"Uma seleção assim, que quer sempre ganhar sem abdicar de se divertir no jogo, precisava de um líder de sensibilidade especial como Martínez
A opinião é sempre subjetiva e só os factos são objetivos e indesmentíveis. Pelo resultado histórico de um título de campeão europeu, a Seleção portuguesa de 2016 ainda é a nossa melhor seleção de sempre. Porém, todos aqueles que amam o futebol, para lá dos números frios e conjunturais dos resultados, admitem que essa Seleção de Fernando Santos, tendo grandes talentos e um evidente espírito pragmático, era uma equipa demasiado taticista, refreada na enorme criatividade de alguns dos seus jogadores, alérgica à ideia de que o brilho do espetáculo era compatível com o desejo de vitória e o objetivo de conquista.
Além dessa Seleção campeã europeia, que irá para sempre marcar a história do futebol português, tivemos outras grandes equipas que, por mais diversas razões, perdeu oportunidades de grandes conquistas internacionais. A começar pela célebre Seleção de 1966, que chegou ao pódio no Mundial de Inglaterra e que tinha uma linha avançada (como então se chamava) a todos os títulos memorável, no melhor período do inigualável Eusébio, passando pela Seleção do Euro-2000, treinada por Humberto Coelho, com Vítor Baía, Jorge Costa, Rui Costa, Luís Figo, João Vieira Pinto e Nuno Gomes, e acabando na grande Seleção de Scolari, no Euro-2004 e no Mundial de 2006, na Alemanha, que tinha jogadores como Costinha, Deco, Figo, Simão Sabrosa, Pauleta e, claro, Cristiano Ronaldo. Todas elas grandes equipas, sim, mas nunca completamente diferenciadoras e com um assinalável equilíbrio na mais alta qualidade em todos os setores.
A verdade é que esta Seleção que na era de Roberto Martínez mantém a impressionante contabilidade de uma vitória por jogo jogado, não é, apenas, uma soma invulgar de talentos. É uma equipa que além de adorar ganhar, adora também o jogo, em si, e sente uma imensa felicidade no espetáculo que proporciona ao público.
Uma equipa assim, que quer sempre ganhar, mas nunca abdica de se divertir no jogo, precisava, de facto, de um treinador que tivesse uma sensibilidade especial, capaz de ser ambicioso nos resultados, mas sem roubar a felicidade que cada um dos seus jogadores retira de cada jogo. E mais do que isso, capaz de gerar um forte sentimento de grupo que envolve solidariedade, responsabilidade, comunidade. Uma equipa que se junta numa constelação de estrelas, mas onde nenhuma delas inveja o brilho das outras.
É isto uma garantia de um grande Europeu no próximo verão, na Alemanha? Todos sabemos que, no desporto, e em especial no futebol, ninguém ganha de véspera. Mas será, porém, a garantia de que esta Seleção tem todas as condições para ser admirada na Europa e no mundo, o que, não sendo tudo, talvez mesmo, não sendo o essencial, será sempre motivo de orgulho para um povo ainda demasiado marcado pela velha cultura do pobrezinho, mas limpinho, que não raras vezes lhe compromete futuros mais radiosos.
Há muitos anos, felizmente, que o futebol português se conseguiu libertar da amarra do pessimismo e da insuficiência congénita. Esta Seleção será, aliás, uma das expressões maiores da capacidade e da qualidade humana dos portugueses. Dirão, alguns, que é pena que seja só no futebol. Em primeiro lugar, não é só no futebol. Acontece, apenas, que o sucesso vende mal numa sociedade mais interessada em mexericos mesquinhos. Na verdade, em todos os setores temos brilhantes desconhecidos, personalidades que se distinguem além deste nosso retângulo atlântico. Mas mesmo que fosse só no futebol, sempre seria importante que Portugal tivesse uma referência no topo do mundo."
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