"Sendo jornalista na área do desporto tenho obrigação de ter boa cultura desportiva. E tenho. Há, porém, determinadas matérias ou modalidades, como o taekwondo, a canoagem ou o badminton, sobre as quais eu, estando capacitado para as tratar ao nível da notícia ou da reportagem, evito em registos de opinião, como este, pois aí poderiam resultar ideias infundadas.
Posso, contudo, estruturar um juízo sobre o discurso dos atletas depois das provas nos Jogos e sobre a forma como reagem às criticas vulgares do 'vão lá para quê se não ganham medalhas' com o, também costumeiro, 'se querem medalhas deem-nos atenção e condições'. Nenhuma destas abordagens me parece certa. A exigência de medalhas em provas impossíveis é insensata, mas aos atletas cabe também a responsabilidade de evitar este refúgio fácil da falta de condições.
Peguemos no exemplo do triatleta João Pereira, admirável quinto classificado, a 9 segundos do pódio, que no final disse: «Medalhas? Tem de haver condições». Não duvido que Pereira dei o melhor. Muito menos que é atleta de elite e que merece respeito e aplauso. Mesmo sem medalhas, é o quinto do Mundo, estatuto que a maior parte de nós jamais terá no que quer que seja. Eu aspiro, com sorte, a melhor pai do Mundo.
Mas, sabendo que os casos são todos diferentes, também se pergunta: alguém que é quinto a 9 segundos do pódio terá assim fracas condições para praticar a modalidade? Uma diferença tão exígua não se justificará pelos contextos da competição? Se tivesse sido 9 segundos mais rápido, em prova de 1.45.51 horas, as condições já seriam suficientes?
Uma nota final: dos 92 atletas portugueses que foram aos Jogos, 22 trabalham no Benfica e 30 no Sporting, emblemas de ecletismo raríssimo à escala mundial. E não são clubes com más condições. Não misturemos tudo."
Miguel Cardoso Pereira, in A Bola
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