"À entrada para a década de 1930, Ribeiro dos Reis era vice-presidente do Benfica e treinador da equipa de futebol - mas encantado com o homem que levara o Vitória de Setúbal a campeão de... Lisboa, deu-lhe um dos cargos. Era o Arthur John, tinha sangue inglês, nascera na Áustria - e além de treinador era massagista, massagista continuou a ser nas Amoreiras. Presidente era Manuel da Conceição Afonso. Encadernador da Imprensa Nacional, anarca e sindacalista, vivia com a polícia política (que ainda não se chamava PIDE) à perna - ao ser eleito recebera 700 contos em dívidas. O preço médio dum automóvel andava pelos 18 contos - e menos de 18 contos gastava anualmente o Benfica em... «Assistência», que era a palavra hipócrita onde se escondia o dinheiro que se dava a jogadores e treinadores, por baixo da mesa, à sorrelfa.
Em dois anos, Arthur John ganhou dois Campeonatos de Portugal - e o Sporting desafiou-o a 16 contos por época em... «Assistência». Afonso, achando «obsceno» o montante, deixou-o ir - voltou Ribeiro dos Reis a treinador e de graça. (Para receber 16 contos um operário como o presidente do Benfica precisava de trabalhar pelo menos 2000 dias...). No Sporting, nada ganhou, criou um fantasma - o fantasma Arthur John - a atacar treinadores icónicos que, ganhando no Benfica, no Sporting não: Fernando Riera, Jimmy Hagan, Milorad Pavic... (Otto Glória foi campeão em 1966, mas com Juca a seu lado - 1962 o fantasma Arthur John trocara-lhe as voltas...).
É, Jorge Jesus no Sporting é mais do que um desafio ao futuro do Sporting - é um desafio à história do Sporting. E de duas uma: ou Jorge Jesus é o Pedroto do Sporting ou Bruno Carvalho não será o seu Pinto da Costa. (Aliás, só o será se Jesus matar esse fantasma Arthur John. Não o matando, Bruno Carvalho será talvez o D. Sebastião da Agustina que vaidoso como pote da leiteira do Gil Vicente, com a cabeça a arder de delírios e sonhos despenteados - incendiou, no seu próprio Alcácer Quibir, o Sporting...)."
António Simões, in A Bola
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