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quinta-feira, 23 de setembro de 2021

Karate-Do: Novos ventos federativos... novas velas?


"Eleições federativas aproximam-se. Nuno Dias é candidato a Presidente da Federação Nacional de Karate – Portugal. Licenciado em Ciências da Comunicação, Vice-Presidente da A. G. da Sport Evolution Alliance, Vice-Presidente da Associação Portuguesa de Karate Shukokai, treinador e possuidor de um currículo com mais de uma dezena e meia de títulos de campeão nacional e quase uma dezena de títulos de campeão mundial do seu estilo, não há quem o não conheça dentro da modalidade. Um encontro casual deu-nos a oportunidade de conhecer melhor as suas ideias assim como da equipa que lidera.
Assim, começou por nos dizer que o Karate só se pode afirmar no panorama nacional com “transparência e progresso”, o que passa pela criação de uma plataforma ‘online’ onde todas as associações, clubes, praticantes e pais de praticantes menores possam aceder a toda a informação, quer seja sobre actas de assembleias gerais, quotizações federativas, seguros, inscrição em provas ou em formações, calendários de eventos, convocatórias para a selecção nacional, formação de treinadores e árbitros e tudo o mais que diga respeito ao Karate. “Transparência e progresso” que passam no aspecto administrativo pela profissionalização de uma secretaria funcionando oito horas por dia e onde um e-mail tenha uma resposta em 24 horas… por uma justificação da quota que o praticante paga – um cartão de federado que possibilite a existência de benefícios para o mesmo baseados no estabelecimento de protocolos e parcerias com empresas, assim como a possibilidade de se organizarem eventos não só para competidores mas também para todos aqueles que não fazem competição quer seja por opção quer seja por terem já terminado a sua carreira desportiva (podendo por exemplo o seguro do não-competidor ter um custo diferente do custo do seguro do competidor). “Transparência e progresso” no campo desportivo com uma Federação que ofereça um Karate de todos para todos, onde a representação nacional tem um peso mas onde também haja oferta para quem não faz competição, quer seja no campo do aperfeiçoamento técnico com diferentes técnicos e actividades variadas quer seja no campo da formação com conteúdos diversificados, quer ainda no campo da realização de outros eventos adaptados à especificidade do público-alvo.
Numa lista em que estão presentes nomes com Paulo Vilela de Azevedo, Rui Inácio e Nuno Moreira, a mesma aposta no resgate do Karate-do tradicional tendo já mecanismos próprios que definirão uma estratégia que criará um dinamismo para quem não se dedica à competição, estando projectada a existência de um departamento que poderá vir a ser designado como Departamento de “Karate-do marcial” ou de “Karate-do tradicional” que, em conjunto com o Departamento de Formação, reunirá com os Directores Técnicos das diferentes associações a fim de se ter um ‘feedback’ a nível nacional das necessidades prementes de todos os praticantes. Este será o ponto de partida para a formação de uma equipa multidisciplinar reunindo treinadores e técnicos com competências dentro de cada domínio. Nuno Dias afirma que é necessário trazer para a Federação muitos daqueles que não se encontram federados, mas “a Federação tem de oferecer algo – no campo técnico, no campo social, no campo formativo. Para conseguirmos coisas, temos de oferecer coisas. Ao oferecermos coisas e ao conseguirmos coisas criamos uma interacção que validará o progresso da modalidade.”
O Departamento de Formação não se limitará só à organização de cursos de formação de treinadores e acções de formação (estão já montados cursos de treinadores de grau I, grau II e grau III, assim como acções de formação em todas as regiões do país). É necessário incluir o Karate no Desporto Escolar, é necessário estabelecer protocolos com as escolas e com a comunidade, é necessário transformar o Karate numa actividade formativa. A oferta de realizações para crianças, jovens, adultos e idosos é uma realidade no horizonte deste candidato à Presidência da FNK-P. Pode-se e deve-se aumentar o número de formadores, dando oportunidade a mais formadores e existindo uma maior diversidade de especialistas. O aumento da oferta de formação determinará o aumento da procura da mesma. A implementação de um programa estratégico subordinado a um novo modelo levará a um progresso na prática desportiva…
