para a integração de populações estrangeiras”. Lever (1983) vai mais longe e conclui que o futebol brasileiro, por exemplo, contribui para a integração nacional, dando às pessoas de classes sociais, de etnias e de religiões diferentes qualquer coisa a partilhar e a utilizar como base da sua solidariedade ritual. O futebol revela efectivamente um enorme potencial como meio de federar as energias e a gerar uma espécie de “espírito de corpo”, susceptível de transcender as tensões e os conflitos da vida de todos os dias. Através das suas equipas nacionais, os indivíduos partilham os mesmos símbolos e identificam-se com os mesmos valores, que deverão consolidar a sua integração. Mas será que esta “loucura futebolística”, esta “unidade emocional”, esta “comunhão ritual” encontrada no momento de um encontro de futebol, é capaz de ter um impacto positivo sobre as tensões políticas e os problemas socioeconómicos que a maioria dos cidadãos se confronta todos os dias? Duvidamos seriamente. Cremos que é uma visão exagerada das repercussões positivas do desporto. Até porque, não nos esqueçamos, os encontros de futebol ocasionam, muitas vezes, manifestações xenófobas, racistas, quer por parte dos jogadores, quer por parte dos espectadores.
Naja (2005) refere que, em vez de uma real integração, os jovens se encontram cada vez mais “presos” às subvenções financeiras pontuais. A sua integração é “virtual”.
Para além do futebol, outras modalidades desportivas são “chamadas” para ajudar neste processo de integração e/ou inserção social. Podemos destacar o basquetebol de rua, que teve um grande sucesso nos anos 90, sobretudo em França, num contexto de forte receptividade social, favorecido pela mediatização das equipas norte-americanas. Ou também os desportos de combate ou artes marciais (boxe, judo, karaté, aikido, capoeira, etc.), que permitem incentivarem o gosto do confronto num quadro de regras restrito e, desta forma, a eufemização da violência. A dança “hip-hop” responde muitas vezes às motivações das jovens raparigas.
Outros autores distanciam-se das posições que defendem que a integração no e pelo desporto é real. Duret (2001, p. 68) refere que “os jovens querem é trabalho e o que se propõe são equipamentos desportivos de proximidade, um pouco como se fôssemos consultar um médico para uma dor de cabeça e este, com falta de medicamentos, prescrevesse um agradável xarope para a tosse”. Coakley (2002) conclui que as actividades físicas e desportivas não podem ter um impacto positivo na vida dos jovens, em particular daqueles que vivem em comunidades em dificuldade económica e social, enquanto os seus problemas não forem resolvidos, ou estar em vias disso. As acções com base nas actividades físicas e desportivas não se constituirão como uma forma pertinente de intervenção social. Para o criminologista Cusson (2002), é mais simples e menos oneroso ocupar os jovens do que se dedicar a resolver o verdadeiro problema da pobreza, do desemprego e de outros défices em modelos de identificação. No entanto, refere, ironicamente, que pode ser mais tranquilo para as pessoas saberem de que os jovens “perigosos” estão ocupados a jogar ao basquetebol ou ao futebol, do que a fazerem asneiras. Cusson (2002, pp. 111-114) diz que o desporto destinado a ocupar os jovens no sentido de evitar que eles façam asneiras encontra-se incluído nas estratégias de prevenção destinadas à “ineficácia”, nomeadamente no quadro da “regulação da delinquência”.
A questão da integração pelo desporto difere consoante os países. O que se passa em Portugal neste domínio? Era bom saber."
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