"Gedson Fernandes, a nova coqueluche do Benfica, tem pinta de craque. Não o digo apenas pelo golo decisivo que marcou esta terça-feira em Istambul e que deixou os encarnados mais próximos da Liga dos Campeões. Digo-o pela forma como dá ao meio-campo da equipa qualidades de que ela estava órfã desde que Renato Sanches saiu para o Bayern de Munique: intensidade, combatividade e capacidade para acelerar o jogo de bola colada ao pé. Nisso lembra o “Bulo” da Musgueira, que era mais explosivo e possante fisicamente, mas que tinha menos disciplina táctica e era menos refinado a tratar o esférico.
O exemplo de Renato Sanches é importante, sobretudo agora que se fala do assédio dos ‘tubarões’ europeus ao médio do Benfica. Gedson – como Renato – não é ainda um produto acabado. É um protótipo de um grande futebolista mas que já apareceu mais vezes nas capas dos jornais do que na equipa principal do Benfica (três jogos). Aos 19 anos, precisa de tempo e de espaço para crescer e não encontrará um ambiente melhor longe da Luz. É bom lembrar que, quando foi para a Alemanha, Renato estava a caminho de ser considerado o melhor jovem jogador europeu, mas procura agora uma nova oportunidade no Bayern depois de dois anos em que pouco jogou.
Aliás, os grandes negócios que os três grandes fizeram recentemente com jovens jogadores portugueses raramente se traduziram em sucesso desportivo para os atletas. André Silva, que há um ano trocou o FC Porto pelo AC Milan por 38 milhões de euros, chegou agora emprestado ao Sevilha, depois de uma época em que marcou 10 golos, mas apenas dois deles na liga italiana; e João Mário, que há duas temporadas deixou o Sporting e rumou por 40 milhões de euros à outra equipa de Milão, o Inter, continua sem confirmar o potencial que mostrara em Alvalade e poderá estar também a caminho da Andaluzia, onde é disputado por Bétis e Sevilha.
Bem melhor está Bernardo Silva, que saiu do Benfica por pouco mais de 15 milhões de euros quando tinha disputado apenas 31 minutos na equipa principal e que hoje é uma das estrelas do Manchester City de Guardiola, que pagou por ele um valor que pode atingir os 70 milhões de euros. Mas isso só foi possível porque teve tempo (três épocas) para se afirmar num clube, o Mónaco, que não tem a mesma pressão dos gigantes do futebol europeu e porque encontrou um treinador – o português Leonardo Jardim – que soube tirar dele o melhor rendimento. Foi um bom negócio para o jogador, que não viu interrompida a sua progressão, mas foi talvez um mau negócio para os encarnados, que o poderiam ter vendido por muito mais dinheiro se fossem mais pacientes.
Continuar na Luz é o melhor para Gedson (e, já agora, também para Rúben Dias), que tem ali o ambiente ideal para se afirmar, e para o Benfica, que não se pode dar ao luxo de o perder porque não tem outro jogador como ele no plantel. A academia do Seixal é hoje uma fábrica de talentos, porventura uma das melhores da Europa, mas o que o adepto quer é ver essas jóias a envergarem a camisola do seu clube e não apenas a engordarem um pouco os saldos contabilísticos e muito os bolsos dos intermediários. Isto ainda é só futebol, mas também é (ou deveria ser) muito mais do que um negócio."
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