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terça-feira, 10 de junho de 2025

Diretor desportivo: o agregador invisível no futebol profissional


"A maioria dos clubes das principais ligas de futebol assumiram definitivamente a importância do papel do diretor desportivo, como uma função que vai para além da escolha e transação de jogadores e treinadores.
O maior exemplo é Monchi, o atual diretor desportivo do Aston Villa e principal obreiro do sucesso do Sevilha (5 UEFA Europa League, 2 Copas do Rei, uma Supertaça de Espanha e uma Supertaça europeia), que se dedicou a ajudar as diferentes equipas técnicas a alinharem-se com a estratégia, recursos e capacidades do clube, redefinindo prioridades e realocando orçamentos e, muitas vezes, protegendo treinadores e jogadores das difíceis mensagens que vinham tanto dos adeptos como de dentro do clube.
O diretor desportivo é o agregador invisível entre a estratégia do clube e a execução pela equipa técnica e restantes departamentos, é o elemento charneira na cooperação, no desenvolvimento e bem-estar dos diferentes operacionais ligados à equipa de futebol. Ou seja, é elemento fundamental na construção e manutenção de toda a força de trabalho da equipa de futebol e sem a sua eficiente gestão provavelmente a ambição e estratégia do clube não se traduz em resultados, afetando o estado de alma do adepto, a geração de receita e o desenvolvimento e crescimento da equipa e do clube.
No entanto, as administrações dos clubes muitas vezes ainda negligenciam o diretor desportivo. Acreditam que se podem substituir a ele, quando o veem apenas como quem somente transaciona jogadores, ou pensam que estão a eliminar um custo, suprimindo a função ou experimentando soluções mais económicas. Por vezes até o consideram uma voz tecnocrata que tem a ousadia de debater com a administração. Esta abordagem é seguramente um dos caminhos para o fracasso.
A administração do clube e o diretor desportivo quando interagem no mesmo registo garantem um alinhamento e liderança mais fortes nas suas equipas de trabalho e melhoria no desempenho das mesmas. Por outro lado, através dos seus relacionamentos com pessoas em várias funções internas ou externas, torna-se no facilitador que luta contra os diversos obstáculos do dia-a-dia, resolvendo conflitos de forma profícua e produtiva. Exemplo recente, é a relação que existe entre administração, direção desportiva e as diversas equipas técnicas do Sporting, o que permitiu desenvolver uma equipa de futebol resiliente e eficiente que em seis anos obteve três títulos de campeão nacional.
No seu papel de agregador invisível o diretor desportivo traz outros benefícios ao clube, como: (1) — o acesso direto às perceções dos diversos intervenientes no ecossistema do futebol, detetando potenciais mudanças que influenciam a equipa de futebol e em resposta sugerindo propostas adaptativas aos tomadores de decisão; (2) — é executor e mentor das mudanças estratégicas em curso ao nível do terreno, guiando as equipas de trabalho através das transições, ajudando-as a adquirir novas competências e a adaptarem-se à evolução do contexto competitivo; (3) — resolve papéis conflitantes, estruturas de trabalho pouco claras e minimiza as pressões intensas que levam a elevados níveis de stress e ansiedade, particularmente quando as equipas percebem falta de apoio ou reconhecimento.
Se está demonstrado que o diretor desportivo é o agregador invisível entre o clube, a administração e a equipa de futebol, é também evidente que existe uma barreira a uma eficaz direção desportiva a forma como amiúde as administrações selecionam e avaliam o diretor desportivo. Muitas continuam a contratar com base no desempenho em tarefas não relacionadas com a direção desportiva, como recompensar um antigo atleta com funções de gestão, sem considerar se possui as competências específicas e conhecimentos necessários para desempenhar a função, o processo mental que permita pensar, aprender e resolver problemas, e as capacidades interpessoais e comportamentais para interagir eficazmente com os outros.
Ou seja, se reúne as condições para orientar e coordenar o dia-a-dia, pensar no futuro e impulsionar mudanças. Pior ainda, o sucesso da direção desportiva é frequentemente medido de maneiras que não conseguem capturar as suas contribuições mais importantes, como a construção e manutenção de uma infraestrutura organizacional ganhadora e sustentável, baseada em recursos, capacidades e processos de trabalho. Aos dias de hoje os três indicadores mais comuns na avaliação são a classificação desportiva, a escolha de jogadores e o deve e haver na transação dos mesmos. Se o clube, e respetiva administração, não avaliar o que é realmente importante, terá dificuldade em desbloquear todo o potencial da direção desportiva.
Concluindo, o diretor desportivo nunca foi tão importante como agora. Em tempos de maior competitividade e menores recursos financeiros a transformação para esta realidade impõe-se e o diretor desportivo é o agregador vital e invisível na formação e desenvolvimento da capacidade de adaptação da equipa de futebol e dos departamentos operacionais."

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