"Um olhar sobre momentos, temas e protagonistas, que marcaram o nosso futebol na temporada que agora termina. Há casos de sucesso, outros a merecer preocupação e, até casos perdidos...
Amorim, Ruben - Começou a época como uma estrela, que se transformou em cometa ao mudar rota, e rumar a Old Trafford. Deixou marca indelével no Sporting, como principal artífice da recuperação desportiva do futebol leonino. O ‘bi’ também é dele.
Borges, Rui – Quando chegou a Alvalade, onde ainda se chorava a partida de Ruben Amorim, e se vivia sob o trauma do consulado breve de João Pereira, mostrou inteligência ao adaptar as suas ideias ao plantel de que dispunha. Foi assim que garantiu a ‘dobradinha’ para o Sporting, confirmando a razão de Varandas, ao contratá-lo.
Carlos Carvalhal – Finalizou, com o quarto lugar na Liga 2024/25, mais uma etapa ao serviço do SC Braga, onde venceu uma Taça de Portugal e uma Taça da Liga, e é o segundo treinador (atrás de Cajuda) com mais jogos ao serviço do clube (que também é da sua cidade e do seu coração). Uma saída pela porta grande!
Di María, Angel – Não terá dito o adeus ao Benfica com que sonhava, mas fica na história dos encarnados (e do futebol português) como o estrangeiro mais impactante a pisar relvados do Campeonato Nacional. Mais do que a recente incapacidade defensiva, perdurará o futebol-arte com que ‘El Fideo’ hipnotizou os adeptos.
Espectadores – Se retirarmos Benfica, Sporting e FC Porto da equação (estes três clubes representam 93 por cento da operação económica do futebol nacional), ficam-nos números preocupantemente baixos (três jogos abaixo dos 700 adeptos nas bancadas), com a agravante de dois dos maiores contribuintes para as assistências, Boavista e Farense, terem sido despromovidos.
Frederico Varandas – Sem dúvidas, um dos grandes triunfadores da época. Depois da saída de Amorim e do ato falhado com João Pereira, a contratação de Rui Borges veio a revelar-se melhor do que a encomenda. Varandas, com nove títulos nacionais, lidera o ranking dos presidentes leoninos mais laureados.
Gyokeres, Viktor – Um verdadeiro furacão, vindo da segunda divisão inglesa, que não deixou pedra sobre pedra no futebol português, erguendo-se, no imaginário leonino, ao nível de Peyroteo, Yazalde e Jardel. Provavelmente o futebolista mais decisivo que vi atuar de leão ao peito, capaz de justificar que a equipa jogasse de olhos postos nele.
Hjulmand, Morten – Sucedeu, 71 anos depois, a Manuel Passos, como capitão de uma equipa do Sporting bicampeã nacional. Foi dos jogadores mais influentes da equipa, no jogo e na liderança. Mantém como pecado maior (embora tenha melhorado nesse capítulo) alguma agressividade deslocada, que ‘paga’ em cartões amarelos.
Interior – O próximo Campeonato Nacional da I Divisão será jogado (Nacional e Santa Clara à parte) no triângulo entre o Estoril, junto à costa, Tondela (a 90 km do mar) e Braga (a 40 Km do mar), ou seja, num quinto do território continental de Portugal. É o País que somos...
Jamor – Foi um fim-de-festa que deixou a nu, por um lado as limitações individuais e sistémicas, do futebol português, por outro a fragilidade do verniz que maquilha as relações entre os dirigentes do nosso futebol. Alguma coisa nova? Não. E aí é que reside o principal problema...
Kokçu – Percebeu-se, assim como sucedeu com Pavlidis, que é um jogador diferenciado, mas temperamental: se sente a equipa motivada para trabalhar na recuperação rápida da bola, não nega esforços; porém, se isso não sucede, alheia-se desse departamento e passa a ser jogador de bola no pé.
Luciano Gonçalves - O presidente do Conselho de Arbitragem da FPF ainda está a conhecer os cantos a uma casa que pouco tem a ver, nas expetativas, na pressão da opinião pública e no funcionamento complexo, com aquilo a que estava habituado na APAF. Conhece o setor, em 2025/26 se verá se está apto para a função.
