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domingo, 8 de abril de 2018

Da bicicleta

"Naquele golo no Mundial de 38 que levou a que se dissesse que era preciso esfregar os olhos para se ver o que era a magia negra, Leónidas ficou, todo ele, metido, sublime, na frase em que Galeano o sintetizou: tinha o tamanho, a velocidade a malícia do mosquito. Mas não, não foi ali, assim, que se criou o pontapé de bicicleta, Galeano também o contou:
- Foi Ramon Unizaga que inventou a jogada, no porto de Talchuano: com o corpo no ar, de costas para o chão, as pernas disparavam a bola para trás, num repentino vai-vém de tesoura.
Unizaga fora pequenino do País Basco para o Chile, lá se fez jogador de futebol e a chalaca imaginou-a para defender a não para atacar - pois era defesa:
- Numa ocasião, árbitro assinalou-me falta, alegando que podia matar o adversário. Disse-lhe que outros a tinham aceite, pôs-me fora de campo, o caso acabou comigo à bofetadas com ele.
Se Unizaga inventou a chalaca, David Arellano internacionalizou-a (e fê-la arma de ataque). Em 1927, o Colo Colo lançou-se a digressão pela Europa. No Porto, misto do FC Porto-Salgueiros ganhou-lhe por 2-1. Em Lisboa, bateu por 4-2 misto Benfica-Sporting. Por 2-1 voltou a perder em Setúbal com o Vitória que ganhara o Campeonato de... Lisboa. Saltaram os chilenos para Espanha, por lá Arellano fez o que não fizera por cá: golo à Unizaga. Os espanhóis chamaram-lhe la chilena. No jogo seguinte, em Valladolid, no fecho de mais um pontapé em pirueta, um defesa caiu sobre ele, enfeixou-lhe os joelhos como espadas no peito, causando-lhe a peritonite que o matou.
História feita, não sou capaz de dizer que a mais bela bicicleta da humanidade tenha saído dos pés de Ronaldo em Turim mas que ele é o Maior Atleta a Jogar Futebol de Sempre e o Maior Futebolista Europeu de Todos os Tempos - sim.

PS: Consegui o que queria: não falar do insano autogolo que vi marcado em pontapé de triciclo (infantil) de Lisboa para Madrid - no Facebook. E ainda mais destrambelhado foi o outro, de mais perto e depois (que podia ter acabado pior...)."

António Simões, A Bola

PS: Esta obsessão em comparar jogadores de eras diferentes, dizendo que um é melhor do que o outro, é ridícula!

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