"Nem precisava Vieira de vir a público reafirmar a confiança no seu treinador, mas fê-lo, e só ele sabe porque o fez.
Luís Filipe Vieira já havia dito que não hipotecava a estabilidade financeira da instituição a que preside por causa de uma vitória ou de um título. Na altura não se atribuiu a essa afirmação a relevância que verdadeiramente merece, por decidir navegar contra a maré em mar de salteadores, que é o quadro que melhor caracteriza o estado actual no futebol português.
Afirmou-o quando o clube estava à beira de conquistar o tetra e alertou para o perigo iminente de quem sonhava com 'um regresso ao passado de triste memória'. Na última semana, porém, foi mais explícito. Não só confirmou o rumo então anunciado, tradutor de uma segurança de que muito poucos podem gabar-se, como deu indicações precisas sobre o futuro próximo, prometendo o pagamento da dívida bancária ainda no seu mandato e sublinhando o que para ele é uma questão de honra: admitir unicamente a antecipação de receitas para pagar dívidas e jamais para aquisição de jogadores, e através desse expedientes eternizar-se no poder.
Vieira impõe-se pelo trabalho e pela obra em constante renovação. À vista de todos, e com o desígnio de colocar a águia no nível do que melhor se pratica no planeta. A palavra não é o seu forte e talvez devido a isso gosta de ser visto como homem de arregaçar as mangas, em contraposição a um qualquer sagaz vendedor de promessas adiadas. Faz coisas menos bem, como todos, mas acredito que preza uma qualidade em vias de extinção numa sociedade cada vez mais invejosa, em que os valores e os princípios contam pouco: continua a ser um homem em quem se pode acreditar. É assim que o vejo até que me provem o contrário.
Antes do tetra, Vieira apelou, na Casa de Grândola, a 'uma verdadeira onda vermelha que ajude nesta recta final'. Concretizado esse objectivo, ainda na euforia do Marquês de Pombal, apontou ao penta e a verdade é que nenhuma voz discordante se levantou. Nem mesmo os que o querem ver pelas costas, para se aventurarem ao lugar, ousaram correr o risco de o contrariar.
Depois de ter mantido Jesus em 2011, quando ficou a 21 pontos do campeão FC Porto, o qual fez a festa do título no Estádio da Luz, e o segurou contra tudo e contra todos em 2013, na sequência de temporada de total frustração desportiva, não precisava Vieira de vir a público reafirmar a confiança em Rui Vitória. Mas fê-lo, e só ele sabe porque o fez. Reclamou mais respeito pelo treinador, sem identificar, no entanto, os destinatários da mensagem. Se bem me lembro, a única pessoa que lhe faltou ao respeito é do conhecimento público.
«Parece que desaprendeu e nos saturámos dele (Vitória), mas não há hipótese - é o treinador que escolhi, é o treinador do Benfica e vai continuar a sê-lo, veio para ficar?, vincou Vieira na sua intervenção na Casa da Covilhã. Disse mais: «Quero desejar um bom Natal a todos e que o ano que vem seja grandioso para o Benfica, rumo ao penta.»
Sinceramente, considero que esta declaração só pode ser dirigida a Rui Vitória. O aviso é sério, de nada valendo ao treinador empurrar com a barriga as más exibições da equipa, muito menos ignorar várias questões por explicar que vão desde a hesitação sobre os guarda-redes à dispensa de uma avançado que valia 25 golos por época trocando-o por outro que nem metade promete. Por outro lado, dada a inevitabilidade do recurso à formação, creio que Vitória, ao não parecer suficientemente empenhado no processo, se baralhou por se lhe ter deparado tanta juventude boa de bola a querer mostrar serviço.
A humilhação na Liga dos Campeões só pode ser entendida à luz de total incompetência. No universo dos 32 participantes na fase de grupos da Liga dos Campeões o Benfica foi o pior. O descalabro prolongou-se por três meses, entre Setembro e Dezembro, em seis jornadas,e provocou danos irreparáveis em termos desportivos e financeiros, além da péssima imagem provocada no universo europeu.
Os adeptos teriam gostado de ver Vitória dar o peito às balas e assegurar que comportamento como este nunca mais. Penitenciar-se pelo prejuízo causado ao emblema e no normal desenvolvimento do seu projecto de crescimento.
Não senhor, em vez disso tentou varrer o lixo para debaixo do tapete como se nada de (muito) grave se tivesse passado. Assim sendo, admito eu, não tendo o treinador assumido a responsabilidade e não sendo ilimitada a capacidade de condescendência do presidente é natural que se não haver penta alguma coisa aconteça. É normal, não?...
PS1 - Sérgio Conceição, com um plantel curto e reconstruído com dispensados, segue na frente, marca mais golos e sofre menos, sem um lamento, mesmo quando se viu privado de dois dos seus três avançados. Na mesma semana marcou cinco ao Mónaco e mais cinco ao Vitória de Setúbal. Há alegria e confiança. Razão por que deve ser considerado o mais forte candidato ao título de campeão nacional.
PS2 - Convencido da sua esperteza, Jorge Jesus prometeu uma coisa e fez outra: importante era o jogo com o Boavista que começou a ser ganho em Barcelona. Fantástico. Dadas as circunstâncias, até eu, que não lhe acho graça, acreditei que o Sporting pudesse surpreender em Barcelona, triunfando. Mais uma vez, porém, Jesus mostrou ser bom treinador... para consumo interno. Nas grandes decisões bate à porta, mas não consegue entrar."
Fernando Guerra, in A Bola
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