"A Selecção joga depois de amanhã em Itália, em jogo mesmo a valer; o senhor Marcel Keizer tenta fazer-se compreender em Alcochete perante uma equipa leonina em natural expectativa; Rui Vitória reflecte sobre os sistemas disponíveis num Benfica com Jonas; Sérgio Conceição tenta convencer Óliver a não perder a forma. Porém, nada disso interessa. O Portugal social e desportivo só tem ouvidos e olhos para os tribunais que abriram a fase instrutória do famoso e-toupeiras e, sobretudo, para o doloroso vai e vem policiado do cidadão Bruno de Carvalho.
Os portugueses já não sabem discutir penáltis e foras de jogo. O VAR vem dizer se é ou se não, a discussão da dúvida deixou de ter piada, a não ser quando um videoárbitro mais inventivo se lembra de emendar a realidade. Os portugueses já nem sabem discutir o prazo de validade do treinador do seu clube ou a contratação de uma nova estrela, porque o que, neste preciso e nevrálgico momento, interessa aos portugueses discutirem no café, em casa, no emprego, no restaurante, à porta da missa, nas celebrações de casamento e baptizados, nos soturnos bastidores dos funerais, são as medidas de coação, a produção de prova, a presunção de inocência, o arrolamento de testemunhas, a constituição de arguido, o direito ao contraditório, o apuramento da verdade dos factos, a natureza das sanções aplicadas a esperança de que «a justiça faça o seu trabalho», o âmbito dos interrogatórios, as diligências processuais, a imputação dos crimes, os alegados autores morais e materiais, os defensores oficiais, os Juízos criminais, as salas de audiência, a sentença proferida."
Vítor Serpa, in A Bola
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