Últimas indefectivações

sábado, 13 de outubro de 2018

Obviamente

"E ao fim desse azedo domingo mais uma vez senti que há uma coisa que custa ainda mais do que uma derrota injusta: uma derrota justa

Um amigo meu de (quase) toda a vida, engenheiro de almas por vocação e profissão, e portanto sabedor da minha adição ao desporto, aqui há uns tempos interpelou-me nos seguintes termos: «Mas tu diverte-se mesmo com isso? Faz-te sentir realmente melhor? É coisa que te dê mais alegrias do que tristezas?»
Confesso que nunca tinha pensado tal tópico nestes termos quase brutais. Nem tão-pouco jamais havia ensaiado esse espécie de contabilidade analítica reportada a festejos e desânimos. Mas assim como sei bem que nem mesmo os maiores feitos me transportam a estados de euforia, também não ignoro que não consigo sentir-me imune ao mal estar decorrente dos desaires. Por exemplo, adoro futebol, mas sigo também com muita atenção, nomeadamente, a Fórmula 1 e o motociclismo. Pois bem, recapitulamos então agora o sucedido na madrugada do último domingo. O dia começou com o Grande Prémio do Japão corrido em Suzuka. Escusado será dizer que sou um puro ferrarista, incondicional apoiante da Scuderia do Cavallino Rampante. Logo, dispenso-me de confessar o quanto me irritou a derrota dos carros encarnados e a inerente quarta vitória consecutiva da Mercedes através do tetra campeão Lewis Hamilton, o qual desta forma praticamente pôs um ponto final nas esperanças do também tetra campeão Sebastian Vettel em recuperar o título. Saltemos agora das quatro rodas para as duas. Corrida de Moto 2 a disputar na Tailândia. Miguel Oliveira precisava de triunfar para se aproximar do líder do mundial da categoria, o italiano Francesco Bagnaia. Resultado: o transalpino venceu e o lusitano ainda se deixou ultrapassar na última volta, baixando assim para o último lugar no pódio e, necessariamente, ficando ainda mais distante do ceptro de campeão. Foi uma excelente forma de começar o dia, sem dúvida nenhuma. O qual, porém, não poderia terminar sem o maior dos clássicos nacionais em futebol. Toda a gente sabe o respectivo resultado. E no fim desse azedo domingo mais uma vez senti que há uma coisa que custa ainda mais do que uma derrota injusta: uma derrota justa.
Victis honus! (Glória aos vencidos!)"

Paulo Teixeira Pinto, in A Bola

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