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terça-feira, 11 de dezembro de 2018

A formidável lição de Nuremberga!

"Na primeira vez em que jogou na Alemanha, o Benfica sofreu uma derrota dolorosa frente ao Nuremberga (1-3), sobre um terreno completamente gelado. A forma como jogadores e dirigentes encararam esse momento e o viraram a seu favor faz parte da história dos grandes campeões. Em Lisboa venceram por 6-0!

Na primeira vez em que o Benfica jogou na Alemanha para as provas da UEFA (e não confundir, por favor, provas da UEFA com provas europeias), perdeu. Frente ao Nuremberga, por 1-3.
Claro que isto vem a propósito de uma derrota recente e dolorosa, em Munique.
Há que aceitar as realidades como elas são e não pintar de cor-de-rosa as paredes negras da nossa memória.
Munique tem sido um cemitério para o Benfica, que sofreu lá algumas das goleadas mais brutas da sua história. Repetiu-se aquilo que se tem tornado um hábito. Mas agora vou até 1962 e a Nuremberga.
Era uma noite fria a do primeiro dia de Fevereiro. Apesar disso, houve muitos adeptos que arrostaram a intempérie para ir ao aeroporto receber os jogadores.
Estranho? Não. De forma alguma. 'A derrota consumada em condições inéditas (na manhã do dia do jogo os termómetros registaram 18 graus negativos) não pode ter sido o grande motivo que roubou a costumada presença daquelas muitas centenas de pessoas que, habitualmente, sempre estão presentes em momentos como estes. A noite estava fria. Frigidíssima para os lados da Portela. Pois o aeroporto, onde aterraria alguns minutos mais tarde um gigantesco aparelho que traria uma das mais famosas equipas Velho Continente, o Benfica campeão europeu, encontrava-se não diremos a regurgitar de benfiquistas mas muito bem emoldurado de um público todo Benfica que ansiava pelo regresso dos seus ídolos'.
Confirmo: o Benfica perdeu em Nuremberga por 1-3. E? Alguma coisa abalava o espírito daquele Benfica campeão de campeões? Nem pensem nisso!
O presidente, Maurício Vieira de Brito, mostrava-se tranquilo: 'Sinceramente penso que o Benfica não podia, em circunstâncias nenhumas, fazer melhor do que fez. Num campo daqueles, que o gelo cobria completamente representando para nós uma enorme dificuldade, só os alemães podiam, em boa verdade, fazer uma excelente partida. Estavam no seu meio, e nada mais fizeram do que explorar aquilo que para nós era novo ou, digamos, inédito. Mas não estamos eliminados. De maneira nenhuma! Contamos ainda com noventa minutos de jogo a disputar no nosso estádio e com milhares de benfiquistas e incitar e a galvanizar a nossa equipa!'
Sabias palavras...

Inconformismo
Em Nuremberga, Germano foi impressionante! Ele, sim, rei do gelo e da neve, desafiador do frio.
'Fez-se o que se pôde. Não se foi mais além porque não se conseguiu. Cumpriu-se o nosso dever. Foi-se ao limite do que estava ao nosso alcance. A consciência está leve porque nada tem a sobrecarregá-la'.
O terceiro golo alemão foi discutido. Os portugueses reclamaram irregularidade no lance, fora de jogo, mas debalde. Estava o jogo a seis minutos do fim.
'Perdeu-se o jogo, sim, é um facto, mas não deslustra perder assim. Quem assistiu ao jogo pode testemunhar que só fomos derrotados como o são os grandes campeões. Não nos são superiores, de forma alguma, os alemães do FC Nuremberga. Foram-nos superiores, sim, nesses noventa minutos. Por isso o seu triunfo não se discute'.
Ângelo, o grande Ângelo, de antes de quebrar que torcer, lançava um grito de revolta: 'Passámos um mau bocado, mas agora é a nossa vez!'
Era gente de fibra. Atletas de excelência. Mentes poderosas.
'Nada está perdido. A equipa sabe agigantar-se nos momentos próprios, lutar denodadamente, motivos pelos quais acredito na recuperação. Se tudo correr bem, não tenho dúvidas de que eliminamos os alemães!'
Que maravilhosa atitude! Que soberba determinação!
'Eles formam um conjunto de classe, pleno de pujança atlética, muito difícil de contrariar. Venceram bem, mas o resultado foi demasiado pesado. Agora seremos nós a mandar no jogo. As coisas vão ser completamente diferentes em Lisboa'.
Ah! Como era um grupo de campeões verdadeiramente formidáveis!
Na Luz, o Nuremberga foi esmagado: 6-0!!! Ponham nisso pontos de exclamação. Não era impunemente que alguém se atravessava no caminho do Benfica."

Afonso de Melo, in O Benfica

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