"E finalmente declarou que sempre se sentiu argentino. Franco Vazquez, atacante do Sevilha FC que se tornou conhecido em Itália quando vestiu a camisola do Palermo, fez uma nova escolha de vida. Decidiu reabraçar a pátria de nascimento, respondendo à convocatória de Lionel Scaloni, seleccionador interino da equipa alvi-celeste. E até aqui nada seria estranho. Mas a estranheza surge se considerarmos que, no entretanto, Vazquez tinha respondido à chamada da selecção italiana, pela qual chegou a disputar duas partidas amigáveis. Aconteceu em 2015, quando o então seleccionador da azzurra, António Conte, lhe sondou a disponibilidade e depois o convocou.
Na altura, Vazquez acabara de obter o passaporte italiano, coisa que para um argentino não é difícil. E graças a esta situação de dupla nacionalidade, mas sobretudo porque não tinha a perspectiva de vir a ser chamado à selecção argentina, aceitou a chamada da sua segunda pátria. Com a camisola azzurra, Vazquez jogou contra a Inglaterra, numa partida que acabou empatada a um golo. E depois defrontou Portugal, em Genebra, jogo ganho pela equipa de Fernando Santos graças ao primeiro golo na selecção de Eder, que um ano depois haveria de assinar um tento muito mais importante para a sua carreira e para a história do futebol português. Isto aconteceu numa altura em que a relação entre Vazquez e a selecção italiana já terminara, sem arrependimento de qualquer das partes. E, além disso, nesse Verão de 2016 encerrou-se mesmo a relação do jogador com a Itália: a transferência para Espanha fez-se na semana da final do Europeu. Da experiência com a selecção italiana não teriam ficado sequer vestígios, não fossem os dois pedaços de jogo (65 minutos ao todo) jogados de azul entre Março e Junho de 2015.
Mas é mesmo aqui que está o ponto. Aqueles dois pedaços de jogo foram disputados mas, da forma como as coisas se desenrolaram, é como se não o tivessem sido. Porque aconteceram em desafios particulares. E segundo o que estabelecem os regulamentos da FIFA, os jogos particulares não são determinantes para a elegibilidade de um jogador para uma selecção nacional. Por essa mesma razão, Vazquez não teve dificuldade em aceitar a chamada da selecção argentina que em 2015 lhe parecia inatingível. E uma vez recebida a boa notícia, o atacante não teve problemas em confessar (numa entrevista ao canal televisivo TyC) que tinha aceite jogar pela Itália apenas porque não acreditava que alguma vez lhe fosse dada a possibilidade de jogar com as cores do seu país. E juntou que nunca deixou de se sentir argentino. Aplausos.
Nesta altura, convém esclarecer qual é o problema de toda esta história. O problema não é Vazquez ter continuado a sentir-se argentino quando vestia a camisola da selecção italiana. Isto faz parte de um futebol produzido pela globalização. De resto, outro argentino que defendeu as cores de Itália e até ganhou com elas o Mundial de 2006 (Mauro Germán Camoranesi, que se estreou contra Portugal, em 2003), também disse que se sentiu sempre pertencente ao país de origem apesar de jogar pela Itália. Portanto, não é essa a questão. O que não pode aceitar-se é que os jogadores façam estas viagens de ida e volta entre selecções e que procurem tirar partido da convocatória da pátria de adopção para construir uma imagem e pressionar o país de origem. Manobras que seriam admissíveis se estivéssemos a falar de clubes, mas que não deviam ser admissíveis quando falamos de selecções nacionais.
E no entanto elas acontecem e continuam a acontecer. Porque a FIFA, a instituição que deveria proteger a credibilidade do futebol e a saúde das selecções, o permite através de um regulamento ridículo. Terá agora a coragem de admitir a falha e mudar as regras?"
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