"Por momentos fico à espera. À espera daquele teu sorriso que acendia sempre o meu sorriso como pontas de cigarro absorvendo o lume uma da outra.
Sochi - À medida que desço a Mayors Allee, soa-me ao ouvido a voz timbrada do Ivan Lins: “Quero/Essa risada mais gostosa/Esse teu jeito de achar...”
Há, ao longo da rua, palmeiras vindas dos cantos deste mundo sem cantos, apenas achatado nos polos.
O domingo é, todo ele, de uma mansidão lenta. Os meus passos multiplicam-se sem destino, um pólen de flores flutuando para o alto ao sabor da brisa. O operário da câmara varre, com uma vassoura feita de ramos atados a cordel, os passeios incensuráveis de asseio. Levantou-se, de repente, uma ventania infantil de uma correria de meninos.
Por momentos fico à espera. À espera daquele teu sorriso que acendia sempre o meu sorriso como pontas de cigarro absorvendo o lume uma da outra.
À espera, outra vez que, num fim de tarde qualquer, a gente caminhe devagarinho sob as árvores ignorando a hora do regresso a casa que nos lembrávamos teimosamente de esquecer.
Por momentos fico à espera enquanto ando, sozinho, pelo lado esquerdo, sempre pelo lado esquerdo dos caminhos e da vida.
O varredor parou num momento encantado de descanso.
Um calor sólido, pesado, esmagando as pessoas, as árvores, as avenidas. Só os meninos em brisa esvoaçam na sua eterna levidão.
O eco do Ivan Lins, insistindo no seu refrão de esperanças: “Esse teu jeito de achar/Que a vida pode ser maravilhosa...”
Não, nunca tivemos vergonha de aprender como se goza.
Levanto os olhos e só vejo uma cor. E o céu por cima da cidade, tão azul e tão calmo."
Sem comentários:
Enviar um comentário
A opinião de um glorioso indefectível é sempre muito bem vinda.
Junte a sua voz à nossa. Pelo Benfica! Sempre!