"Se há coisa de que a condição humana não se orgulha, essa coisa é a violência em qualquer das suas formas. Mas o que é violência? Na verdade, há sobre isso grandes mal-entendidos que variam de sociedade para sociedade e de cultura para cultura em função das percepções. Quer dizer, a violência tem certamente uma medida absoluta e uma medida relativa. Assim, se perante a agressão física contundente, o ferimento ou a morte é claro em todos os tempos e latitudes que se trata de violência, há sociedades e mesmo grupos sociais em que não é socialmente percebida como violência a agressão física menor e quase todas as formas de coação e agressão psicológicos ou a segregação social. Três exemplos simples: a rapariga vestida à moda 'que estava mesmo a pedi-las...',o Bullying, que pode tornar-se uma 'prática divertida' de exibição grupal; a imensidão de situações em que chega a considerar-se, com aceitação social, que certas formas de violência estão dentro de esfera formas de violência estão dentro da esfera da vida privada ou mesmo que correspondem à aplicação de castigos moralmente legitimados por algum sentimento de justiça ou reparação de honra, quase sempre desproporcional à situação que a desencadeia.
Diz o povo, nem sempre com razão, que 'entre marido e mulher ninguém meta a colher' e se assim deve ser na esfera familiar privada, filhos abrangidos, mas com exclusão de todas as formas de violência que, felizmente em Portugal, é um crime público e como tal não pode ser perpetrado sem denúncia nem impunemente independentemente da vontade dos sujeitos. E essa vontade é muitas vezes tolhida, diminuindo as vítimas a níveis de autoestima e depressão tão profundos que comummente se instala a dúvida sobre a natureza violenta da agressão e do agressor ou mesmo a culpa e a sua expiação como se a vítima fosse ao mesmo destino e origem da toda a violência assim legitimada pela própria, amarfanhada pelo medo e prolongada pelo passar do tempo na esperança vã de uma mudança. Invariavelmente nada disso acontece e a violência grassa como um fogo incontrolado que nasce de uma pequena centelha e se alimenta de si próprio até que, avolumadas as proporções, se torna imparável e desmesurado conduzindo muitas vezes, vezes demais, a um fim trágico.
É assim em todos os aspectos da vida e é assim também no Desporto, que não é imune aos males mundanos. Bullying, assédio e violência sexual no desporto têm vindo a lume nos países desenvolvidos, cada vez com maior acuidade, sendo publicamente assumido pela Comissão Europeia que na Europa comunitária um em cada cinco praticantes de desporto, formal e informal., são vítimas de alguma forma de violência sexual. Uma proporção demasiado grande para que lhe fechemos os olhos. Pelo contrário, há que tornar consciência deste verdadeiro flagelo social que tolhe a liberdade e a dignidade humanas. Para isso é preciso prevenir, formar, informar. Em suma, é preciso por a 'Violência fora de jogo!'"
Jorge Miranda, in O Benfica
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