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quinta-feira, 12 de novembro de 2020

Agora ouve-se tudo: a falta de público nos estádios é um fardo pesado a todos os níveis e era dispensável a gritaria folclórica


"A falta de público nos estádios é um fardo pesado a todos os níveis: os jogadores deixam de ser aplaudidos e incentivados, as equipas deixam de faturar receita importante para as suas contas e o espetáculo fica mais pobre, por perder o seu condimento maior, a sua força motora: o apoio maciço dos adeptos.
O jogo fica a preto e branco. Pálido e triste. Quase melancólico.
Como se não bastasse, a ausência desse ruído nas bancadas tem outro efeito colateral importante: o de permitir que se ouça, ao pormenor e sem filtros, tudo o que acontece lá em baixo. Tudo o que se passa dentro e fora do relvado. É aí que mora agora um "novo normal", que ainda não parece ter sido bem assimilado por alguns intervenientes.
Que os palavrões fazem parte do futebol, já todos sabíamos. Quando um jogador dispara um impropério, ele não está necessariamente a ofender o adversário ou o árbitro. Não está necessariamente a ser mal-educado, injurioso ou grosseiro.
No futebol, o calão é quase sempre um desabafo espontâneo, um lavar de alma. Uma forma de extravasar a emoção, a frustração momentânea. Não se esqueçam que aquela rapaziada corre noventa minutos, dá e leva pancada, salta, cabeceia, pontapeia, agarra e grita. Dá o litro pela sua camisola. Não é fácil conter tanta efervescência quando o oxigénio diminui a cada minuto. A linha que separa essa "liberdade" consentida da ofensa gratuita e ostensiva deve ser medida pela sensatez e experiência de um árbitro que saiba separar uma realidade da outra.
O problema não está, como já se percebeu, nos jogadores. O problema está na forma como alguns, cá fora, ainda não entenderam que a ausência de gente nas bancadas os tornou mais expostos.
Já todos vimos e ouvimos excessos a serem cometidos a partir dos bancos técnicos. Já aconteceu em todos os jogos de todas as equipas. Uns mais, outros menos, uns assim, outros assado. Mas agora, que os microfones exercem a sua ditadura sem contraditório, a coisa ganhou outra visibilidade. 
E deixem-me que vos diga, meus amigos... às vezes, é feio. Muito feio.
A indignação pontual, o esbracejar, o levantar tipo mola, a crítica a roçar o limite do aceitável... aguenta-se. A tensão ali também é alta, os batimentos cardíacos disparam e ninguém é de ferro. Certo. 
Agora aquela gritaria folclórica, reiterada e injustificada, que é cantada depois de cada lançamento lateral para o outro lado ou de cada faltinha não assinalada, tenham santa paciência, mas não. Poupem-nos e poupem-se.
É inócua e demasiado eighties. Fica mal.
Percebam que, sem gente para camuflar o som, todo esse espalhafato entra pela nossa casa dentro sem pedir licença. São demasiados decibéis. Decibéis que podem adulterar a ideia que todos temos de cada um de vocês.
Desculpem a sinceridade, mas é apenas um número de circo para inglês ver. Uma palhaçada mascarada de indignação pela verdade. Não convence ninguém, não muda decisões (garantidamente) e não vos ajuda a ganhar.
É lose, lose.
Uma das boas soluções seria acabar de vez com os bancos suplementares. Não estão lá a fazer nada (ou grande coisa), apenas a acrescentar ao ruído quatro potenciais vozes.
Vejam nestas palavras uma crítica construtiva, dirigida apenas àqueles que têm grande dificuldade em controlar-se. São esses que devem refletir sobre a sua maneira de estar no jogo.
Um conselho: revejam algumas partidas e ouçam ou melhor, ouçam-se. Observem-se. Vejam a figura que fazem. Vejam os gritos sem sentido e fora de contexto. Vejam os saltos dramatizados, os braços no ar a protestar por dá cá aquela palha. Vejam bem e tirem as vossas conclusões.
Pensem que vocês não estão lá sozinhos. Nós também estamos, a ver e ouvir tudo. Tudinho.
Vamos lá fazer o favor de dar um toque de classe e educação a um espetáculo que também é vosso. Já que têm a honra e privilégio de estar ali, sejam distintos.
Não custa nada e fica bem."

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