"Somos um país que dá pouco e quer muito, mas mais grave do que isso não percebe o fenómeno.
De quatro em quatro anos há sempre esta discussão. Eterna. Não há medalhas, e os atletas queixam-se de falta de apoios.
De quatro em quatro anos, a pergunta mais importante fica sempre sem resposta.
Falta, para mim, olhar para o fenómeno na totalidade. Trata-se, primeiro, de uma questão de mentalidade. Olhamos realmente para o fenómeno desportivo pelo desporto? Ou melhor, será que temos um país que gosta mesmo de desporto e não se lembra disto apenas de quatro em quatro anos?
A ligação às modalidades extra-futebol é cada vez mais instrumentalizada pelos clubes. O que interessa ao adepto é que o clube ganhe, e não se de facto gosta da modalidade em si. É paralelo ao que se passa no futebol: gosta-se do clube e muito pouco do jogo. É-se incapaz de apreciar os outros. Num patamar de atenção bem menor, os atletas – excepto os que convivem com eles, como família ou amigos – encontram-se sozinhos.
O erro – parece-me – estará nesta instrumentalização do desporto que, a justificar-se, começa demasiado cedo.
O desporto escolar é inexistente. O desporto universitário não tem uma dimensão competitiva real e abrangente. Logo, os clubes são chamados para saciar esta necessidade de crescimento.
O exemplo dos Estados Unidos é claro. Claro que não é só por isso, mas também o é. O país é maior e rico, certo, mas também mais capaz de potenciar recursos. É inequívoco.
Depois, claro, há a crise e o dinheiro. Ou melhor, há uma crise e não há dinheiro. O investimento e os apoios escasseiam e na vida de um atleta é óbvio que são importantíssimos. Tal como as condições de treino, que estão longe de ser equivalentes em todas regiões do país e, mesmo em Lisboa, parecem não reunir tudo o necessário.
Há um parêntesis: apesar disto tudo, temos grandes atletas, de excelência, e que conseguem com apoios menores conquistar títulos mundiais e europeus. E que, depois, infelizmente, não reagem à altura do momento e perdem-se nos Jogos Olímpicos. Não podemos, nem devemos, baixar o nível de exigência.
Telma Monteiro é de bronze, e a verdade é que Nélson Évora (melhor marca pessoal do ano e numa fase um pouco longe do melhor momento da carreira) e Patrícia Mamona (duas vezes ultrapassou o seu melhor registo, recorde nacional) fizeram provas muito interessantes no triplo-salto, tal como João Pereira no triatlo e Emanuel Silva e João Ribeiro na canoagem. Houve quem obviamente não tivesse estado tão bem.
No geral, os resultados continuam fracos. E mesmo que, a partir de agora, se continue a trabalhar na perfeição em tudo o que não tem funcionado, daqui a quatro anos continuaremos fracos. Tal como daqui a oito. Quanto mais tempo passar sem respondermos à pergunta fundamental para mais tarde fica.
- Por que não conseguimos nós, portugueses, gostar de desporto?
Somos um país que dá pouco e quer muito, mas mais grave do que isso não percebe o fenómeno. Desde o berço."
De quatro em quatro anos há sempre esta discussão. Eterna. Não há medalhas, e os atletas queixam-se de falta de apoios.
De quatro em quatro anos, a pergunta mais importante fica sempre sem resposta.
Falta, para mim, olhar para o fenómeno na totalidade. Trata-se, primeiro, de uma questão de mentalidade. Olhamos realmente para o fenómeno desportivo pelo desporto? Ou melhor, será que temos um país que gosta mesmo de desporto e não se lembra disto apenas de quatro em quatro anos?
A ligação às modalidades extra-futebol é cada vez mais instrumentalizada pelos clubes. O que interessa ao adepto é que o clube ganhe, e não se de facto gosta da modalidade em si. É paralelo ao que se passa no futebol: gosta-se do clube e muito pouco do jogo. É-se incapaz de apreciar os outros. Num patamar de atenção bem menor, os atletas – excepto os que convivem com eles, como família ou amigos – encontram-se sozinhos.
O erro – parece-me – estará nesta instrumentalização do desporto que, a justificar-se, começa demasiado cedo.
O desporto escolar é inexistente. O desporto universitário não tem uma dimensão competitiva real e abrangente. Logo, os clubes são chamados para saciar esta necessidade de crescimento.
O exemplo dos Estados Unidos é claro. Claro que não é só por isso, mas também o é. O país é maior e rico, certo, mas também mais capaz de potenciar recursos. É inequívoco.
Depois, claro, há a crise e o dinheiro. Ou melhor, há uma crise e não há dinheiro. O investimento e os apoios escasseiam e na vida de um atleta é óbvio que são importantíssimos. Tal como as condições de treino, que estão longe de ser equivalentes em todas regiões do país e, mesmo em Lisboa, parecem não reunir tudo o necessário.
Há um parêntesis: apesar disto tudo, temos grandes atletas, de excelência, e que conseguem com apoios menores conquistar títulos mundiais e europeus. E que, depois, infelizmente, não reagem à altura do momento e perdem-se nos Jogos Olímpicos. Não podemos, nem devemos, baixar o nível de exigência.
Telma Monteiro é de bronze, e a verdade é que Nélson Évora (melhor marca pessoal do ano e numa fase um pouco longe do melhor momento da carreira) e Patrícia Mamona (duas vezes ultrapassou o seu melhor registo, recorde nacional) fizeram provas muito interessantes no triplo-salto, tal como João Pereira no triatlo e Emanuel Silva e João Ribeiro na canoagem. Houve quem obviamente não tivesse estado tão bem.
No geral, os resultados continuam fracos. E mesmo que, a partir de agora, se continue a trabalhar na perfeição em tudo o que não tem funcionado, daqui a quatro anos continuaremos fracos. Tal como daqui a oito. Quanto mais tempo passar sem respondermos à pergunta fundamental para mais tarde fica.
- Por que não conseguimos nós, portugueses, gostar de desporto?
Somos um país que dá pouco e quer muito, mas mais grave do que isso não percebe o fenómeno. Desde o berço."
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