"PIB, como todos devem saber, é o produto interno bruto. Para o comum dos mortais que não fazem contas macroeconómicas, trata-se da diferença entre aparecerem novas oportunidades de emprego (PIB em alta) ou ameaças de desemprego (PIB em baixa), sendo que hodiernamente devemos falar em oportunidades para ganhar dinheiro e não trabalhar.
Para o governo, é a diferença entre ganhar uma eleição e perdê-la. Para os jornalistas, é uma óptima oportunidade para darem a impressão de entenderem do que se trata. Para os que se preocupam com a destruição do meio ambiente, é uma causa do desespero. Para o signatário, é um perfeito anacronismo.
Peguemos o exemplo de uma alternativa contabilística que poderemos designar por FIB, a que chamaremos felicidade interna bruta. Podemos também chamar-lhe de felicidade interna líquida.
O ponto principal reside na constante essencial de ver o comportamento económico ser calculado sem levar em conta - ou muito parcialmente - os interesses da população e a sustentabilidade ambiental. Como pode-se dizer que a economia vai bem, ainda que o povo vá mal? Então a economia serve para quê?
A medição da riqueza de um povo tem obrigatoriamente de ter critérios mais aptos a torná-la num resultado que seja mais compreensível e analisável por todos e por cada um de 'per si'.
Indicadores como os Indicadores de Desenvolvimento Humano podem e devem ser utilizados para que se efectuem cálculos económicos mais rigorosos e que espelhem a verdadeira realidade social e económica.
No entanto, deve ser criado juntamente com estes indicadores o indicador da inteligência humana e o indicador da sensatez humana. Estes dois indicadores mostrarão a evolução geracional de uma sociedade contrapondo idades, culturas e formação moral traduzida em realidade económica.
As limitações do PIB aparecem facilmente através de exemplos. Um paradoxo levantado por Viveret, por exemplo, é que quando o navio petroleiro Exxon Valdez naufragou nas costas do Alasca, foi necessário contratar inúmeras empresas para limpar as costas, o que elevou fortemente o PIB da região. Como pode a destruição ambiental aumentar o PIB? Simplesmente porque o PIB calcula o volume de actividades económicas, e não se são úteis ou nocivas. O PIB mede o fluxo de meios, não o atingimento dos fins. Na metodologia actual, a poluição aparece como sendo óptima para a economia.
Por isso tudo o que é porcaria desde que produza algo faz aumentar o PIB.
Mas para o cálculo do PIB também não concorre o esgotamento dos bem naturais que são consumidos desenfreadamente por toda a população mundial.
Quando um país explora o seu petróleo, isto é apresentado como eficiência económica, pois aumenta o PIB. Mas em bom rigor ninguém está a produzir petróleo nenhum, está antes é a consumir bens naturais que são aproveitados e gastos como energia.
Em termos técnicos, é uma contabilidade grosseiramente errada.
Esta perversão aparece mais que evidenciada no caso de uma instituição de acolhimento de crianças de idade menor, dando-lhes cuidados de saúde e actuando na prevenção das doenças, nas regiões onde trabalham, permitindo uma redução da mortalidade infantil, e das hospitalizações. Com isto, menos crianças ficam doentes, o que significa que se consome menos medicamentos, que se usa menos serviços hospitalares, e que as famílias vivem mais felizes. Mas o resultado do ponto de vista das contas económicas é completamente diferente: ao cair o consumo de medicamentos, o uso de ambulâncias, de hospitais e de horas de médicos, reduz-se também o PIB. Mas o objectivo é aumentar o PIB ou melhorar a saúde (e o bem-estar) das famílias?
Tudo isto faz parte dos estúpidos modelos em que vivemos, mas que ninguém se preocupa em mudar, essencialmente por questões ligadas a egos, emoções e sentimentos.
O ódio é tanto e tão espelhado com uma vontade de ganância desmesurada de chegar a um 'Já te tramei', que ficam todos cegos perante o que deveria reger o comportamento das pessoas, mas já não rege!"
Pragal Colaço, in O Benfica
É bom ver que ainda existem alguns iluminados e que nós, seres que se preocupam com outros e que não vamos em carneiradas, não estamos sozinhos.
ResponderEliminarObrigado pelo texto, foi uma brisa fresca que permite que outros comecem a usar o que Deus nos deu, pensamento e alma.