"O União de Coimbra só passou uma época na I Divisão. E Reis foi o único jogador do clube a marcar um golo ao Benfica. Na primeira volta, em Coimbra, 4-0 para os encarnados; na segunda volta, na Luz, 6-1. Era uma equipa impressionante!
Cáspite! Como chovia em Coimbra! Uso a expressão porque vez moda. Em Coimbra sobretudo, por isso vem a propósito. Mais entre a estudantada do que entre os futricas, e por acaso são os futricas que estão aqui em causa.
Dia importantíssimo para o União. Pela primeira vez na I Divisão, recebia o Benfica. Pela primeira e última vez na I Divisão. Época de 1972-73: dia 1 de Outubro de 1972.
Por estas e por outras é que a malta da Académica costumava recitar, manhosamente:
'Se não houvesse União
Não havia II Divisão'.
Pois, pois. Mas, nesse ano, a Académica é que estava na segunda. Orgulhoso, o União representava a cidade na primeira.
Vamos aos factos, para lá da chuva.
Jogo fácil para o Benfica. Não basta ser histórico para ser complicado.
'Onze jogadores de camisola encarnada passearam classe pela relva triste (e empada) de um estádio de recordações. A dar-lhes as boas-vindas esteve o modesto União, unido e pouco mais, lento e desinspirado, de futuro inquietante ou pouco menos'.
Do futuro unionista já nos sabemos, agora que se tornou passado.
Desceu no fim do campeonato e nunca mais voltou.
Este ano, nem União nem Académica. Tristemente, não há Coimbra na I Divisão.
Pobre União...
Os jornais desancaram nessa exibição do União como se do outro lado não estivesse um Benfica fortíssimo. Ora vejam o exemplo que aqui deixo: 'A turma de Coimbra promete muitos sustos aos seus adeptos. Luís Pinto é mais lento do que as suprimidas locomotivas do ramal do Vouga, e barros, uma sombra do passado bem passado. Na frente não há quem caminhe para o golo e a meio da nau ninguém se entende'.
Justificações mais do que alargadas para o triunfo encarnado por 4-0.
Toni marcou um golo fantástico de força e colocação: devia estar a recordar-se dos tempos em que, com a camisola negra da Briosa, disputava dérbis acesos contra o União. Os outros golos foram de Jordão, Eusébio e Adolfo. Que equipa aquela, meus senhores!
Campeão fácil, mas fácil: trinta jogos, vinte e oito vitórias e dois empates, assim mesmo por extenso. Derrotas: nem uma para amostra. Golos marcados: 101; sofridos: 13.
Sabem quem ficou em segundo? Ah! Pois é! O Belenenses. E, já agora em terceiro? Pois, pois... O Vitória de Setúbal.
No dia seguinte à carga de águia de Coimbra, lá voou a águia, como era seu costume: para Luanda, para participar nas bodas de ouro do Sport Luanda e Benfica.
Chegamos a Janeiro, passou mais um ano na ampulheta dos grãos de areia das nossas vidas.
É a vez de o União de Coimbra ir à Luz, não pode esperar nada que não seja ser goleado, espancado por um adversário que vai para a sua 19.ª vitória consecutiva. Do quilé!, como diria o meu velho amigo Fernando Assis Pacheco.
Eusébio ainda ali numa fona na luta pela sua segunda Bola de Ouro.
Por isso não se estranhou: nem um minuto foi preciso para que fizesse o 1-0. Prometia uma tarde de fome, a Pantera Negra. Mas o seu apetite foi-se esgotando com o decorrer dos minutos. Ninguém o adivinhava quando, pela meia gora, bateu Melo pela segunda vez num remate tão bonito, que abriu Ooohs! De espanto na boca dos espectadores tão atentos como descontraídos.
Mas antes de Eusébio fazer o seu segundo golo da tarde, já Simões (aos 2 minutos) e Vítor Baptista (aos 20) assinavam o inevitável correctivo. O facto de Reis ter-se tornado o único jogador do União de Coimbra a marcar um golo ao Benfica na história de todos os campeonatos nacionais não evitou o 6-1. No segundo tempo, Humberto Coelho e Nené assinaram o ponto e terminaram com o desespero coimbrão.
Oito dia depois, confirmando que não havia adversários à sua altura da fronteira do Caia para dentro, o Benfica foi a Alvalade vencer por 2-1.
Vivia-se um tempo vermelho em flor!"
Afonso de Melo, in O Benfica
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