"O primeiro encontro entre o Benfica e o Manchester United teve lugar em Old Trafford em Setembro de 1962. Encontro particular que terminou com um empate (2-2) graças a dois golos de Eusébio.
Vamos a Manchester no ano de 1962. Setembro, 24. Era a terceira vez que o Benfica jogava no Reino Unido. As duas anteriores tinham sido para a Taça dos Campeões Europeus, frente ao Hearts of Midlothian (vitória por 2-1) e no campo do Tottenham Hotspurs (derrota por 1-2).
Desta vez o jogo era amigável, como se dizia na altura. E o adversário o Manchester United, que, apesar de estar a fazer um campeonato medíocre, viera de Madrid com uma vitória brilhante face ao Real.
Embora entrando em campo com alguns suplentes, o Benfica não deixou dúvidas em Old Trafford em relação ao seu real valor.
O estádio estava praticamente à pinha: 60 mil pessoas, no mínimo.
UNITED - Gregg (depois Gaskel); Brenan, Dunne (Cantwell), Stiles e Foulkes; Lawton, Giles e Law; Quixall, Crisnall e MacMillan (Moir);
BENFICA - Barroca; Jacinto e Cruz; Cavém, Raul e Humberto; José Ausgusto (Augusto Silva), Eusébio, Águas (Torres), Coluna e Simões.
Os jogos entre Manchester United e Benfica tornar-se-iam clássicos europeus. Houve mesmo entre ambos uma final da Taça dos Campeões.
Mas, na altura, encontravam-se pela primeira vez.
Não alargo o 'suspense': a contenda acabou empatada - 2-2.
Dennis Law fez o 1-0 aos 36 minutos; Eusébio empatou no minuto seguinte; Quixall adiantou os ingleses, de 'penalty', aos 44 minutos; Eusébio fechou as contas aos 79 minutos.
Cavém e Coluna foram outros dos encarnados em destaque. Bem como Raul.
Eusébio - uma e outra vez
O Benfica lançou-se ao ataque desde cedo porque era assim a mentalidade dessa equipa Bicampeã da Europa. Foram vinte minutos de futebol encantador que entusiasmou o público inglês, sempre pronto a valorizar a qualidade do jogo, venha ela de onde vier.
Por isso, o golo de Law foi sentido como uma injustiça. E não o foi mais porque Eusébio tratou de empatar no minuto imediato, concluindo um lance típico dos seus com um remate indefensável.
Chegados aqui, a bola distribui-se mais equitativamente por um e outro campo.
Não fora a atrapalhação de Humberto, em cima do intervalo, que o levou a cometer um 'penalty' tão evidente como desnecessário, e o empate (mais do que justo) teria transitado para o segundo tempo.
Assim, saiu o Manchester em vantagem.
Cabia, então, ao Benfica puxar dos galões. Não esquecer que nesse tempo a equipa de encarnado com a águia no peito dominava o Continente. Ninguém voava mais alto do que ela. E também não foi neste jogo que isso aconteceu.
O jogo resplandeceu. De um lado e do outro movimentos correctos, bonitos, bem pensados. O Benfica atacava mais, não queria sair de Old Trafford derrotado, lutava pelos seus pergaminhos e pela sua honra como um cavalheiro num duelo. Golpes afinados falhavam por pouco o alvo da baliza de Gaskell, que entrara para o lugar de Gregg. Simões, na esquerda, baralhava os ingleses com dribles, José Augusto, na direita, insistia na sua velocidade, Coluna e Cavém apoiavam Eusébio e Águas de forma consistente.
Remates atrás de remates. Nem todos com pontaria certeira. Eusébio era rei do pontapé. Fortíssimo. Assustador. Mas infelizmente sem resultados práticos senão o de atemorizar a defesa contrária.
O jogo caminhava para o fim e parecia que o Manchester United iria obter uma vitória nada merecida.
Mas havia Eusébio. Havia sempre Eusébio!
Eusébio que recebe uma bola redonda, a preceito, que parece pedir-lhe que a chute. E ele chuta. Com força e colocação. É golo! É golo de Eusébio!
Os «Diabos Vermelhos» de Old Trafford rendem-se ao «Diabo Negro» que lhes impõe o empate a poucos minutos do fim.
Uma enorme ovação despede o Benfica.
Manchester recebeu-o com orgulho e despediu-se dele comorgulho
É assim com aqueles que são grandes..."
Afonso de Melo, in O Benfica
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