"Em dezembro de 1994 o Benfica atravessava uma grave crise financeira. Para responder a isso, a maioria dos sócios elegeu Manuel Damásio para Presidente. E depois disso Vale e Azevedo. E depois disso Manuel Vilarinho. E depois disso Luís Filipe Vieira. E reelegeram Luís Filipe Vieira tantas vezes que este só saiu com a Polícia Judiciária a afastá-lo do cargo (porque se não, ainda agora lá estaria). E agora elegem e reelegem Rui Costa até sabe-se lá que dia.
Damásio, Vale, Vilarinho, Vieira e Rui. 30 anos, 5 Presidentes. Qual deles o pior. Mas insistem, insistem, insistem...
Nestes 30 anos, o Benfica que detinha 50% dos campeonatos em Portugal, o apoio da maioria da população portuguesa e era um clube lendário, apenas venceu 9 campeonatos e 4 taças de Portugal. Perdeu credibilidade, perdeu títulos, perdeu mística, perdeu a antiga Luz, perdeu a hegemonia para o Porto e agora até perde para o Sporting. Mas insistem, insistem, insistem...
O Benfica perde, definha, cai, chora, tropeça, ano após ano após ano após ano. De vez em quando ganha. Tipo golfinho, vem cá acima e volta lá para baixo. Andou nas profundezas do Vietname, veio cá acima com o título sofrido do Trapattoni, voltou para baixo com mais 4 anos medíocres, até que regressou lá acima com o 1º ano do Jesus, para mais 3 anos cá em baixo com traumas como a manita no Dragão ou o Kelvin. Depois teve um tetra, a única vez nos 30 anos em que prolongou um sucesso, até voltar cá para baixo com o título perdido em 2018 e ladeira abaixo ia, até surgir o milagre de Lage e ir lá acima novamente por momentos. Rapidamente mergulhou mais 3 anos até voltar a saltar com Schmidt e Enzo. Já voltou para debaixo de água, claro, e já há 3 anos que ninguém em terra vê o golfinho. Ou seja, passa a maior parte do tempo nas profundezas do oceano e só de vez em quando vem cá acima dar um salto e ver a luz e o sol, até ir novamente hibernar para debaixo de água.
Porque aceitam os benfiquistas isto? Porque voltaram a eleger Rui Costa? Porque insistem, insistem, insistem?
As únicas respostas que encontro é que o benfiquista, fruto de todos esses maus presidentes, ficou escaldado. Já é como a história do ovo e da galinha. Maus presidentes criaram más escolhas ou más escolhas criaram maus presidentes? E interiorizou a conversa do medo da mudança, e que do lado de fora há bichos papões, há abutres, há novos Vale e Azevedos à espreita, há gente só à procura de tacho. Dirão que Noronha ou Manteigas não eram candidatos perfeitos? Não eram certamente, mas a maioria silenciosa diabolizaria qualquer candidato, por mais perfeito que fosse. Já se dizia que Noronha era o novo Vale. Manteigas era o novo Bruno de Carvalho.
Só quem está lá dentro na estrutura, muitos deles há décadas, é que curiosamente nunca está colado ao tacho. Até porque quem está no Benfica, aos olhos desta maioria silenciosa, é o Benfica. Se são criticados, estão a criticar o Benfica. Se são atacados, estão a atacar o Benfica. E pensam que se o clube mudar, pode ser para pior. Só ganha de vez em quando? Pois com mudança pode nem ganhar de vez em quando. Anda a ser roubado? Pois com a mudança pode ser ainda mais roubado. Os 30 anos foram maus? Mas podiam ser piores! Então é melhor não mudar.
Também, diga-se, não é um voto muito informado. Aposto que a esmagadora maioria dos sócios que votaram em Rui Costa, não se deu ao trabalho de ler o programa de Noronha. De tentar conhecer melhor a equipa dele (ou do Manteigas). Muitos, aliás, mal conheciam Noronha ou Manteigas um mês antes das eleições. Mas depois argumentam que a oposição não apresentou ideias nem soluções. Quando na verdade apresentou, eles é que não as leram.