Mora, Rodrigo – Uma pérola, made in Olival, que marcou a edição 2024/25 da Liga. Sabia-se que era um jovem talentoso, aquilo que se desconhecia era que tinha estofo para andar com uma equipa, que usa uma camisola por vezes demasiado pesada, às costas. Precisa de ser taticamente bem enquadrado para que o seu potencial seja aproveitado.
Nico Otamendi – Da época 2023/24 para os Jogos Olímpicos, de Paris para a época 2024/25 do Benfica e da seleção argentina, com múltiplas viagens intercontinentais, e agora o Mundial de Clubes. Aos 37 anos aguentou tudo isto com a vitalidade de um jovem. Um líder que surpreendeu os mais céticos, eu incluído, que lhe vaticinavam um apagão.
Ochoa, Guillermo – Quase a fazer 40 anos, e a precisar de minutos de jogo para estar presente no seu sexto Campeonato do Mundo, o guarda-redes mexicano aceitou o desafio de ajudar o Aves SAD a manter-se na I Divisão. Mesmo sofrendo muitos golos, foi uma das atrações da nossa Liga.
Pedro Proença – Chegou à sua cadeira de sonho com uma robusta vitória eleitoral. A tarefa de presidir à FPF, que nos últimos 12 anos viveu os seus melhores dias, é seguramente um desafio que irá requerer resiliência, rumo certo, e muita paciência, porque Roma e Pavia não se fizeram num dia...
Quenda, Geovany – Talento puro que o Chelsea já garantiu, vai ter mais um ano à Sporting para crescer como jogador. Mas na temporada de 2024/25 mostrou que há que contar com ele para os mais altos voos, tendo a polivalência como trunfo.
Rui Costa - Não terá sido a época com que sonhou, mas teve culpas próprias ao insistir na continuidade na Luz de Roger Schmidt. Mantendo ainda um tabu quanto à recandidatura à presidência do Benfica, a entrada, ou não, na Champions, pode decidir muita coisa.
Sub-17 – O terceiro título europeu num escalão que tem há 50 anos (Saint-Malô, 1975, treinador, Jesualdo Ferreira) seleção nacional, confirma o extraordinário trabalho dos clubes na formação, a que se alia a excelência da organização federativa. Portugal é mesmo um fenómeno na ‘revelação’ de talento.
Teixeira, Reinaldo – O novo presidente da Liga de Clubes tem pela frente uma série de desafios, alguns inesperados – o pedido dos clubes de uma auditoria às contas da gestão anterior – outros, como a centralização, já aguardados. Vai precisar de muito jogo de cintura para pacificar o ninho de cucos onde demasiadas vezes mora o nosso futebol.
Único - António Salvador foi candidato único às eleições do SC Braga, a que preside há mais de 22 anos; mas também é único no trabalho infraestrutural feito num clube que não tem a dimensão dos três grandes, mas que começa, em meios, a ombrear com eles.
Villas-Boas, André - À coragem que tem revelado na forma como procura conduzir o FC Porto, expurgando-o de vícios do passado, ainda não correspondeu o sucesso desportivo, quiçá porque, de forma demasiado ousada, colocou, de imediato, a fasquia muito alta. A próxima temporada não será, por certo, mais difícil...
Wenderson Galeno – A transferência de Galeno para a Arábia e de Nico González, para Inglaterra, a meio da época, puseram a nu a fragilidade da tesouraria do FC Porto. Para o internacional brasileiro, que garantiu a independência financeira para várias gerações, a mudança acabou por revelar-se muito interessante.
Xadrez – O Boavista, campeão nacional em 2000/01, voltou a descer de divisão, apesar de ter uma das médias de espetadores mais altas (a sexta). Uma despromoção preocupante, sem que se vislumbrem soluções financeiras que alavanquem o histórico clube.
Yakuza – Não será exatamente a máfia japonesa a protagonizar o crime, mas vale pela analogia: são sobretudo orientais as máfias das apostas desportivas que infetam o desporto e colocam em causa a sua credibilidade. Um combate que requer persistência, sem vitória garantida.
Zénite - O Santa Clara foi, a equipa revelação da temporada, com um quinto lugar que lhe abriu as portas da UEFA. Impressionante, do ponto de vista da força psicológica, a forma como venceu o mano-a-mano com o Vitória de Guimarães, mais traquejado nas lides do topo da tabela. Os Açores devem estar orgulhosos."

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