"Considerando que todos os indivíduos são um produto de uma educação, esta é decisiva ao longo da vida e apoia-se numa pluralidade de atividades. O desporto assenta sobre um conjunto amplo de valores e reveste uma dimensão educativa incontestável. No entanto, se educar pelo desporto é uma evidência partilhada coletivamente, a diversidade de expetativas que estão associadas leva a uma certa confusão. Uma educação que pretende ensinar regras, por forma a programar e a prever certos atos, cai num certo condicionamento. Mais do que se limitar à questão da imposição de valores, que alguns chamam de “integração”, a educação desportiva – como todas as outras formas de educação – deve privilegiar a confrontação dos jovens à diversidade de valores que compõe a prática desportiva, por forma a libertar e a torná-los responsáveis pelos seus atos e pelos seus comportamentos. Os valores devem ser interiorizados conscientemente. A crença de que um poder mágico do desporto, apresentado como um espaço de reciclagem, do qual todos os praticantes saem virtuosos, é imaginária. A educação pelo desporto deve: 1) construir-se em torno de valores claramente definidos; 2) trabalhar sobre a sua assimilação voluntária e consciente; 3) apoiar-se sobre um desporto em que se percebe os interesses, mas também os limites. Os valores desportivos não devem ser considerados como objetivos ou como condutas que se podem prever ou avaliar, mas como quadros sociais a construir, organizando os comportamentos de cada um. O desporto não é apenas uma prática. Ele é também uma ética. Por isso, a aplicação de uma ética pelo desporto é indispensável. Só assim se pode esperar que o desporto seja um espaço educativo. Depois desta crise pandémica (Covid-19), os partidos políticos, com a participação da sociedade civil, deveriam promover uns “Estados Gerais sobre o Desporto” em Portugal, pensando no futuro."
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