"Como é que um benfiquista vive estes dias que podem estar entre o quase tudo e o quase nada?
Normalmente, vivemos com a vertigem quase messiânica de que, como adeptos de um clube eleito, o nosso destino cumprir-se-á inexoravelmente na próxima vitória e na outra a seguir e assim sucessivamente. No entanto, esta nossa estranha forma de sentir o clube atira-nos também, frequentemente, para um estranho antecipar da desgraça como forma de mitigar uma imaginada dor. Antecipamos a vitória com a mesma vertigem com que tememos o insucesso. Insultamos o goleador com a mesma vertigem com que o festejamos. Trocamo-nos entre apocalipses antecipados pela ausência de um futebolista e Génesis paradisíacos com a contratação de outro. Saltamos entre o assobio e o aplauso ao ritmo da bola que vai ao poste e entra, e a outra que se desencontrou no seu caminho.
E é assim que agora nos encontramos, neste fantástico final de época em que cada jogo é decisivo para que se possa fazer a festa ou o luto, o tudo ou o nada. Olhamos para o relvado, para os nossos, e em cada momento e movimento vemos um promessa de algo que está em busca e à espera de que a promessa se confirme num grito de vitória ansiada. Faltam poucos jogos, poucos minutos, e estamos tão perto que sentimos a ânsia de já ver ‘o tudo’ e ainda termos nas mãos ‘o nada’. Dizia Bill Shankly que o futebol era muito mais do que uma mera questão de vida ou morte. Olho para este final de época do nosso Benfica, sinto como todos nós o estamos a viver, e penso que o Bill Shankly tinha razão, mas ainda lhe faltou acrescentar que, além disso, é uma questão de sofrer na esperança de vencer. Mas, para saber isso, precisaria de viver o benfiquismo feito da esperança na vitória, mas assente na realidade de que nada ainda está ganho."
Pedro F. Ferreira, in O Benfica
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