"Foi um imaculado beijo entre o destino e a modernidade futebolística. Tiago Filipe Oliveira Dantas, natural de Lisboa, não poderia ter nascido noutra altura. As ideias retrógradas do conservador século passado não se coadunam com as características do pequeno lisboeta, num claro sinal da mudança dos tempos: os 170 centímetros de Tiago, aliados aos 58 quilos, tê-lo-iam tornado num dispensado efémero de qualquer clube regional no século XX, na era dos cânones físicos como primordiais para a prática da bola.
Naquela consoada de 2000, além da simbologia sacra, o pequeno génio nasce já a bombar talento e Benfica no coração. Alista-se aos quatro anos nas fileiras encarnadas e desbrava caminho por todos os escalões, tendo o cérebro como aliado no grande rendimento que o confirmaram precocemente como um dos prodígios do Seixal.
As ideias em constante mutação do novo milénio tiveram em Pep Guardiola o definitivo pioneiro na mudança de paradigma, na valorização da inteligência sobre a força. O seu Barcelona foi a pedra no charco e o grito de Ipiranga para todos os Dantas, para os que foram vitimizados pelos tractores arcaicos e por aqueles que poderiam ter sido; Tiago, então, teria obrigatoriamente que esperar para nascer na mesma era. Em termos de talento puro, assume uma posição ao mesmo nível de Bernardo Silva e João Félix como os melhores trequartistas a sair da formação encarnada desde Rui Costa.
Como o último, sente-se mais confortável como construtor puro, pautando o jogo a partir da linha média com espaço de progressão para se envolver no último terço. Com visão 360º, exímio no passe curto e longo e com boa chegada à área, compensa a fragilidade física com doses cavalares de inteligência nas movimentações e grande agilidade, num constante jogo do gato e do rato com os opositores. Prepara-se para assumir um lugar na equipa principal, sentando-se na sala de espera ao lado de David Tavares e Gedson, ambos um ano mais velhos.
Estreou-se profissionalmente pela equipa B do Benfica na primeira jornada da Liga Pro da época passada, com 17 anos e 230 dias, e às ordens de Bruno Lage: nos 13 jogos do treinador setubalense na Liga Pro, Dantas participou em 12, claro sinal da confiança do técnico nas potencialidades do atleta. Esta época, e com Renato Paiva no banco de suplentes, Dantas jogou todos os sete jogos, assumindo a titularidade em todos eles: uma melhoria assinalável e sinal da sua evolução, num processo de aprendizagem necessário num contexto ultra-competitivo como é a segunda liga.
Em Julho deste ano, renovou o seu contrato com a instituição por mais cinco temporadas, fixando-se a cláusula de rescisão agora nos 88 milhões de euros, um sinal da confiança que se deposita em si. Depois de fazer a última pré-época com a equipa principal, o que lhe deu até oportunidade de substituir Jonas no seu jogo de despedida, 2019-20 afigura-se como a época de preparação para o assumir definitivo de um lugar entre os grandes na próxima temporada. A camisola ’10’ espera por si."
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