"Ele adora o Benfica, adora a selecção nacional de futebol e adora que no Eurogrupo, onde se fez campeão, o chamem de "Ronaldo das Finanças". Ele pediu um bilhete para se sentar no camarote presidencial do Estádio da Luz. Alegou precisar desse favor por motivos de segurança pessoal: temia ir ver a partida no meio da multidão (ainda me lembro, há não muito tempo, de ver o ministro Teixeira dos Santos a andar de metropolitano, sem segurança, no meio da população, mas isso agora não vem ao caso). Afinal, ironicamente, é o amor ao futebol que pode atentar contra a vida política de Mário Centeno...
O ministro das Finanças é agora investigado sobre a relação desse favor benfiquista com uma isenção de IMI, concedida pela Assembleia Municipal de Lisboa e pelos serviços de impostos, a uma empresa de um filho de Luís Filipe Vieira, presidente do Benfica. O Ministério Público fez buscas no Terreiro do Paço no âmbito de um processo que, oficialmente, está em segredo de justiça, mas os jornais, como de costume, torpedearam o suposto segredo e relacionaram essas investigações com a entrega do bilhete.
Num clube grande, uma tribuna presidencial para ver jogos de futebol é muito mais do que isso: é um instrumento de relações públicas, é uma sala de convívio, um bar, um minirrestaurante, um sítio agradável, isolado da turba, onde os eleitos com acesso conversam, preparam negócios, trocam informações, conspiram, marcam reuniões. Nada tem de mal, mas muito mal pode ali nascer...
Mesmo assim, é uma parvoíce achar que Mário Centeno se deixaria corromper por causa de um bilhete de futebol? Acho que sim.
É uma parvoíce presumir que Mário Centeno acharia ser possível meter uma cunha deste tipo na Assembleia Municipal de Lisboa e nos serviços fiscais sem deixar rasto? Acho que sim.
Se afinal, e apesar de altamente improvável, ficar comprovado que Centeno interveio a favor da isenção do IMI da empresa do filho do presidente do Benfica, o ministro deve demitir-se?... Neste caso, inacreditável, também acho que sim.
Se, por outro lado, o Ministério Público o constituir arguido apenas por ter recebido o bilhete para o futebol e assim poder ser acusado do crime de "recebimento indevido de vantagem", o ministro das Finanças deve demitir-se? Diria não, pois essa consequência, antes de um julgamento em tribunal, parece-me desproporcionada, mas...
O "mas" é o precedente aberto pelas demissões dos ex-secretários de Estado dos Assuntos Fiscais (Rocha Andrade), da Indústria (João Vasconcelos) e da Internacionalização (Jorge Oliveira) depois de se saber que aceitaram um convite da Galp para irem ver um jogo da selecção a França. Se, na altura, prevaleceu a lógica política que justificou essas demissões, é difícil sustentar agora uma lógica política inversa, apenas porque o caso se passa com Centeno.
Mas não é uma parvoíce perder um ministro das Finanças por uma razão tão pueril? Sim, mas também é verdade que o governo de um partido que tem um ex-líder e ex-primeiro-ministro acusado de corrupção, que tem no elenco do executivo pessoas desse tempo de José Sócrates, não pode dar-se ao luxo de se meter em trapalhadas deste tipo, por muito demagógicos que sejam estes "escândalos", por muito manipuladores políticos que sejam os investigadores e os jornais amigos, por muito injustas e irracionais que sejam, actualmente, as exigências para quem está na vida pública: um passo em falso destes pode liquidar mais do que um ministro, pode liquidar todo um governo...
... E quando é que os políticos entendem que o futebol queima?!"
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