"A noção de “risco” é muitas vezes usada no sentido de perigo, que significa ameaça, queda, colisão, esgotamento, desidratação, etc. No domínio desportivo, vários perigos podem ser identificados, por vezes estreitamente ligados a uma prática específica: entorses, fracturas, hipotermia, dopagem, etc. Mas nem todas as situações portadoras de perigo acedem ao estatuto de risco. Inversamente, as actividades relativamente seguras podem tornar-se um risco.
Sem subestimar os perigos inerentes à prática, a visão do alpinismo como actividade de risco deve tanto aos testemunhos biográficos e mediáticos, de epopeias aventurosas, que à realidade acidental e às intenções profundas dos seus adeptos. Como uma construção de espírito, cada sociedade estabelece o que é perigoso, os riscos aceitáveis ou valorizados e a confrontar. A pertença à categoria dos “desportos de risco” não pode ser definida em relação ao grau de perigosidade das actividades. O sentido destas práticas elabora-se a partir do jogo das significações sociais.
O desporto implica uma actividade corporal, acentuando os poderes, a vitalidade e a eficacidade do corpo humano. Como presença e actualidade do corpo, o desporto é uma evidência. Mas é preciso reconhecer que o desporto para o corpo não é o simples suporte da acção. Ele está no centro dessa mesma acção. Os desportos mecânicos (automobilismo, por exemplo) ou os desportos como a vela parecem sofrer de uma limitação com a noção de desenvolvimento físico no desporto. No entanto, eles permitem confirmar os traços essenciais da essência da actividade desportiva: compromisso do corpo, que pode ir até ao risco de acidente ou de morte, exigências impostas em particular ao sistema nervoso e à resistência orgânica.
O fato de se dispor de uma “máquina”, com a qual o desportista se identifica, deve ser interpretada como a colocação entre parêntesis do corpo como a sua amplificação."
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