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sábado, 1 de novembro de 2025

O exemplo de governação que vem da vela e o futebol devia seguir


"O desporto é uma indústria global que exige visão estratégica e sustentabilidade económica.
A vela internacional acaba de dar um passo histórico com a criação da America’s Cup Partnership, uma estrutura cooperativa que garante partilha de receitas, governação conjunta e estabilidade financeira.
Por cá, o futebol profissional português continua a navegar à vista, preso a um modelo obsoleto e desigual.
A America’s Cup Partnership mostra-nos que os rivais também podem ser parceiros estratégicos. Ao unir equipas sob um mesmo quadro de gestão e distribuição de receitas, a competição deixou de ser uma guerra de sobrevivência e passou a ser uma plataforma de crescimento conjunto. É o exemplo de uma indústria que percebeu que a cooperação não anula a rivalidade. Pelo contrário, torna-a sustentável.
Em Portugal, o cenário é o oposto. Três clubes concentram quase todos os recursos televisivos, comerciais e institucionais, enquanto dezenas de outros lutam apenas para existir. Muitos projetos de formação, que deveriam ser o alicerce do futuro, vivem em estado de quase colapso. Há academias sem meios para manter treinadores a tempo inteiro e sem infraestruturas funcionais, clubes que recorrem a voluntários para garantir treinos e competições, e estruturas de base que sobrevivem com orçamentos inferiores ao salário mensal de um jogador da I Liga. É uma realidade quase invisível, mas profundamente corrosiva.
Esta desigualdade mina o produto-futebol. Quando o investimento de base desaparece, a qualidade técnica e humana do desporto degrada-se. Nenhuma indústria prospera se o seu ecossistema for assimétrico e precário. O futebol português precisa urgentemente de uma reforma de governação e de partilha de valor, semelhante à adotada pela America’s Cup.
Um modelo em que clubes e Liga atuem como parceiros económicos, partilhando receitas de forma proporcional, permitirá proteger os mais pequenos e fortalecer o conjunto. A concorrência desportiva mantém-se viva, mas sustentada por uma base económica sólida e inclusiva.
Os gigantes da vela mundial conseguiram ultrapassar o ego institucional em nome da sobrevivência coletiva. Em Portugal, o futebol profissional não pode continuar a confundir rivalidade com isolamento."

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