"Sochi – Sou um filho das madrugadas. Benjamin Costallat, poeta brasileiro, escreveu um dia: “Amo a noite e os bonecos horrendos que a povoam.”
No Prince of Wales, um pub inglês não muito longe do meu hotel, encontro muitos desses bonecos horrendos de Costallat: uma louca exasperantemente alta que discursa incongruências para uma plateia inapetente; atores baratos de uma peça sem protagonistas; braços, olhos e bocas por abrir; pernas finas, descaradas e descoloridas para lá do branco; os sexos volantes de Mário-Henrique Leiria; companhias brevemente lascivas ao sabor da corrente do rio do álcool.
Bêbados curvos cospem asneiras amarfanhadas. Não prestam atenção ao sinal de ferro forjado pregado no balcão: “Passengers are earnestly requested to absent from the dangerous and objectionable habit of spitting!”
Toda a sala que eu sou neste momento está fora daquele tempo de um poema que me sinto capaz de começar – longo como o tédio, estreito como a solidão. Talvez pedisse ajuda a Sebastião Alba, o bardo abandonado dos bancos de jardim: “Ninguém meu amor/ Ninguém como nós conhece o sol...”
Ninguém como nós conhece o sol que nasce. E, quando ele espreita por cima das montanhas do Cáucaso, tomo o caminho curvilíneo que me conduz todas as noites a esta casa de faz-de-conta."
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