Em relação ao Departamento de Provas e Eventos, Nuno Dias afirmou-nos que se torna crucial realizar mais provas, mas mais curtas no tempo e mais espalhadas pelo território nacional. “Defendemos reduzir a dimensão de cada prova e aumentar a sua qualidade ao mesmo tempo que as fazemos alastrar geograficamente. É premente a criação de um circuito a nível nacional tal como a criação de um ‘ranking’ de atletas. O ‘ranking’ é um indicador e não um limitador. Só assim será possível que a tarefa deste departamento entronque na tarefa do Departamento de Selecções.” As selecções nacionais terão condições para de facto serem selecções nacionais (já existem parcerias programadas), sendo criadas condições para um planeamento antecipado de treinos e de convocatórias baseadas num ‘ranking’. “Este será um processo que implicará a chamada dos treinadores dos selecionados à equipa, dado serem estes que melhor que ninguém conhecem os competidores” declarou-nos Nuno Dias. “A existência de um seleccionador nacional e de seleccionadores regionais implica um diálogo constante e aberto com os treinadores a fim de se realizar um trabalho em conjunto. É primordial uma linha aberta que inclua os treinadores dos clubes e das associações. A individualidade biológica, psicológica e técnica de cada competidor são únicas, devendo-se aumentar os pontos fortes de cada um e diminuir os seus pontos fracos.” A presença e a colaboração dos árbitros nos treinos das selecções também é uma questão essencial para a lista liderada por Nuno Dias, tendo um ponto de apoio no Conselho de Arbitragem.
Nuno Dias revelou-nos ainda que atletas de elite só poderão evoluir treinando e rodando com atletas de elite e para isso já possui pré-acordos com países como a França, a Espanha e o Luxemburgo, ao mesmo tempo que se propõe contribuir para um maior desenvolvimento do Karate em países como Cabo Verde e Angola.
Um Departamento dedicado à comunicação e ao ‘marketing’ terá como missão transformar a imagem da modalidade perante a comunidade. Projectos de apresentação do Karate como uma actividade promotora de saúde e bem-estar, projectos de inclusão social e de desenvolvimento do Para-Karate também já se encontram identificados no seu programa, tal como a programação de iniciativas envolvendo a colaboração de Universidades e pólos de investigação. A relação com a comunicação social terá de ser mais estreita – inclusivamente aposta no convite a jornalistas para acompanharem os diversos eventos – e mais incisiva para se passar ao público em geral uma outra imagem da modalidade. Está já elaborado um plano de ‘marketing’ e de comunicação em que o principal objectivo é “criar uma imagem que englobe o Karate em geral” nas suas diferentes facetas.
E Nuno Dias deixou-nos algumas questões – para as quais a sua lista possui resposta – que considera fundamentais. Por que não conciliar, com sucesso, a actividade escolar com a prática desportiva de alunos/atletas rentabilizando as Unidades de Apoio ao Alto Rendimento? A carreira dual treino/ensino não pode e não deve ser optimizada? Se há Câmaras Municipais que pagam as inscrições nas federações a atletas de outras modalidades, por que não no Karate? Por que motivos é tão baixa a frequência de jovens praticantes femininas no Karate? (repare-se que nos J. O. de Tóquio 2020 a média de idade das competidoras em Kata era de 30 anos e a vencedora da medalha de ouro tinha 39 anos). Por que motivos não se realizam outros eventos para além dos competitivos direccionados às crianças?
Por último, Nuno Dias referiu a faceta política de uma federação: um estreito relacionamento com a tutela, principalmente o IPDJ, e com as Câmaras Municipais. Eventos com visibilidade a nível social e educativo – que sejam inclusivos, que sejam ecológicos – serão relevantes para beneficiarem a comunidade. Isto só se consegue com o estabelecimento de protocolos e parcerias com as entidades oficiais e com actores económicos do meio envolvente. Defendendo uma Federação auto-sustentável, Nuno Dias realçou que “não se pode contar só com o dinheiro proveniente do Estado, das associações ou dos praticantes, pois há inúmeras outras possibilidades de rentabilização económica e que até nem passam por receber dinheiro de ‘sponsors’, tais como a oferta de serviços, o apoio em equipamentos físicos ou em transportes e até em recursos humanos. Isso implica elaborar planos estratégicos, estabelecer acordos… Certo é que terá de ser um processo transparente…”
Para terminar, colocámos uma questão directa a Nuno Dias: “ – as quotizações das associações, que de provisórias inicialmente passaram a definitivas ao longo dos anos e que representam um valor avultado, irão manter-se?” A resposta também foi directa: “– A nossa intenção aponta para um «não». Iremos reunir com clubes e associações a fim de estudarmos o melhor modelo mas já temos uma proposta para uma redução de valores de modo a que o mesmo seja proporcional ao número de praticantes de cada associação. Temos clubes e associações com 20 ou 30 praticantes, como podem pagar o mesmo dos que possuem 500 ou 600 praticantes?”
O que nos ficou desta troca de impressões? A existência de um plano, de uma equipa, a constatação de muito trabalho já realizado e programado com objectivos traçados bem claros e específicos, a noção de transparência e de progresso, mas também a noção de liderança, de gestão e de comunicação.
Eleições federativas aproximam-se. Tal como diz o povo, “conforme sopra o vento assim se iça a vela”…"

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