"Entre 1948 e 1953, o Benfica ganhou quatro finais consecutivas da Taça de Portugal. As três últimas da série foram impressionantes: Académica (5-1), Sporting (5-4) e FC Porto (5-0). Ei-las pela prosa de quem as presenciou.
Dia 10 de Junho de 1951
Estádio Nacional
Benfica, 5 - Académica, 1
(Golos de Rogério Pipi(4), Arsénio / Macedo)
Lisboa encheu-se de estudantes. Outra vez, dir-se-ia. Vinham no rastro da recordação da final de 1939, ganha precisamente ao Benfica. Só que tudo foi diferente. «Os lisboetas, homens das berrantes camisolas vermelhas levaram a melhor», declarou, solene, a imprensa. O chumbo marcou o registo em letras firmes: «Foram a melhor equipa, aceitando a luta em todos os sectores para onde os estudantes a quiseram levar. À energia responderam com energia. À vontade com vontade igual. E para forjarem um êxito que teve o sabor de uma desforra, utilizaram os seus melhores trunfos».
Diz, portanto, quem lá esteve, que não houve contestação ao mérito do Benfica. A primeira parte reflectiu algum equilíbrio, a despeito dos golos madrugadores de Arsénio e Rogério Pipi. Do lado dos rapazes de negro, há um homem pequeno que se agiganta, como sempre: Bentes, o doutor Bentes, o «rato atómico». Não chega.
Rogério é fagueiro, incontrolável nas fintas e nos golos. Quebra os últimos focos de resistência do Mondego logo no início do segundo tempo. Nem o enorme Mário Torres, na sua figura monumental de ébano, pode contra a finura do seu jogo.
Na época anterior, por via da disputa da Taça Latina em Lisboa, a Taça de Portugal não se disputara. EM 1948/49, o Benfica batera o Atlético na final (2-1). Francisco Ferreira ergue o troféu. É o segundo consecutivo para os 'encarnados'. Outros se seguiram.
Dia 15 de Junho de 1952
Estádio Nacional
Benfica, 5 - Sporting, 4
(Golos Rogério Pipi(3), Corona e Águas / Rola(2), Albano e Martins)
Diz-se que Rogério desmaiou de alegria quando, no último minuto do encontro, com um remate com algo de feliz que fez a bola roçar no poste antes de se aninhar nas redes do Sporting, desfez a igualdade e deu a terceira Taça de Portugal consecutiva ao Benfica. Logo ele que falhara um penálti aos 43 minutos, não conseguindo dessa forma a proeza extraordinária de marcar quatro golos em duas finais seguidas.
Vamos ao que se escreveu nesse dia glorioso de sol no Jamor: «O Benfica conquistou a Taça de Portugal na final mais rica que há memória, mas o grande triunfador era verdadeiramente o Futebol, tanto na expressão benfica (sic) como sportingue (sic) que nos deu a melhor final de todos os tempos! (...) A existência de nove golos indica uma partida pelo menos entretida, mas para além dos golos, alguns deles jóias de requintado labor, praticou-se Futebol rasteiro, rápido e desconcertante de perguntas e respostas: cientificamente organizado e não de acaso; Futebol de conjunto onde cabia a iniciativa individual».
O grande Tavares da Silva intitulava esta prosa de «A Apoteose do Jamor». E sublinhava: «A todos os títulos, a final da Taça de Portugal 1951/52 representou uma alta expressão do Futebol moderno, de uma velocidade outrora desconhecida e de movimentação sintonizada, com espaço suficiente para as manobras individuais, empenhando-se os jogadores exclusivamente nas boas normas do fair-play. O desafio teve interesse, graça, animação e ansiedade!».
E nova vitória do Benfica com Francisco Ferreira a levantar a sua última taça.
Mas ainda havia mais uma dose de cinco para ser servida...
Dia 28 de Junho de 1953
Estádio Nacional
Benfica, 5 - FC Porto, 0
(Golos de Arsénio(3), Rogério Pipi e Águas)
O Benfica já tinha batido o FC Porto (3-0) numa final do Campeonato de Portugal, em 1939/31. Agora exibira requintes de malvadez e iniciaria uma longa carreira de vitórias sobre os 'azuis-e-brancos' em finais da Taça de Portugal.
Voltemos a usar e abusar da prosa de quem assistiu ao vivo aos acontecimentos do que se desenrolou: «Se em vez de duas equipas de Futebol, mão caprichosa tivesse colocado ontem no recinto do Jamor em gato e um rato, o despique teria evoluído e terminado da mesmíssima maneira, salvo, evidentemente, o desfecho admissível que no caso dos inimigos figadais sacrificaria, naturalmente, a vida do mais fraco. (...) Tal como faria o felino, o Benfica dispôs como quis do adversário, um Futebol Clube do Porto que mau grado os esforços bem intencionados dos seus dirigentes chegou ao fim da época como começou. (...) Não é vulgar entre turmas do mesmo plano, embora uma em melhor forma do que a outra, surgir um resultado tão volumoso que não se preste a reticências. Mas a história dos cinco golos sem resposta impostos pelos encarnados aos 'azuis-e-brancos' é clara como a água cristalina. Sem favor, merece essa legenda: certíssima. E se o onze vencedor tivesse aproveitado todas as ocasiões que criou ou se lhe depararem para golo, e se também o motor da equipa tivesse funcionado após o intervalo com a mesma regularidade do primeiro tempo, a marca ficaria histórica sem grandes motivos para reparos».
Pois. Relatório de uma vitória sem rebuço, que já marcava 3-0 ao intervalo.
Francisco Ferreira despedira-se. É Fernandes, o novo «capitão», a levantar a taça.
Daí para cá, Benfica e FC Porto reencontraram-se mais sete vezes em finais da Taça de Portugal: seis vitórias 'encarnadas!'."
Afonso de Melo, in O Benfica
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