"No jogo de Braga o principal problema de Jesus chamou-se Abel Ferreira, um treinador da nova geração e a quem ainda não conseguiu ganhar.
Na conferência de imprensa que se seguiu ao Braga - Sporting uma jornalista perguntou a Jorge Jesus se tinha condições para continuar no cargo. O treinador, obviamente, não gostou, mas teve a resposta célere, precisa e concisa: claro que sim, há mais um ano de contrato para cumprir.
Ponto, como costuma dizer o presidente do clube, o qual ficou desde já informado que se lhe passar pela cabeça eventual alteração no comando técnico do plantel profissional deverá ter o cuidado de agarrar-se a uma máquina calculadora e avaliar quanto é que isso poderá custar-lhe. Seguramente muito, quer Jesus fique, pela exorbitância que aufere, quer saia, pela milionária indemnização a que terá direito.
Ou seja, Bruno de Carvalho parece refém de uma situação cuja complexidade é evidente. A não ser que as metas traçadas pelo treinador como chegar à final da Liga Europa e da Taça de Portugal se transformem em vencer a Liga Europa e a Taça da Portugal, ou uma delas. Ou, ainda, no pior dos cenários, recuperar o segundo lugar e tentar o acesso à Liga dos Campeões.
Deve sublinhar-se, no entanto, que Jesus tão só procura salvaguardar a sua posição. Se há responsabilidades pelo elevado volume de dinheiro em equação, mesmo sem conquistas reluzentes, devem atribuir-se a quem resolveu melhorar e prolongar a relação contratual, partindo-se do princípio que essa medida coube, em última instância, ao presidente.
Até entrar no Benfica, e já com vinte anos de carreira, Jesus nenhum título registava no seu currículo, sendo irrecusável, pois, que essa contratação derivou de uma conjuntura muito especial.
Luís Filipe Vieira, confrontado com experiências anteriores mal sucedidas, viu-se obrigado a chegar-se à frente no controlo próximo do futebol e dar a cara pela mudança com vista a recolocar a águia na rota do sucesso.
Depois de seis anos na Luz, porém, com três campeonatos nacionais vencidos e três perdidos, continuo a defender que, nas mesmas condições de trabalho e com igual investimento no fortalecimento do plantel, qualquer outro treinador sem ser sobredotado, apenas com a competência necessária, teria erigido empreitada idêntica ou superior.
Sem retirar valor ao trabalho de Jesus, a verdade é que ainda hoje não consigo descortinar as proezas que muitos identificaram e identificam com uma profusão que me admira.
Verifico, isso sim, que o Benfica fez dele um treinador campeão e... ricamente pago, com base em suposição nunca confirmada.
Quando se deu a viagem para o outro lado da Segunda Circular, aplaudida em Alvalade e chorada na Luz, com os excessos naturais de ambos os lados, na festa e na lamúria, aleitei neste espaço para questões mal esclarecidas: sendo Jesus um treinador de duas faces, com 50 por cento de eficácia ao serviço da águia em matéria de campeonatos, qual delas o Sporting escolhera, a do Jesus ganhador ou do Jesus perdedor? Por outro lado, alguma pesquisa fora desenvolvida no sentido de investigar por que milagre, depois de três anos a fracassar e em 2013, com tudo em cacos, se escutou gigantesco clamor pelo seu despedimento, mesmo assim, diria contra tudo e todos, Vieira segurou-o e ele voltou a ser campeão. Com sacrifício da estrutura de apoio e... mais esforço financeiro, mas voltou.
Acredito que o presidente leonino não tenha sido devidamente informado. Contaram-lhe apenas uma parte da história, o lado bom, ocultando o que não interessava. Por isso, compreendo mal que ao fim de quase três temporadas de promessas não concretizadas haja entre a família do leão quem veja na contratação de Jesus apenas e só um tiro certeiro e devastador nas ambições do vizinho, sem admitir, sequer, que talvez lhe tenha resolvido um problema: «Jesus saiu da Luz e o Benfica foi campeão sem ele; Jesus entrou em Alvalade e, já em terceira época, o Sporting ainda não foi campeão com ele» (A Bola de 9 de Janeiro de 2018, pág. 37).
No intenso e interessante jogo de Braga o principal problema de Jesus chamou-se Abel Ferreira, um treinador de nova geração, que pensa de maneira diferente e a quem ele ainda não conseguiu ganhar.
Nas três ocasiões em que se defrontaram, além da vitória no último sábado, Abel ganhou (1-0) e empatou (2-2) em Alvalade. Em termos de pontos dá sete a um.
O resultado do último sábado só causa estranheza a distraídos ou a facciosos empedernidos. Jesus pode queixar-se da expulsão de Piccini e da influência que ela teve na decisão do jogo, mas afirmar que «atraiçoou a equipa» é inaceitável e aproveitamento deselegante para colocar o ónus na intervenção irreflectida de um seu jogador.
Nada que espante também. É assim que pensa: ganha ele, perdem os jogadores."
Fernando Guerra, in A Bola
Jesus nunca conseguiu encontrar no Sporting um falso nove de qualidade que foi a chave do sucesso no Benfica (Saviola e Jonas) e o fundamental para o seu modelo de jogo. E ele constrói a equipa com base no seu modelo e não com base no que tem disponível. Só o Teo Gutiérrez conseguiu chegar ao patamar exigível mas logo o BdC estragou a pintura porque não cumpriu com a sua palavra e quis poupar trocos.
ResponderEliminarMas pior, foi ter sido levado pelos outros a deixar a sua arrogância vir ao de cima. Sem alguma humildade como boa conselheira esqueceu os seus pontos fracos e deixou-os terem ainda mais relevância.
Bom texto,preciso e bem estruturado. Parece que ainda temos um ou outro jornalista em Portugal.
ResponderEliminarMiguel