"Aviso: qualquer semelhança com uma ceia de Natal tipicamente portuguesa é mera coincidência
O Lar do Jogador, 'uma casa alegre' onde 'reina a boa disposição', foi inaugurado em 1954 com o objectivo de proporcionar aos futebolistas do Benfica 'o ambiente indispensável para uma vida limpa e sádia (sic), feita de ordem, de disciplina, de conforto e de carinho'. Na edição de Abril de 1959 da revista O Benfica Ilustrado, somos convidados a olhar mais de perto para as rotinas dos jogadores, e com a quadra natalícia ao virar da esquina, é-nos impossível não encontrar semelhanças entre um dia normal no Lar do Jogador e o Natal lá de casa.
O dia começava cedo, com um exigente treino no Estádio da Luz, mas no regresso ao Lar já só se pensava numa coisa: comida! Como em qualquer família, também ali havia os dois clássicos que são 'tornados de ponta' às refeições: o comilão e o 'pisco', também conhecidos por Serra e Palmeiro. Para o primeiro as batatas nunca eram de mais, já ao segundo 'qualquer sumo de laranja lhe chega'. Do outro lado da mesa é-nos relatado uma espécie de 100 metros barreiras, para ver quem chega primeiro ao fim da refeição. 'Ainda o Santana vai na sopa, já o Hilário está na fruta'. O Hilário não só era o que comia mais depressa, como era o primeiro a sair do refeitório, 'dizem que com medo de engordar...'
No Lar, as horas entre as refeições eram livres. Uns jogavam sueca, outros aproveitavam para fazer uma merecida sesta, momento bastante apreciado pelo sr. Coluna. Havia ainda quem ficasse, simplesmente, para sala de estar a passar os olhos pelo jornal.
Semelhanças com o Natal lá de casa? Muitas! Que bem entendemos o Hilário, que saía a correr do refeitório com medo de engordar. Quem nunca se sentiu inchado até ao fim do ano por causa das filhós que comeu na noite de Natal que atire a primeira pedra. E as horas de intervalo entre o almoço e o jantar? No próximo dia 25 serão passadas com igual lentidão. Troque-se a sueca pelo Trivial Pursuit e o jornal pelas aventuras da família Von Trapp e temos o serão feito.
No Lar não se esperava pela meia-noite, às 23h tinha de estar tudo na cama. O dia seguinte começava cedo e havia multas para os mandriões. Talvez resida, aqui, a principal diferença entre o dia a dia no Lar do Jogador e o dia de Natal.
O Lar do Jogador foi apenas uma das instalações que o Benfica ocupou, conheça outras na área 17 - Chão Sagrado, no Museu Benfica - Cosme Damião."
Marisa Furtado, O Benfica
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