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segunda-feira, 23 de julho de 2018

Mundial Rússia 2018 - Memórias que o tempo usa e consagra

"Ainda em tempo de reflexão que jamais se verá esquecido, referente ao 21º campeonato do mundo realizado na Rússia, o primeiro no leste europeu, presenciado ao vivo por cerca de 5 milhões de espectadores e muitos biliões espalhados por todo o mundo, com base na modalidade desportiva de maior impacto na sociedade, cuja prática ultrapassa o patamar de simples ludicidade para no apelo a constante e múltiplas exigências, se ter convertido na Festa das Festas, faremos memória que o tempo usa e consagra.
Á medida que a competição foi sendo objecto da fase de apuramento para a fase de eliminatória, verificamos o que, a priori, como eu havia anunciado, quem fosse capaz de ultrapassar as exigências da competição de forma emocionalmente mais equilibrada, bem identificadas com um estado de alma e confiança nas acções a converter, no prazer em as realizar e no orgulho a confirmar, poderia estar mais próximo do êxito.
Vimos selecções teoricamente mais fracas a conseguir ultrapassar outras potencialmente mais fortes, invertendo resultados que estavam como que anunciados no seu cardápio competitivo.
Em termos de jogo jogado e com a presença do relatório da UEFA correspondente ao Euro/2016, se havia constatado que apenas 15 dos 51 jogos realizados, quem mais dominou a bola, dominou o jogo, em termos de resultado final, não obstante o relato do último mundial realizado no Brasil, há 4 anos, as 2 equipas finalistas (Alemanha e Argentina), terem sido cotadas com altas percentagens no seu currículo competitivo (66 e 63%, respectivamente).
Seguindo este raciocínio em termos de estudo deste parâmetro de observação e até porque Portugal, nos jogos a eliminar se havia consagrado Campeão da Europa com uma média de menor tempo de posse de bola do que os adversários (44%), estive particularmente atento a este pormenor, verificando que uma grande parte das equipas que de forma contínua permaneciam em prova, obtinham um menor índice de posse de bola em relação aos adversários, que, não obstante esse facto, se viam afastados.
Esta questão de reflexão de quem domina a bola, domina o jogo, como se verificou não pode ser objecto de absoluta consistência. De facto, desde o início da década de 80, quando iniciamos com o Sr Pedroto o processo de observação e qualificação do jogo, sempre na procura da resposta à famosa frase por aquele saudoso mestre dos mestres: “olha para o jogo que te direi como deves treinar”, este era um importante parâmetro de estudo, entre os vários que a história qualifica e documenta.
E assim este constar de manutenção de posse de bola, só tem um significado relativo, pois não interessa em termos de resultado, se o tempo de posse de bola ou domínio da mesma não resulta no domínio do jogo. Interessa por isso dominar a bola, dominando o adversário em termos de jogo e dominando o jogo em termos de resultado final. Por isso se dizia (está por mim publicado), que se deve associar ao tempo de posse de bola, outras capacidades de rendimento da equipa (eficácia qualitativa e quantitativa), quando não, o esforço prestado de quem tem a bola em seu poder, aportará um desgaste de energia, sem efeito efectivo, para os objectivos duma competição a eliminar.
Outro dos elementos que mais se evidenciou neste mundial, foi o aspecto associado aos processos colectivos, determinando que uma equipa é muitíssimo mais do que a soam das partes que a constituem. Exemplar a dinâmica exercida pela Bélgica, Uruguai e muito especialmente Croácia. Verificamos (como referi nesta última), um estado de crença verdadeiramente partilhado, usando numa manifestação de entusiasmo, a disciplina ao serviço do colectivo e “carregando às costas” a cruz de um País sacrificado pela dor de uma não muito distante e feroz luta para a independência, alcançando o mundial através dos play-offs europeus, chegando à final com 3 prolongamentos e 2 etapas de grandes penalidades.
Perante tais constatações, viram renovado um espírito avassalador, transformando a sua essência numa força aglutinadora onde puderam fazer despertar maior empenhamento pela conquista da presença numa final histórica, em tons emotivos verdadeiramente contagiantes.
A referir ainda neste mundial mais um dado de reflexão a ter em conta: a marcação de 169 golos, sendo 68 originados por lances de bola parada (40%).
Destes 68 golos, registaram-se 23 de grande penalidade, 23 de pontapés de canto e 22 de livres e lançamentos de linha lateral.
Quanto aos casos das grandes penalidades, já desenvolvi o tema na recente publicação “À Flor da Relva … com A Bola (.pt) sempre em Jogo”, sendo mais um estado de treino do que lotaria (como alguns ainda se atrevem a comentar) e que também está publicado nesta rubrica em 29/Junho/17.
No referente à marcação de cantos, nota-se a importância do treino e observação do adversário, quer pela definição dos jogadores que marcam, dos que se posicionam, o tipo de marcação utilizado, jogadores de referência, sinaléticas, movimentações, trajectórias da bola, etc…
No que consta à marcação de livres, a necessidade do conhecimento do autor da marcação, dos jogadores próximos da bola e seus atributos, movimentos padrão, sinaléticas, posicionamento de barreiras e acções efectuadas, etc…
Um dado que me pareceu de notória intervenção qualitativa foi no que consta dos aspectos relacionados com as transições ofensivas e defensivas. Naquelas, a dinâmica das equipas ao ganhar a posse de bola, quer pela mudança ou não de corredor, atitude dos jogadores que asseguram o equilíbrio e sua cooperação, coberturas, tempo e eficácia do ataque rápido ou contra ataque. Nestas, os aspectos referidos após a perda de bola, a utilização ou não do pressing e se existem zonas pré – estabelecidas, erros de posicionamento, se recorrem a faltas tácticas, etc … lá está a posse da bola e o efeito catalisador para a conquista do rendimento ou fazer do rendimento a conquista do resultado ?!....
Uma nota para a selecção de Todos Nós. Não obstante se ter verificado que alguns dos nossos jogadores se tivessem apresentado um pouco aquém das expectativas, eu creio que a envolvência competitiva que o tempo lhes determinou e aquele que aí vem, faremos da experiência uma subida razão para um futuro e apetecido sucesso.
É evidente que para tal, todos devem usar a persistência para lutar, a humildade e perseverança para ouvir e corrigir, transpirar rigor, omitir a palavra problema e enfatizar o termo desafio, transportando nos olhos e no coração a convicção e amor às cores que nos engrandecem como nação valente e imortal."

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