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terça-feira, 2 de setembro de 2025

Quando ser português é triste fado


"Somos um povo cheio de virtudes e alguns defeitos. Um deles, que Camões identificou há 453 anos, é a inveja. Mourinho, incómodo e politicamente incorreto, é um alvo fácil para quem só prova a parte de cima do ‘mil-folhas’, sem chegar ao creme...

José Mourinho foi despedido pelo Fenerbahçe. Dois dias depois do clube de Istambul ter sido afastado pelo Benfica da fase regular da Liga dos Campeões, consumou-se o divórcio, e os mais apressados encontraram aí, de imediato, uma causa-efeito irrefutável. O treinador português mais uma vez falhara, e transformara-se num papa-indemnizações, puro e duro. Porém, quem se deu ao trabalho de proceder a uma sintonia mais fina, encontrou, por exemplo, na imprensa italiana, outras explicações: «Mourinho saiu em rutura com a direção do Fenerbahçe, depois de uma pré-temporada de aquisições falhadas.» Mas será verdade o que os transalpinos veicularam? É-o, de facto. Olhando apenas para os resultados desta época, o Fenerbahçe de Mourinho eliminou o Feyenoord (que há um ano ganhou para a Champions, na Luz, por 3-0, sem espinhas), com uma segunda-mão épica em Istambul (5-2) e caiu, numa eliminatória contra um adversário com mais argumentos, frente ao Benfica, qualificando-se para a fase regular da Liga Europa, uma competição mais de acordo com as possibilidades desportivas do clube. Na Liga turca, nos dois jogos que disputou, empatou fora com o Goztepe, com Talisca a desperdiçar uma grande penalidade na derradeira jogada da partida, e venceu por 3-1 o Kokaelispor. Portanto, para quem pouco ou nada se reforçou em tempo útil (medite-se no caso Akturkoglu!), não foi a questão desportiva a ‘tramar’ Mourinho, foi, isso sim, o direito que ganhou ao longo de um quarto de século de dizer o que pensa, mesmo que isso desagrade aos patrões. Como foi o caso.
Mas reveja-se a carreira de José Mourinho depois de ser campeão europeu com o Inter: no Real Madrid, ganhou um campeonato e uma Taça e uma Supertaça, e, acima de tudo, acabou com a hegemonia do Barcelona, abrindo caminho para a glória que se seguiu sob o comando de Zinedine Zidane. No Manchester United venceu uma Supertaça, uma Taça da Liga e uma Liga Europa. Muito? Pouco? Nos últimos doze anos, depois da reforma de Sir Alex Ferguson, ninguém fez melhor, em Old Trafford! O Tottenham sucedeu em plena pandemia, com um futebol muito descaracterizado. De qualquer forma, recordam-se dois momentos: quando foi ganhar 6-1 a Old Trafford; e quando foi despedido, dias antes de disputar a final da Taça da Liga, não fosse ganhá-la. Seguiu-se a Roma, equipa do terço superior da Serie A, que com Mourinho venceu a Liga Conferência (depois do Inter de Mourinho, foi a Roma de Mourinho a colocar a bandeira italiana num triunfo europeu) e na temporada seguinte só perdeu a final da Liga Europa, à frente dos ‘giallorossi’, porque foi prejudicado, frente ao Sevilha, por uma arbitragem calamitosa de Anthony Taylor. No Fenerbahçe, que está a anos-luz, em poderio desportivo, do Galatasaray (que conta, entre outros, com Victor Osimhen, Mauro Icardi e Leroy Sané) foi segundo na época passada e voltaria a sê-lo na presente temporada.
José Mourinho, o melhor treinador português de sempre, que abriu as portas do mundo aos técnicos lusitanos, continua a pertencer à elite mundial, apesar de ser incómodo, e muitas vezes inconveniente, um direito que conquistou, e que poucos possuem e ainda menos exercem. Tudo o resto está explicado na última palavra dos Lusíadas."

2 comentários:

  1. A febre de denegrir o Benfica é tanta que nem conseguem ser sérios...o Benfica perdeu 1-3 e não 0-3...

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    1. E esse foi jogador do Benfica...
      FranciscoB

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