Também é preciso chegar à conclusão que a maioria silenciosa está satisfeita. Não é exigente. Aceita este Benfica golfinho. Gosta de Rui Costa. É "um de nós" e chorou uma vez. E gosta da nova Luz. Das luzes, do Farol e do Kamala. De chegar, beber umas cervejas na funzone, tirar foto lá dentro do estádio para o instagram e sair uns minutinhos antes que tem o carro mal estacionado ou no Colombo. Gosta de ir ao Marquês ouvir um DJ e ver a equipa num palco (nas poucas vezes que lá foi). E sente que umas vezes se ganha, umas vezes se perde, umas vezes se empata. Quando o Benfica não ganha, resmunga-se com o treinador e jogadores, afinal de contas resmungar é um passatempo nacional. Ou mete-se a culpa nos árbitros. No Porto que domina isto tudo ou o Sporting que domina isto tudo. E depois vem uma vitória na semana seguinte e entra em efeito uma memória de peixinho e está tudo bem novamente. Dizem logo "estás a ver?" e que afinal nem está tudo mal e o que é preciso é apoiar mais.
E a minoria barulhenta? Os sócios que votaram em Noronha e Manteigas, que vão às Assembleias, que assobiam a equipa após um empate, derrota ou má exibição, os saudosistas do Benfica de antigamente, os chamados "exigentes"? O que lhes sobra fazer, agora que parece que o Benfica que sonham nunca chegará e o Benfica que têm nunca os deixará. O que há a fazer? Desistir, resignar, dar as mãos à maioria e cantar o Kumbaya na crença que isto melhore ou continuar a lutar pela mudança e preparar nova investida, depois de refletir sobre o que falhou nesta tentativa?
Honestamente, não sei. Estou também no limiar da desistência e da resignação. Já pouco vibro com os jogos, pouco vibro com os golos, dou por mim a perguntar onde anda a paixão? Há quanto tempo não me sinto nervoso ou entusiasmado com um jogo do Benfica? Há quanto tempo não olho embevecido para as bancadas da Luz? Há quanto tempo entro no estádio e tudo me irrita? Há quanto tempo não fervilho de excitação com um jogo e com um golo do Benfica? Há quanto tempo virei pessimista? Há quanto tempo não me identifico com quase nada? Há quanto tempo sinto que é melhor não me entusiasmar que depois vai doer mais?
Mas o Benfica é uma droga. Não conseguimos largar isto. É um vício. É a nossa pele desde criança. A nossa família. O Benfica sou eu e eu sou o Benfica. O Benfica somos nós e nós somos o Benfica. Então vamos resignar e vamos resmungar e vamos baixar os braços e vamos revoltar e vamos dizer que desistimos, mas não o conseguiremos. Porque a verdade é que a minoria barulhenta ama profundamente o Benfica, pelo menos tanto ou mais que a maioria silenciosa e não desiste de querer o melhor para o clube. A maioria silenciosa, se pensa que venceu definitivamente e levará avante para a eternidade esta espécie de Benfica está enganada. Até porque o tempo provará, infelizmente, que a minoria esteve sempre certa (tal como esteve com Vieira, por exemplo) e um dia, que terá tanto de triste como de glorioso, a minoria virará maioria e receberá os cacos de uma lenda chamada Sport Lisboa e Benfica e aos poucos dar-lhe-á o remédio e cuidará dele para que saia da letargia, do vírus e da doença que o corrói há três décadas.
Um dia. Um triste e glorioso dia. Há que tentar até morrer. Porque do Benfica dos nossos sonhos não se desiste. Se desistirem...lamento, passaram à maioria silenciosa. Por isso não desistam. Um dia.
Um triste e glorioso dia."

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