"Primeira edição da Taça Benfica-Sporting, disputada no Campo das Amoreiras, serviu de comemoração para a implantação da República: teve lugar em 5 de Outubro de 1925. Houve mais cinco edições antes de os clubes se zangarem...
Se me dão licença, vou perder algum tempo a falar sobre uma competição que o tempo deixou cair no poço fundo do olvido: a Taça Benfica - Sporting.
Para já, o nome é sugestivo, convenhamos.
Há que convir que a relação entre os clubes era pacífica, nem de outro modo poderia ser para que tal prova tivesse pernas para andar. Acertou-se que era preciso uma data comemorativa na qual encaixar o dérbi que teria periodicidade anual. Muito bem. Venha daí a República! Seria um Benfica - Sporting republicano, marcado para o dia 5 de Outubro.
Definido o calendário, acertou-se que a primeira edição teria lugar 1925.
E assim foi.
A imprensa sublinhava o facto de ser, também, uma forma de fomentar a rivalidade. Ora vejam: 'Sporting e Benfica, velhos rivais, procuram a cada ano novas energias e novos motivos para alimentar a sua emulação de sempre!'
Ou seja, rivais que queriam ser mais rivais ainda.
Não inimigos: apenas rivais.
A Taça Benfica - Sporting rolou nos relvados como a bola que a impulsionava. Durou exactamente seis anos. Acabaria mal, mas haverá um dia em que virei a estas vossas páginas falar sobre o assunto. Em sua substituição surgiu uma Taça B-S-B (Benfica - Sporting - Belenenses) que ganharia foros de torneio de pré-época. Lá está, outras histórias. Há sempre histórias infinitas para contar... Que haja tempo e saúde. E memória, já agora.
O descarado!
No dia 5 de Outubro de 1925, no Campo das Amoreiras, o jogo foi um bocado para o xapoposo. Toda a gente o reconheceu e sublinhou. Ora, afinal nem todos os dérbis podem viver resplandecentes de emoção. 'O grupo do Lumiar alcançou, ao fim dos noventa minutos de jogo, que não foram brilhantes, ou sequer regulares, uma vitória que nada indica e não pode, de forma nenhuma, ser usada à guisa de prognóstico para a época que vai iniciar-se'.
Sábias palavras, as do cronista que as assinou.
O Benfica tinha ente como Vítor Hugo, com aquele seu nome de romancista fascinante, Francisco Vieira na baliza, Vítor Gonçalves, o avô daquele Gonçalves que viria a ser primeiro-ministro depois do 25 de Abril, e Mário de Carvalho e Jesus Crespo, Artur Travaços e Hugo Leitão.
Já no Sporting pontificavam o enorme Jorge Vieira, Francisco, Torres Pereira, Jaime Gonçalves e Emílio Ramos. Portela tinha dado o lugar a Martinho, Ramos seguira para o FC Porto...
Farta concorrência, eis uma frase vulgar naqueles tempos. Muita gente nas Amoreiras. Mesmo muita gente: um Benfica - Sporting é um jogo de gente, popular como nenhum outro. 'O jogo terminou com uma vitória de 3-1 do Sporting. Nada diremos dele, e dos jogadores nada desejamos dizer também. A eloquência, neste caso duvidosamente sugestiva dos números, é a única coisa que podemos deixar à consideração dos leitores'. Homessa! Então, de repente, o cronista foge às suas responsabilidades? Pura e simplesmente afirma que nada tem a dizer sobre o jogo e sobre os jogadores, emala a máquina de escrever e vai para o café de esquina escorropichar um capilé? Esta é de truz! É do quilé!
Posso, agora, confessar-vos que não trouxe à baila este Benfica - Sporting e uma taça nova. Fascinei-me com este descaramento jornalístico que bem merece, por si só, uma crónica. Diria Raposão, de A Relíquia, do imarcescível Eça: É um descaramento divino!'
E é mesmo!
Ainda assim, acrescentou o plumitivo: 'Quanto à arbitragem, entre a José Fonseca, supomos que é do pior que tem aparecido'. Depois desapareceu."
Afonso de Melo, in O Benfica
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