"Caro Rui Vitória, mesmo tendo ganho, em dois anos no Benfica, dois Campeonatos (o primeiro com recorde de pontos), uma Taça da Liga e uma Supertaça, sem esquecer que está na final da Taça de Portugal e passou sempre a fase de grupos da Champions (no primeiro ano chegou aos quartos), mesmo tendo apostado e valorizado vários jovens, mesmo tendo lidado com um número recorde de lesões nas duas campanhas (sobretudo a última), ainda parece haver quem faça a questão de duvidar da sua competência.
E deixe-me dizer-lhe abertamente que a culpa é toda sua. Já devia ter percebido que ser bom rapaz e ser bom treinador (ou grande treinador) é algo incompatível. Veja se atina, tem de escolher uma coisa ou outra. Quem o manda ser sempre tão correcto, educado e respeitador? É evidente que assim só ganha porque tem sorte.
Caramba, homem, mude de atitude, torne-se num enfant terrible dos bancos e logo passará a ter carisma e personalidade vincada. Um predestinado. Quando ganhar, será no mínimo o Guardiola ou o Mourinho de Alverca. Quando perder, alguém arranjará desculpas por si. Mas, por favor, torne-se polémico, obcecado, louco, egocêntrico, indelicado e provocador. Fale sem pensar. Se não resultar, vá mais longe no próximo campeonato que ganhar: roube a lambreta do Eliseu e faça piões no balneário, beba uns copos a mais e cante no Marquês o Amar pelos Dois do Salvador Sobral, chame Luís Filipe Vieira para cantar consigo.
Deixe de ser demasiado certinho, assim não pode ser bom treinador (ou grande treinador). Adopte em definitivo um perfil que venda, que tenha impacto. Faça da sua profissão um fogo de artifício constante.
É esse o segredo. Caso contrário, essa minoria teimará em não lhe reconhecer os méritos. Você continuará a ser apenas uma boa pessoa que, sabe-se lá como, tem a sorte de ganhar campeonatos e outros troféus. E isso obviamente, é uma chatice..."
Gonçalo Guimarães, in A Bola
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